A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Querido Pai Natal

Eis que chega, cheio de luz e esperança, o Natal. Eis que chegam as luzinhas e os enfeites nos pinheirinhos, as prendas e os grandes e vistosos laçarotes coloridos. Eis que chega tudo isso, mais o stress que, estranhamente, nesta época se instala. No local onde me encontro, a corrida desenfreada aos shoppings não acontece (porque não os há) e as grandes avenidas iluminadas são uma amostra (porque as avenidas são pequenas). No entanto temos neve (ou, igualmente, uma amostra dela), temos frio e temos lareiras, elementos com um papel muito mais mágico e emotivo nesta altura do ano e, até principal em todos os filmes do Sozinho em Casa, por exemplo.
Mas apesar de estar refugiada numa região onde, aparentemente, a maior preocupação das pessoas é garantirem que têm o bacalhau e o polvo comprado com antecedência e a família previamente avisada para não virem com desculpas esfarrapadas e se ausentarem da consoada, a preocupação dos presentes, também já começa a ser notória e desgastante.
Queridos bloggers, eu adoro o Natal, mas se há coisa que me tira realmente do sério, é ter de pensar no que hei-de oferecer. Esta pressão de ter de ter prendas para todos e a tempo chateia-me solenemente, especialmente agora, em que não tenho desculpa nenhuma para chegar à meia-noite sem embrulhos com o meu nome no espaço dedicado ao remetente. Oferecer é bom, mas é quando não temos a obrigação de o fazer. Depois de se ter criado à volta da época natalícia o péssimo uso de esvaziar a carteira em prendas aparatosas e, muitas vezes, inúteis, retirou-se todo o profundo significado da celebração e, em fases como a que vivemos actualmente, em que a conjuntura económica não apela a gastos supérfluos, parece-me totalmente idiota a ideia de se gastar rios de dinheiro numa manifestação clara de superioridade familiar.

Portanto, soltai a franga natalícia sim, mas façam atenção aos abusos, porque o que conta ainda é a intenção (ou deveria ser). Sejam originais na hora de mostrar àqueles por quem a vossa existência parece ganhar mais sentido que, como qualquer outra, esta é uma boa altura para reforçar as certezas que é suposto eles terem quanto à vossa dedicação. Esquecei o FMI e o Sócrates na hora de comer o bacalhau, para que não vos caia mal, e tentai recuperar desta sociedade aparvalhada, mundana e egoísta a que estamos condenados, o verdadeiro sentido da união familiar e todas essas lamechices próprias do Natal...mesmo que isso implique regar a ceia de um bom vinho do Porto como digestivo e depois, quiçá, outra bebida qualquer de igual teor alcoólico.

E esta, caros amigos, é a minha mensagem de Natal.

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