A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Comentários às Sondagens das Legislativas

De acordo com o “Público” de ontem, o PSD lidera as intenções de voto para as legislativas de 5 de Junho. Dispõe agora o PSD de uma vantagem de quase 6 pontos sobre o PS. Entretanto, o JN de hoje revela outra sondagem em que PS e PSD aparecem exactamente com a mesma percentagem de intenções de voto – 36%. Nesta altura, o ímpeto está do lado do PSD; é cedo, no entanto, para garantir que a vitória do PSD está garantida. De qualquer forma, parece-nos que só um erro crasso do Sr. Passos Coelho ou um trunfo inesperado do Sr. Sócrates irão impedir a vitória do PSD. A vantagem será, no entanto, sempre curta: e continua a dúvida se será suficiente para um governo de maioria absoluta com o CDS. E por falar em CDS, para mim, o CDS é o partido que melhor se tem portado nesta campanha, procurando fazer um debate sério, sem polémicas; o único reparo que se lhe pode fazer é a profundidade do seu programa de governo.

O debate da passada sexta-feira entre o Sr. José Sócrates e o Sr. Passos Coelho foi equilibrado. Passos suplantou Sócrates nalguns aspectos do debate; Sócrates suplantou Passos em outras áreas. Ambos equivaleram-se. Mas a equivalência de ambos corre a favor do Sr. Passos Coelho: a imprensa, de forma unânime, previa o esmagamento do Sr. Passos Coelho. Ora, isso não aconteceu. Logo, para a imprensa o Sr. Passos Coelho saiu vencedor do debate. O equilíbrio verificado no debate favorece, sem dúvidas, o PSD. Mas não explica tudo. O PS para estas eleições, conta, efectivamente, com poucos argumentos. O seu programa eleitoral é tão bom, mas tão bom, mas tão bom, que o Sr. Engenheiro tudo o que faz é comentar o programa do PSD. A verdade é que o Sr. José Sócrates não pode comentar e defender o seu programa porque não o tem: as suas propostas resumem-se à defesa da saúde pública e da escola pública. Porque se deve defender a escola e a saúde pública? Porque sim, diz o Engenheiro. Nós também defendemos uma saúde e uma escola pública; mas quando questionam a autoridade da nossa posição, defendemo-la através de argumentos, não de dogmas. E o Sr. Sócrates deve ter um aspecto em atenção: a defesa da escola pública e da saúde pública, também o fazem o Sr. Jerónimo de Sousa e o Sr. Francisco Louçã. O que os distingue deles, pois? Este discurso, por um lado, coloca o PS nas suas raízes de esquerda, ainda que uma esquerda moderna; levado à exaustão, cansa. E é assim que surge agora o discurso do Secretário-Geral do PS: gasto e estafado. E os eleitores indecisos do centro, Sr. Sócrates? Como pretende V. Ex.ª convencer esses indecisos a votar PS? Pois...V. Ex.ª tem feito o discurso da esquerda – que lhe fica bem – mas esquece-se do centro. E meu caro amigo, V. Ex.ª já esgotou os votos que poderia obter do PCP e do BE visto que ambos estão bem abaixo dos resultados das últimas eleições. A quebra em relação às últimas sondagens não se explica à esquerda: explica-se ao centro: todos os votos estão a fugir para o PSD e não para o PS. Se esse discurso, aliado à irresponsabilidade do PSD na eclosão da crise política permitiu a aproximação do PS ao PSD nas sondagens, isso agora já não basta. É preciso convencer os portugueses da valia das propostas – e isso o PS não o pode fazer porque não tem propostas. Há dois anos atrás, a Sra. Manuela Ferreira Leite candidatou-se ao cargo de Primeiro-Ministro sem um programa de Governo, sem ideias: a votação dos portugueses castigou-a por isso. O Sr. Sócrates este ano comete o mesmo erro.

Mas como se isto não bastasse, a experiente máquina partidária socialista tem somado desastres atrás de desastres nos últimos dias de campanha. Primeiro foi o comício em Évora para o qual foram chamadas pessoas vindas de Lisboa, de Cascais, convenientemente transportadas em autocarros, para darem a aparência de grandiosidade ao comício: e isto tudo por troca de uma visita a Évora e de um lanche. Nada disto é novo: o mesmo já havia sucedido em Matosinhos aquando do congresso do PS. O Sr. José Sócrates terminava o seu discurso: o hino do PS dava os últimos acordes; em seguida, ecoaria a “Portuguesa”; e entretanto, dezenas de velhinhos acotovelam-se, espezinhando-se, junto das portas de saída, para se dirigirem aos autocarros que os levariam a casa. Depois – o episódio das nomeações. E ontem, num comício em Mangualde, um individuo que protestava contra o Sr. Sócrates foi insultado e maltratado pela máquina de campanha socialista, impedindo o Sr. De livremente expressar a opinião. E ainda no mesmo dia, a polémica em torno da despesa ocultada no primeiro trimestre da execução orçamental. O PSD tem controlado a agenda de debate da campanha; o PS limita-se a acompanhar.

2 comentários:

Nelson disse...

Chamo a atenção ao leitor que o Dr. Carlos, apesar de ainda não ter feito nenhuma declaração de intenções, trata o pm por "meu caro amigo", tratamento que nunca o vimos dispensar a outros líderes...

Anyway,

Dr. Carlos, o que se passou em Évora não foi igual ao que se passou em Matosinhos. Agora temos imigrantes (alguns a convite da embaixada de Moçambique!!!!!) a serem transportados nos debates...
Alguns não percebem português, todos vão pela comida e passeio e quantos terão direito de voto?
Num país civilizado isto era um escândalo não um fait-diver... É instrumentalizar pessoas...

Mas estamos felizes por constatar que, aparentemente, v.exa. não votará PS...

Carlos Jorge Mendes disse...

Meu caro amigo Lord, como V. Ex.ª bem sabe o tratamento de "meu caro amigo" apenas o dispenso àquelas pessoas com as quais partilho uma certa intimidade que se manifesta em cumprimentar familiarmente essa pessoa com uma palmadinha no rabo. A esta altura, o Lord está a pensar: o Dr. Carlos tratou-me inicialmente por "meu caro amigo"; e o Dr. Carlos informou publicamente que esse tratamento apenas o dispenso àqueles amigos íntimos que cumprimenta com uma palmadinha no rabo. Ora, segundo este raciocínio, agora toda a gente sabe que eu o cumprimento com uma palmadinha no rabo. Mas veja V. Ex.ª: foi o Doutor que me obrigou a tal ao questionar o tratamento familiar que eu dispenso ao Engenheiro Sócrates - porque eu também o cumprimento com uma palmadinha no rabo. E agora, graças a si, toda a gente sabe que eu o cumprimento com uma palmadinha no rabo. Porque ainda não chamei "meu caro amigo" ao Sr. Passos Coelho? Está visto que ainda não partilhámos aquele nível de intimidade que me permite dar-lhe uma palmadinha de amizade, sem que ocorra qualquer tipo de situação embaraçosa.

Quanto ao voto, meu caro amigo Lord, se o facto de eu lhe cumprimentar cordialmente com uma palmadinha no rabo deixou de ser segredo nosso, a minha orientação de voto continua a ser inviolável.