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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

BRIC – Capítulo II - Rússia

Neste segundo capítulo sobre os BRIC dedicámos a nossa atenção à Federação Russa, talvez o BRIC com mais problemas internos capazes de impedir a sua (re) ascensão como potência económica mundial. São vários, velhos e novos…






Desde logo temos o ambiente político nada democrático que existe naquele país – o que gera uma enorme instabilidade política. O amigo leitor decerto ainda se lembrará do caso da jornalista Anna Politovskaya, que sendo bastante incómoda para o regime foi encontrada morta em casa. E convém não esquecer que após o seu advogado ter dito que ela teria sido assassinada por motivos políticos, foi decidido que o julgamento seria à porta fechada. Tal situação é completamente inaceitável num Estado de Direito. Tal como são inaceitáveis as recentes restrições à liberdade de reunião e circulação de forma a silenciar a oposição. Também o poder judicial não é autónomo encontrando-se sob a directa influencia do poder político – nada mais é que um instrumento político (veja-se o caso Gazprom).


Depois existe o magno problema dos movimentos autonómicos e independentistas, do qual o mais mediático é a situação da Chechénia. Estas situações, para além de diminuírem a necessária paz social propiciadora do crescimento económico, envolvem elevados gastos militares. Ainda estão frescos na memória colectiva os atentados no metro de Moscovo… Tão fresca não estará a agressão brutal do exército russo contra os civis chechenos, mas a Historia é feita pelos vencedores… Um país com regiões separatistas e instáveis não parece estar em condições para ser uma potência mundial.
E os gastos com aqueles militares representam também um outro problema dado que, anualmente, 60 mil milhões de dólares do orçamento da empobrecida Federação Russa são canalizados para um exército demasiado grande e obsoleto. Uma economia ou produz armas ou manteiga (como se ensina nas cadeiras de economia) …
Em quarto lugar – e note o leitor que esta ordenação é arbitrária – temos os problemas sociais. A sociedade russa é uma sociedade desestruturada, com uma elevada incidência de alcoolismo…. Há um enorme problema habitacional (inúmeros blocos de apartamentos soviéticos em condições bastante más) e bastante empobrecida. Os quadros técnicos mais bem qualificados tendem a sair do país à procura de paragens mais verdes,
Todas estas situações vão propiciar um atraso estrutural no tecido produtivo russo ainda débil devido às privatizações mal feitas, tornando-o exportador sobretudo de matérias-primas (hidrocarbonetos e gás natural) e não de produtos manufacturados, em princípio mais rentáveis.
E este atraso produtivo dificilmente será ultrapassado através de uma burguesia emprendedora – classe quase inexistente na Rússia, muito por causa dos 80 anos de ditadura socialista.
A somar a tudo isso temos uma generalizada má imagem internacional da nação russa. Se o amigo leitor se deslocar ao leste europeu encontrará um (compreensível) sentimento anti-russo, desde a Polónia à Geórgia. E durante o consulado de Putin esta imagem degradou-se. Este factor não deve ser negligenciado nos nossos dias – muitos consumidores há que evitam comprar produtos oriundos de países ou criados a partir de processos que não aprovam. Veja-se aqui o caso do movimento Comércio Justo que, paulatinamente, tem vindo a ganhar adeptos.

Pode pois concluir-se que deste grupo de 4 países a Rússia é a que tem maiores dificuldades para superar caso pretenda afirmar-se como a potência económica em 2050, uma vez que não tem grande capacidade de atracção de investimento estrangeiro, tem um tecido produtivo degradado e não possui uma burguesia dinâmica. Não é uma missão impossível… Mas será certamente muito difícil, ainda para mais atendendo à linha que tem sido seguida pelo anterior e actual executivo.

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