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domingo, 21 de novembro de 2010

A Cimeira da Nato, os tristes e a Shakira

A Cimeira da Nato em Portugal já deu as últimas de si. Foram longas horas de reuniões, de conversações, de jantares e de trocas de palavras entre os Chefes de Estado de mais de sessenta países pertencentes a esta organização.

Lisboa parou. Não obviamente para ver passar Obama e o seu cão-de-água com uma costela portuguesa, mas porque foi concedida tolerância de ponto na passada sexta-feira, dia 19. Com receio de que a segurança e até a vida dos alfacinhas corressem perigo, todos puderam ficar em casa, em jeito de fim-de-semana prolongado. Mas nem todos puderam gozar desta benesse. Os funcionários da Câmara Municipal de Lisboa, por ordem do Sr. Presidente António Costa, lá tiveram que se apresentar ao serviço, porquanto a CML tem sempre muito que fazer e os índices de produtividade não podem diminuir, sobretudo numa época como a actual em que se impõem sacrifícios como o de pôr em risco a vidinha em prol do serviço público (não contem nada a ninguém mas, a meu ver, houve um arrufo de melhores amigos e o António Costa quis mostrar ao Sócrates que quem manda no seu palácio, leia-se, Câmara, é o Costa!).

Mas não pensemos que foram apenas os afincados trabalhadores da CML que não puderam regozijar-se com a tão bem-vinda ponte. Todos os portugueses que não os lisboetas também ficaram tristes com a Cimeira, questionando-se acerca da verdadeira importância do evento. Ora o facto da Cimeira da Nato se realizar pela primeira vez em Portugal não deveria conduzir ao decretamento de tolerância de ponto em todo o território nacional? Então por que motivo é que apenas foi concedida tolerância na capital? Pessoalmente, fiquei bastante triste, porque, caso me fosse permitida a ponte, eu juro pelos meus cabelos ruivos que teria ficado em casa, com uma mantinha que este frio não se aguenta, a seguir pela tv cada palavrinha proferida pela Angela Merkel ou pelo Sarkozy.

Os fãs dos Arcade Fire, conhecida banda canadense, também soluçaram muito quando souberam que o concerto agendado para a passada sexta-feira, que tanto ansiavam há mais de um ano, foi adiado sine dia. E tudo por causa da Cimeira!

Outros tristes da Cimeira foram os milhares de portugueses que, habituados, graças ao Acordo de Schengen, a poderem circular livremente entre Portugal e o resto da União Europeia, se depararam com filas intermináveis nos últimos dias junto às fronteiras, de modo a que as forças policiais e de segurança pudessem fiscalizar todos quantos as quisessem transpor.

No entanto, o mais triste da Cimeira foi Sua Excelência o Sr. Presidente da República, Cavaco Silva. E perguntais vós porquê, Caríssimos Leitores. E perguntais bem. Em reuniões faustosas como esta, é habitual os Chefes de Estado trocarem entre si presentes. E a Cimeira da Nato não constituiu excepção. Nós, portugueses, como sempre querendo mostrar aos demais que somos óptimos anfitriões e pretendendo mostrar o que de melhor tem a nossa santa terrinha, vai de oferecer ao mui nobre Presidente dos EUA, Barack Obama, mil e uma coisas, como sejam uma garrafa de vinho do Porto Vintage "Quinta do Noval" de 2008, ano em que Obama foi eleito, um decantador em cristal desenhado por Siza Vieira, uma escultura em bronze representado o cão de água, entre outras prendas. Pois bem, a cavalo dado não se olha o dente, mas o que é que os EUA nos ofereceram, Caríssimos? Nada mais, nada menos que uma cópia (atentai bem, uma cópia!) do primeiro tratado outorgado entre Portugal e os EUA, o Tratado de Comércio e de Navegação, celebrado em 1840. Qual vai ser o destino desta fotocópia? Pois eu não sei. Mas se a destinatária do presente fosse a minha pessoa, eu bem sabia qual o rumo que lhe iria dar...

Pelo menos, a Shakira, cantora que actua hoje à noite no Pavilhão Atlântico, lá conseguiu manter o seu milionésimo concerto em Portugal, mesmo quando já prenunciavam que este evento também conheceria adiamento por causa da Cimeira. Não sei como será possível encher tal pavilhão quando já estamos fartinhos de a ter por cá. Falta de originalidade? Falta de melhor oferta? Em tempos de crise, vale tudo. Como diria o outro, é uma tristeza!

A vida está má, está! Até para os marqueses!

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