Incontornavelmente, o espaço mediático português continua dominado pela incerteza – mas esse FMI vem ou não? O sim parece voltar a ganhar vantagem na medida em que os juros da dívida pública portuguesa a 10 anos atingiram hoje máximos históricos, rondando os 7%. A novidade de toda esta situação é que esta subida já não é provocada internamente – isto é, a verdadeira originalidade é que não é Portugal a fazer borrada e a cavar a sua sepultura. Por isso, caros portugueses, rejubilemos – o monopólio da estupidez não é nosso! Por essa Europa fora há mais estúpidos!
Mais uma vez – ignoremos as nossas responsabilidades pela presente situação que foram já alongadamente esmiuçadas. Qual é o factor que vem causando a progressiva subida dos juros da dívida pública portuguesa – já para não falar da Irlanda, da Espanha e da Itália? Nada mais, nada menos do que a Europa. Tendências masoquistas à parte, discutamos o cerne das questões: a Alemanha, por intermédio da Sra. Merkel, em período ainda de dificuldades de estabilidade na zona euro, pretende rever as regras sobre o mecanismo de actuação de crise em caso de países incumpridores recorrerem ao Fundo de Estabilização Europeu. De uma forma simples, a Alemanha, em conluio com a França, pretende que, no futuro, os investidores que emprestam dinheiro a estes países assumam o risco dos seus empréstimos: caso haja incumprimento, os investidores arriscam perder parte do dinheiro. O objectivo é que haja uma maior responsabilização dos investidores, dos credores destes países, e menor responsabilização subsidiária dos países europeus – como a Alemanha – em caso de incumprimento. Consequência desta medida? O desastre a que estamos a assistir. A ideia, em si mesma, não é má, e diríamos que será inevitável – tem em vista uma maior responsabilização dos investidores que emprestam dinheiro a Estados fortemente endividados. A Alemanha consegue bloquear o recurso a níveis perigosamente elevados de endividamento dos países periféricos por outra via que não a aplicação de sanções – nomeadamente, a suspensão do direito de voto – em caso de violação do Pacto de Estabilidade e Crescimento: para isso atacou o mal pela origem: em vez de restringir a acção dos Estados, restringe a acção dos próprios financiadores. E nada pior para um investidor quando este sente os dedos de uma mão alheia a roçarem na sua algibeira. Mas, como dizíamos, a ideia, apesar de não ser má, não pode ser dissociada da conjectura. Há ideias cujo mérito não necessita da conjectura para serem avaliadas e aplaudidas; mas este não é o caso: a aplicação desta medida, nesta conjectura, é trágica. A aplicação desta medida, nesta conjectura, afecta toda a estabilidade da zona euro, ainda debilmente assente – não são só Portugal e Irlanda em causa: ou melhor poderá ser assim no imediato, mas no futuro, Espanha e Itália podem ser tragadas pelo receio dos mercados. Ora, a afectação da estabilidade da zona euro é uma preocupação alemã – como o afirma o próprio Ministro das Finanças alemão, o Sr. Schauble, em entrevista à Der Spiegel.
Assim sendo, torna-se difícil compreender qual o efectivo mérito de uma medida que abala violentamente a estabilidade da zona euro, estabilidade essa que a Alemanha pretende defender e que assume como sendo vital para os seus próprios interesses. Mas mais do que isso, esta medida volta a pôr em evidência os velhos conflitos e diferenças europeias: como obter a solução ideal para a zona euro no seu conjunto, se os seus membros continuam, individualmente, egoisticamente, narcisistamente, a pensar apenas no seu umbigo? Julgávamos que a Alemanha tinha aprendido há uns meses atrás a sua lição com a situação grega. Certamente que não será justo que a probidade e o rigor alemão suportem o esbanjamento português – mas repare o atento leitor: nós não aduzimos argumentos em defesa da Pátria, mas sim em defesa da estabilidade do projecto europeu.
Por fim, umas palavras para o nosso Lord. Pois é assim que se sente alguém quando coloca uma bola vermelha sobre o nariz, pinta as faces, berra umas quantas chalaças para divertimento da turba, para que esta lhe aponte o dedo jocoso, chasqueando? Conhecemos finalmente essa sensação – e que terrível sensação! Eis-nos com a bola vermelha sobre o nariz, com as faces pintadas, berrando chalaças para o divertimento de Lord Nelson! E logo corre ele a apontar-nos o dedo jocoso, chasqueando! De facto, o Oráculo de Delfos não foi honesto connosco. Esse vate salafrário – nem ele próprio foi capaz de prever as alterações que o jornal «A Bola» certeiramente, na segunda-feira, designava com o bel epíteto de «O Mestre da Invenção». E eis-nos então afectados na nossa virilidade. Sim! Porque isto de levar 5-0 do Porto é como a nossa namorada, acercar-se de nós e dizer:
- És corno!
E eis-nos, portanto, ainda hoje, coçando a testa! Por outro lado, notamos, com um certo esgar de felicidade, que enquanto chorávamos sozinhos no nosso canto – Lord Nelson tomo a iniciativa de vir ter connosco. Tudo isto seria natural – não se tratasse a instituição Lord Nelson de uma instituição…salgueirista! Faltando a V. Ex.ª o orgulho de reclamar vitória na argumentação política, económica, filosófica ou social – aí vem V. Ex.ª, veloz e cheio de veia, com o cachecol do Porto ao pescoço, reclamar vitória no campo futebolístico. Piedosamente, consentir-lhe-ei, essa sua consolação
Mais uma vez – ignoremos as nossas responsabilidades pela presente situação que foram já alongadamente esmiuçadas. Qual é o factor que vem causando a progressiva subida dos juros da dívida pública portuguesa – já para não falar da Irlanda, da Espanha e da Itália? Nada mais, nada menos do que a Europa. Tendências masoquistas à parte, discutamos o cerne das questões: a Alemanha, por intermédio da Sra. Merkel, em período ainda de dificuldades de estabilidade na zona euro, pretende rever as regras sobre o mecanismo de actuação de crise em caso de países incumpridores recorrerem ao Fundo de Estabilização Europeu. De uma forma simples, a Alemanha, em conluio com a França, pretende que, no futuro, os investidores que emprestam dinheiro a estes países assumam o risco dos seus empréstimos: caso haja incumprimento, os investidores arriscam perder parte do dinheiro. O objectivo é que haja uma maior responsabilização dos investidores, dos credores destes países, e menor responsabilização subsidiária dos países europeus – como a Alemanha – em caso de incumprimento. Consequência desta medida? O desastre a que estamos a assistir. A ideia, em si mesma, não é má, e diríamos que será inevitável – tem em vista uma maior responsabilização dos investidores que emprestam dinheiro a Estados fortemente endividados. A Alemanha consegue bloquear o recurso a níveis perigosamente elevados de endividamento dos países periféricos por outra via que não a aplicação de sanções – nomeadamente, a suspensão do direito de voto – em caso de violação do Pacto de Estabilidade e Crescimento: para isso atacou o mal pela origem: em vez de restringir a acção dos Estados, restringe a acção dos próprios financiadores. E nada pior para um investidor quando este sente os dedos de uma mão alheia a roçarem na sua algibeira. Mas, como dizíamos, a ideia, apesar de não ser má, não pode ser dissociada da conjectura. Há ideias cujo mérito não necessita da conjectura para serem avaliadas e aplaudidas; mas este não é o caso: a aplicação desta medida, nesta conjectura, é trágica. A aplicação desta medida, nesta conjectura, afecta toda a estabilidade da zona euro, ainda debilmente assente – não são só Portugal e Irlanda em causa: ou melhor poderá ser assim no imediato, mas no futuro, Espanha e Itália podem ser tragadas pelo receio dos mercados. Ora, a afectação da estabilidade da zona euro é uma preocupação alemã – como o afirma o próprio Ministro das Finanças alemão, o Sr. Schauble, em entrevista à Der Spiegel.
Assim sendo, torna-se difícil compreender qual o efectivo mérito de uma medida que abala violentamente a estabilidade da zona euro, estabilidade essa que a Alemanha pretende defender e que assume como sendo vital para os seus próprios interesses. Mas mais do que isso, esta medida volta a pôr em evidência os velhos conflitos e diferenças europeias: como obter a solução ideal para a zona euro no seu conjunto, se os seus membros continuam, individualmente, egoisticamente, narcisistamente, a pensar apenas no seu umbigo? Julgávamos que a Alemanha tinha aprendido há uns meses atrás a sua lição com a situação grega. Certamente que não será justo que a probidade e o rigor alemão suportem o esbanjamento português – mas repare o atento leitor: nós não aduzimos argumentos em defesa da Pátria, mas sim em defesa da estabilidade do projecto europeu.
Por fim, umas palavras para o nosso Lord. Pois é assim que se sente alguém quando coloca uma bola vermelha sobre o nariz, pinta as faces, berra umas quantas chalaças para divertimento da turba, para que esta lhe aponte o dedo jocoso, chasqueando? Conhecemos finalmente essa sensação – e que terrível sensação! Eis-nos com a bola vermelha sobre o nariz, com as faces pintadas, berrando chalaças para o divertimento de Lord Nelson! E logo corre ele a apontar-nos o dedo jocoso, chasqueando! De facto, o Oráculo de Delfos não foi honesto connosco. Esse vate salafrário – nem ele próprio foi capaz de prever as alterações que o jornal «A Bola» certeiramente, na segunda-feira, designava com o bel epíteto de «O Mestre da Invenção». E eis-nos então afectados na nossa virilidade. Sim! Porque isto de levar 5-0 do Porto é como a nossa namorada, acercar-se de nós e dizer:
- És corno!
E eis-nos, portanto, ainda hoje, coçando a testa! Por outro lado, notamos, com um certo esgar de felicidade, que enquanto chorávamos sozinhos no nosso canto – Lord Nelson tomo a iniciativa de vir ter connosco. Tudo isto seria natural – não se tratasse a instituição Lord Nelson de uma instituição…salgueirista! Faltando a V. Ex.ª o orgulho de reclamar vitória na argumentação política, económica, filosófica ou social – aí vem V. Ex.ª, veloz e cheio de veia, com o cachecol do Porto ao pescoço, reclamar vitória no campo futebolístico. Piedosamente, consentir-lhe-ei, essa sua consolação
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