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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Coreias




Na Segunda Guerra Mundial forjaram-se, para derrotar o III Reich, alianças improváveis. Uma delas, talvez a mais conhecida, juntou as democracias ocidentais com o império soviético.

Já no final da Guerra, em Ialta, percebeu-se que seria muito difícil a convivência pacífica entre as duas maiores potências pelo que se definiram “áreas de influência” para cada bloco, estando à vista a morte do regime Nazi – nada mais foi que Tordesilhas revisitado. Dividia-se a Alemanha e traía-se a Polónia (que foi quem a Inglaterra e França procuraram defender ao declarar guerra em 1939 – coisas da realpolitik).

À distância de um mundo, no Pacífico, o Japão ainda aguentava, mas depois de duas bombas atómicas rendeu-se. O Oriente conheceu então dois novos senhores – URSS e EUA. Estes, fizeram a mesma coisa que se tinha assistido na Europa: delimitaram zonas de influência.
Ora foi neste processo que a Península da Coreia, que tinha estado há várias décadas sob dominação japonesa, foi dividida – o Sul democrático; o Norte marxista.
Porém, como se tratava de um país lá longe que os Ocidentais podiam não se interessar o norte marxista, com o auxílio soviético e chinês lançou uma ofensiva sobre a Coreia do Sul logo em 1950. A Guerra começou mal (para o Sul), mas acabou até bem, mantendo-se o status quo ante bello. O paralelo 38 voltou a servir de fronteira entre os dois regimes e não houve nenhuma escalada internacional que precipitasse a terceira guerra mundial.

A bem dizer nunca acabou porque o que desde 1953 existe é um cessar-fogo. Oficialmente os dois países continuam com a guerra declarada. E eis que chegamos a 2010 e uma coisa curiosa acontece (aconteceu hoje mesmo) – a Coreia do Norte atacou a Coreia do Sul.

Mas a conjuntura internacional é distinta – enquanto no Sul temos uma nação rica e democrática, apoiada pela generalidade da comunidade internacional, no Norte temos um regime dominado pela ideologia Juche, uma mutação marxista, e propriedade privada do amado líder Kim Jong Il, ao que parece gravemente doente e quase a vagar o lugar para o seu filho.

Na semana passada foram notícia purgas nas cúpulas do regime já para assegurar a sucessão ao filho do amado líder e neto de um também amado líder. Hoje assistimos a um bombardeamento norte-coreano da ilha de Yeonpyeong, na Coreia do Sul, que causou dois mortos e 18 feridos.
A Coreia do Norte de 2010 já não constitui o problema que era em 1950 – agora não tem o apoio Soviético e a República Popular da China (o único país que tem uma missão diplomática daquele Estado) dificilmente se envolverá num conflito em defesa dos interesses norte-coreanos – a China para crescer depende do Ocidente e tem já problemas seus como o Tibete e Taiwan.
Isolada na comunidade internacional a Coreia do Norte não deverá avançar para um conflito bélico quase suicida – e esta pode ser uma oportunidade de ouro para forçar o regime a abrir: ocupado na sucessão, com purgas internas, sem apoios… Pena é que a Casa Branca não tenha sido mais enérgica na condenação dos ataques.
Esperamos também a reacção doméstica, daquela esquerda sempre disposta a malhar nos terroistas americanos.

Vamos a ver o que dá… E em Janeiro Portugal vai estar no Conselho de Segurança da ONU!

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