Agora sim, o post prometido:
Com o final da Guerra Fria em 1991 poderia parecer que a NATO teria os dias contados – sem um inimigo vermelho (o Pacto de Varsóvia) perderia a sua raison d’être. Mas cedo se provaria que não seria esse o caso, sendo a intervenção na Ex-Jugoslávia o afastamento do toque de finados. A Aliança sonhou mesmo em ser, nos anos 90, o braço armado da única super-potência mundial, chamando a si a função de polícia do mundo.
E eis que a NATO chega ao Século XXI, ao ano de 2010 e à cidade de Lisboa. Nesta cimeira certamente o dossier Irão está em cima da mesa. Mas a NATO também é Turquia, o único país com maioria muçulmana da aliança… E na Turquia o executivo de Erdogan é claramente pró-islâmico e mantém boas relações com o Irão. Ora qualquer tentativa de defesa terá necessariamente de envolver a Turquia (note-se que há o projecto de instalar radares em território turco para monitorar o que anda a preparar Teerão) e qualquer condenação do regime iraniano terá de ser assinada por todos, também pela Turquia. Coloca-se pois a questão de saber como irá Ancara gerir todas estas sensibilidades.
Haverá compreensão com a Turquia – a nossa ponte para o mundo islâmico? Ou Obama insistirá numa posição inflexível de condenação do Irão para tentar obviar os efeitos do Tea Party no seu país?
Menos vitalidade tem a ideia da NATO unipolar como polícia do mundo. A Rússia, apesar dos inúmeros problemas que tem, não aceita ser um small player na cena internacional – de facto, Medvedev afirmou (e com a guerra da Geórgia de 2008 com muita força) o direito ao controlo sobre o “estrangeiro próximo”, expressão politicamente correcta para definir o neo-imperialismo russo.
Medvedev já conseguiu aproximar-se da NATO em pé de igualdade – começou com a cooperação no Afeganistão e vem agora a Lisboa cimentar as relações cordiais (com menos de 1 ano) com a Aliança e tentar uma reformulação na instalação do escudo anti-mísseis no Leste Europeu – causa de atrito nas relações com aquele Estado.
Talvez fruto da doutrina Bush, o poderio militar da aliança está disperso em duas frentes de combate – e cada vez mais fragilizado junto das opiniões públicas e publicadas. Isto, juntamente com a crise que atingiu em cheio o Ocidente, polarizaram os centros de decisão, numa miríade que já não se via desde antes da Guerra Fria. A NATO já não é polícia – volta à função de pacto de protecção mútua, plasmada no artigo 5.º do seu Tratado fundador.
Antes de terminar – quão parolo é marcar uma tolerância de ponto para desobstruir o Parque das Nações? Sinceramente…
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