Numa altura em que faltam pouco menos de dois meses para as presidenciais, julgamos oportuno tratar este tema agora. Até porque à medida que se vai aproximando o dia do escrutínio, o debate tende a pender para a estupidez. Excepção feita aos debates televisivos, normalmente, as acções de campanha são um somatório de nadas.
E que dizer, pois então, destas eleições presidenciais? Há pouco a dizer, de facto, a não ser que tratar-se-ão de um longo e contínuo bocejo sem história, com o vencedor claramente definido à entrada para o combate – Cavaco Silva. Aqui recuamos um pouco no tempo para nos pronunciarmos sobre Manuel Alegre. Julgávamos nós no passado, há uns meses, que esta eleição não era garantida para Cavaco. Com efeito, havia o problema do casamento homossexual e a tensão com a direita mais conservadora, surgindo o espectro de um novo candidato à direita que lhe fosse capaz de retirar os votos da direita mais religiosa. Porém, o putativo candidato Ribeiro e Castro nunca reuniu o apoio do CDS, já reservado ao Prof. Cavaco Silva e evitou comparecer a um combate inútil e, com certeza, humilhante. Este facto aliado à indisponibilidade de Bagão Félix – este sim poderia contar com o apoio do CDS – resolveu o problema da direita mais conservadora. Mas restava ainda o facto de Cavaco ser o presidente em exercício que, nas vésperas de uma recandidatura, reunia a mais baixa taxa de aprovação de todos os Presidentes, algo que seriamente perigava a sua vitória à primeira volta. Lembramos os célebres episódios do Estatuto dos Açores ou das escutas a Belém. Cavaco soube, no entanto, aproveitar a ocasião que lhe era mais propicia para solidificar a sua posição nas sondagens: a crise orçamental e os respectivos diferendos entre PS e PSD. Isto permitiu-lhe recuperar popularidade e credibilidade e usufruir da maior vantagem de que ele dispõe: o correcto exercício das suas funções. A boa gestão da crise orçamental de Cavaco contrapõe-se à desastrosa gestão de Manuel Alegre. Na verdade, havíamos dito no passado que o problema de Alegre seria conquistar o centro do eleitorado e no centro residiria a chave da vitória desta eleição. Manuel Alegre apresentava uma desvantagem neste âmbito para Cavaco: é que o centro, naturalmente, lhe pertencia, uma vez que o actual Presidente é ideologicamente mais identificado com o centro do que Alegre. Ora, sabendo de antemão, isso Alegre teria de aproveitar melhor o período da crise orçamental para convencer os eleitores do centro. E que aconteceu com Alegre? Ora sua excelência foi sonegar os slogans do Sr. Francisco Lopes e atacou especuladores e grandes grupos financeiros. Não pode, V. Ex., não pode!
Uma sucessão de tropeções explica o actual estado definitivo das coisas. A verdade é que Alegre representa mais o sector da extrema-esquerda e um sector antiquado da velha esquerda do PS. Os votos da extrema-esquerda valem-lhe 20% e os da velha guarda do PS os restantes. Mas a grande maioria dos militantes socialistas, posicionando-se no centro-esquerda estão a fugir para Cavaco ou para lado nenhum, refugiando-se no voto em branco ou na abstenção. A união da esquerda – PS, PCP e BE – em torno duma eleição legislativa ou presidencial é inviável devido à clivagem ideológica que separa um PS moderado de um PCP e de um BE sectários. Poderá acontecer numa eleição autárquica, como seria desejável que tivesse acontecido nas últimas eleições para a CM de Lisboa, em que a ideologia não é tão grandemente convocada a desempenhar um papel. Numa eleição presidencial porém, tal não é possível em que o candidato é chamado a pronunciar-se sobre as questões do País, não obstante o poder executivo possuir ao Governo.
Errou, portanto, o PS ao escolher Manuel Alegre? Nisso mantemos a nossa opinião – e dizemos que não. A antecipação de Manuel Alegre ao PS inviabilizou o aparecimento de uma outra candidatura à esquerda pelo que não havia alternativa. O que restará ao PS fazer é limitar as perdas – e isso ele já o vem, discretamente, fazendo. Basta estar atento à inexistente campanha de Alegre que se resume ao seu MIC e ao BE. A intenção é que a derrota nas Presidenciais seja encarada como uma derrota pessoal de Alegre e não uma derrota do PS.
Por fim, apenas um desejo – esperamos que a vitória de Cavaco não seja o prenúncio do inicio de um período de instabilidade governativa, como origem em Belém, totalmente inconciliável com os objectivos de execução orçamental do próximo ano.
E que dizer, pois então, destas eleições presidenciais? Há pouco a dizer, de facto, a não ser que tratar-se-ão de um longo e contínuo bocejo sem história, com o vencedor claramente definido à entrada para o combate – Cavaco Silva. Aqui recuamos um pouco no tempo para nos pronunciarmos sobre Manuel Alegre. Julgávamos nós no passado, há uns meses, que esta eleição não era garantida para Cavaco. Com efeito, havia o problema do casamento homossexual e a tensão com a direita mais conservadora, surgindo o espectro de um novo candidato à direita que lhe fosse capaz de retirar os votos da direita mais religiosa. Porém, o putativo candidato Ribeiro e Castro nunca reuniu o apoio do CDS, já reservado ao Prof. Cavaco Silva e evitou comparecer a um combate inútil e, com certeza, humilhante. Este facto aliado à indisponibilidade de Bagão Félix – este sim poderia contar com o apoio do CDS – resolveu o problema da direita mais conservadora. Mas restava ainda o facto de Cavaco ser o presidente em exercício que, nas vésperas de uma recandidatura, reunia a mais baixa taxa de aprovação de todos os Presidentes, algo que seriamente perigava a sua vitória à primeira volta. Lembramos os célebres episódios do Estatuto dos Açores ou das escutas a Belém. Cavaco soube, no entanto, aproveitar a ocasião que lhe era mais propicia para solidificar a sua posição nas sondagens: a crise orçamental e os respectivos diferendos entre PS e PSD. Isto permitiu-lhe recuperar popularidade e credibilidade e usufruir da maior vantagem de que ele dispõe: o correcto exercício das suas funções. A boa gestão da crise orçamental de Cavaco contrapõe-se à desastrosa gestão de Manuel Alegre. Na verdade, havíamos dito no passado que o problema de Alegre seria conquistar o centro do eleitorado e no centro residiria a chave da vitória desta eleição. Manuel Alegre apresentava uma desvantagem neste âmbito para Cavaco: é que o centro, naturalmente, lhe pertencia, uma vez que o actual Presidente é ideologicamente mais identificado com o centro do que Alegre. Ora, sabendo de antemão, isso Alegre teria de aproveitar melhor o período da crise orçamental para convencer os eleitores do centro. E que aconteceu com Alegre? Ora sua excelência foi sonegar os slogans do Sr. Francisco Lopes e atacou especuladores e grandes grupos financeiros. Não pode, V. Ex., não pode!
Uma sucessão de tropeções explica o actual estado definitivo das coisas. A verdade é que Alegre representa mais o sector da extrema-esquerda e um sector antiquado da velha esquerda do PS. Os votos da extrema-esquerda valem-lhe 20% e os da velha guarda do PS os restantes. Mas a grande maioria dos militantes socialistas, posicionando-se no centro-esquerda estão a fugir para Cavaco ou para lado nenhum, refugiando-se no voto em branco ou na abstenção. A união da esquerda – PS, PCP e BE – em torno duma eleição legislativa ou presidencial é inviável devido à clivagem ideológica que separa um PS moderado de um PCP e de um BE sectários. Poderá acontecer numa eleição autárquica, como seria desejável que tivesse acontecido nas últimas eleições para a CM de Lisboa, em que a ideologia não é tão grandemente convocada a desempenhar um papel. Numa eleição presidencial porém, tal não é possível em que o candidato é chamado a pronunciar-se sobre as questões do País, não obstante o poder executivo possuir ao Governo.
Errou, portanto, o PS ao escolher Manuel Alegre? Nisso mantemos a nossa opinião – e dizemos que não. A antecipação de Manuel Alegre ao PS inviabilizou o aparecimento de uma outra candidatura à esquerda pelo que não havia alternativa. O que restará ao PS fazer é limitar as perdas – e isso ele já o vem, discretamente, fazendo. Basta estar atento à inexistente campanha de Alegre que se resume ao seu MIC e ao BE. A intenção é que a derrota nas Presidenciais seja encarada como uma derrota pessoal de Alegre e não uma derrota do PS.
Por fim, apenas um desejo – esperamos que a vitória de Cavaco não seja o prenúncio do inicio de um período de instabilidade governativa, como origem em Belém, totalmente inconciliável com os objectivos de execução orçamental do próximo ano.
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