Depois das revoltas tunisina e egípcia e da contestação no Iémen e Bahrein, chegou agora a hora da Líbia.
O regime de Kadafi enfrenta agora as maiores contestações da sua história, estando agora dependente do exército para garantir a sua sobrevivência.
Convenhamos que em política internacional os Estados, pelo menos os do nosso espaço, devem mover-se pelo interesse próprio e não por orientações morais dos titulares dos cargos públicos. O politicamente correcto tem invadido a agenda dos políticos ocidentais, desde os tempos da Palestina: mas não esqueçamos que o mandato que os cidadãos conferem aos políticos tem por base a ideia de assegurar o bem comum, o nosso bem comum, a nossa Commonwealth.
Não somos indiferentes ao sofrimento dos povos: no entanto, julgamos que as posições moralizadoras dos nossos representantes podem ser bastante contra-producentes. Da Líbia chega quase cerca de 15% do nosso (nosso, porque o compramos) petróleo, commodity que anda bastante encarecida (até devido à roubalheira da indexação dos preços ao índice Platts), e uma perturbação na extracção leva quase de imediato à escalada do preço dos combustíveis, como se pode ver aqui.
Tanto os governantes, como os opinion makers devem lembrar-se que o que se passa na Líbia vai afectar-nos directamente, pelo que devemos ser muito contidos na demonstração de qualquer apoio, quer aos manifestantes quer ao regime e sobretudo resistir à tentação de nos arvorarmos em defensores da moral e bons costumes.
Antes de terminar, apesar de o discurso que por aí anda falar em ventos democráticos e em revoluções do povo, gostaríamos de lançar as seguintes questões:
- Porque motivo estes revoltosos (em especial no caso líbio) esperam, antes de tentar derrubar o regime, do nihil obstat dos seus lideres religiosos?
- Já reparou o leitor que certas organizações terroristas andam demasiado silenciosas, e que os líderes derrubados (Ben-Ali e Mubarak) ou em queda (Ali Abdullah Saleh e agora Kadafi) são ou eram importantes aliados ocidentais? Não acha isto estranho? Todos aqueles líderes colaboravam com o “Grande Satã”: Ben Ali tinha cordiais relações com a U.E. e a internacional socialista, tendo tido um relevante papel na recepção e controlo de dirigentes do Hamas, na década de 80. Mubarak era um aliado crucial na estabilidade do mundo árabe, em especial nas relações com Israel. Ali Abdullah Saleh colaborava com os E.U.A. no combate aos radicais islâmicos (que controlam de facto, diga-se, uma parte do Iémen). Kadafi é um importante fornecedor de petróleo e gás natural, que muito tem amansado o discurso.
Não temos nenhuma informação priveligiada dos corredores diplomáticos… Apenas lançamos as questões, baseado nos indícios disponíveis nos media.
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