Hoje é o dia escolhido para a consagração dos namorados, do amor e das lamechices todas que envolvem os casais apaixonados no geral (sendo o termo lamechices usado em sentido neutro). Tal data não poderia de maneira alguma passar sem que eu fizesse meia-dúzia de reparos extremamente pertinentes, espero eu, quanto ao que domina as movimentações do dia de hoje.
Honestamente, nunca gostei muito desta celebração a S. Valentim. Mesmo quando a vida me é favorável a celebrá-lo, não nutro especial apreço por 24 horas de Ode ao amor quando, mais do que isso, tudo se torna num dia de consumismo exacerbado para algumas pessoas cuja capacidade criativa de surpreender pesa muito mais do que o simples acto de abrir os cordões à bolsa. Enquanto mulher, apelando ao meu lado mais romântico, gosto da ideia de poder ser mais do que uma vulgar data de troca de prendas mas, infelizmente, não passa mesmo disso.
Já uma vez exprimi o meu profundo desalento por perceber que, cada vez mais, se prefere o fácil, os clichés, a algo verdadeiramente puro e pessoal. Porque isso implicaria sempre mais trabalho e dedicação do que o prático recurso ao que já está feito e ao que são consideradas apostas ganhas logo à partida. Mas, claro, quem opta por dar mais de si do que simples euros e brindar a relação com o que de mais intenso e original tem para oferecer e algum dia pensou ser capaz, não espera pelo dia dos namorados para provar para si mesmo ter capacidade de perpetuar um sentimento tão temperamental como o amor. É por isso que as rosas, os chocolates, os perfumes e sei lá que mais têm uma procura tão elevada nestes dias, na maior parte das vezes já trazem escritas ou subentendidas as mensagens que, por serem tão viscerais, nos custam a reproduzir verbalmente evitando-se, assim, ter de se confessar abertamente nos olhos da outra pessoa o que guardamos cuidadosamente em nós.
Soarei muito lamechas, sentimental ou emocional, mas a verdade é que todos acreditamos a certa altura da nossa existência termos um propósito mais alto do que, simplesmente, viver a vida. Quando nos deixamos levar e damos o mais elementar de nós a outro cremos que é aí que reside o fundamento de tudo isto. Mas é preciso muito mais do que meras frases feitas e prendas universalmente românticas…
Um dia percebemos que é preciso crescer muito, cometer loucuras e perder a razão várias vezes, entender o que fazemos e o porquê de o fazermos, aceitar as falhas dos outros e ter paciência mais do que muita para nos esforçarmos num exercício básico de auto-avaliação. Não sou mais sábia que ninguém, nem muito experiente, mas se pudesse ter de escolher o ingrediente base para o amor diria que é a paciência. Portanto, neste dia abençoado por S. Valentim, sugiro que nos superemos e tentemos não cair na tentação do mais oco de sentido, mas mais fácil de aceder. Ah! E pelo amor do que vos é mais importante na vida, não se beijem ruidosamente nos transportes públicos.
E esta é a minha sugestão musical.
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