Acontecimentos extraordinários se desenrolam neste inicio de século. Inesperadamente, o mundo árabe é sacudido por um espontâneo movimento popular sedento de liberdade, cansado do jugo opressor dos seus ditadores. Da particularidade de todos estes acontecimentos, um em especial espanta-me: não são os grandes mestres intelectuais forjando a teoria, carpindo o sistema, polindo as argumentações. É um trabalho decerto grandioso esse por onde se erguem as bases intelectuais das revoluções – grandioso, mas frio o trabalho de dispor a argumentação na mais perfeita lógica: não é feito por entre a multidão que se agita revolucionariamente nas praças, por entre os seus gritos, por entre as suas ânsias, por entre os seus ideais, as suas aspirações: é feito solitariamente no office, rodeado de livros, no silêncio. Não é um sentimento que nasce instantaneamente, não é coração que imediatamente o pressagia: é o cérebro labutando duramente, continuamente, inflexivelmente. Mas tão grande ou maior ainda que este trabalho dos intelectuais é o trabalho do povo: aqueles pensam as revoluções; estes executam-nas. E poderá conceber-se empreendimento mais nobre, mais puro do que este? Não é o crânio que espremidamente raciocina, calcula, abstrai para encontrar a perfeição dos argumentos: - é antes o coração que a sente, que aspira: e o sentimento que lhe surge automaticamente, sem essas complexas lides do raciocínio é a aspiração da liberdade.
Não há aqui Washington ou Jefferson como na Guerra da Independência dos Estados Unidos. Não há Voltaire, Diderot ou Montesquieu, nutrindo e aquecendo o movimento intelectual da Revolução Francesa; não há Kelsen, Jellinek ou Preuss, arquitectando Weimar. Terão os Egípcios lido o «L’esprit des lois»? Terão os Egípcios lido o ensaio «On the Essence and Value of Democracy»? Decerto, não. E, no entanto, ei-los, aspirando à democracia, à liberdade. Os egípcios apontam apenas para os simples tunisinos que lhes demonstraram o poder do povo, unido em torno dum ideal. E que papel tem o Ocidente nisto? Até agora um papel discreto, tímido, envergonhado. A Política não se compadece com o calor das Revoluções; mas os egípcios apenas sentem a presença dos Estados Unidos pelo gás lacrimogéneo que lhes é arremessado pelas forças de segurança com a inscrição «Made in USA». Isto, porém, parece estar a mudar. Gostaria de acreditar que tal se deveria ao apoio a um espontâneo ao Povo que reivindica os seus direitos, e não pela inevitabilidade das circunstâncias nas quais parece que esta Revolução irá terminar e que obrigam a um posicionamento táctico. O Presidente Obama fala já abertamente na necessidade de uma transição pacífica – uma menção clara à saída do Sr. Mubarak de forma a que se inicie, desde já, a construção do futuro do Egipto. O Sr. John Kerry, Presidente da Comissão das Relações Externas do Senado dos EUA, num artigo no New York Times, exulta à saída do Sr. Mubarak. Mas e a Europa? Temos ouvido falar da posição da Europa? Da Sra. Catherine Ashton? Não é ela a Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros? A União não tem opinião sobre os acontecimentos do Egipto? Não tem ela opinião?
Não há aqui Washington ou Jefferson como na Guerra da Independência dos Estados Unidos. Não há Voltaire, Diderot ou Montesquieu, nutrindo e aquecendo o movimento intelectual da Revolução Francesa; não há Kelsen, Jellinek ou Preuss, arquitectando Weimar. Terão os Egípcios lido o «L’esprit des lois»? Terão os Egípcios lido o ensaio «On the Essence and Value of Democracy»? Decerto, não. E, no entanto, ei-los, aspirando à democracia, à liberdade. Os egípcios apontam apenas para os simples tunisinos que lhes demonstraram o poder do povo, unido em torno dum ideal. E que papel tem o Ocidente nisto? Até agora um papel discreto, tímido, envergonhado. A Política não se compadece com o calor das Revoluções; mas os egípcios apenas sentem a presença dos Estados Unidos pelo gás lacrimogéneo que lhes é arremessado pelas forças de segurança com a inscrição «Made in USA». Isto, porém, parece estar a mudar. Gostaria de acreditar que tal se deveria ao apoio a um espontâneo ao Povo que reivindica os seus direitos, e não pela inevitabilidade das circunstâncias nas quais parece que esta Revolução irá terminar e que obrigam a um posicionamento táctico. O Presidente Obama fala já abertamente na necessidade de uma transição pacífica – uma menção clara à saída do Sr. Mubarak de forma a que se inicie, desde já, a construção do futuro do Egipto. O Sr. John Kerry, Presidente da Comissão das Relações Externas do Senado dos EUA, num artigo no New York Times, exulta à saída do Sr. Mubarak. Mas e a Europa? Temos ouvido falar da posição da Europa? Da Sra. Catherine Ashton? Não é ela a Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros? A União não tem opinião sobre os acontecimentos do Egipto? Não tem ela opinião?
As Revoluções comportam, porém, os seus riscos: e esta não está isenta de perigos para o Ocidente. O Povo manifesta a sua vontade: mas, embora em pouco número – há movimentos radicais extremistas no Mundo árabe. E movimentos desejosos de capturar o poder. As regiões vizinhas, como a Líbia, por exemplo, procurando evitar que semelhantes revoluções ecludam no seu território, sentir-se-ão tentadas a fomentar a desestabilização da revolução. Por isso, o Ocidente tem um papel neste novo mundo árabe que emerge: protegê-lo.
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