A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ao Sr. José Eduardo Moniz (I)

À terça-feira, temos por hábito ler o «Diário Económico». O leitor perguntar-se-á:
- Sim. E o que raio tenho eu a ver com isso?
Calma, estimado leitor – já lá iremos. À terça-feira, o Sr. José Eduardo Moniz é um dos colunistas com lugar marcado nas páginas do «Diário Económico». Acompanhamos atentamente as suas colunas nesses dias: não pela limpidez das ideias que são apresentadas, não pela eloquência dos argumentos que são invocados, não pela articulação do seu discurso, mas pelo enorme chorrilho de factos que nessas páginas são espalmadas e as poucas conclusões erradas que sua excelência retira dos factos, aborrecidamente, narrados.

A coluna de opinião representa uma das formas pelas quais se pode medir o nível do debate público do País: se ele é elevado, se ele é medíocre. Com efeito, que melhor instrumento do que essa meia página contendo um conjunto de impressões, de ideias, de teorias, de sistemas, de conhecimentos através do qual se intervém na vida política, na vida económica, na vida social, nos costumes, na religião, na moral?
É um dever do jornalista fazer conhecer o estado das coisas públicas, demonstrar ao povo os acontecimentos políticos, os factos que influenciam a governação do seu País, informar dos actos que atentam contra o superior interesse da Nação.
O colunista, no entanto, tem uma função diferente do jornalista: mas igual na importância. O colunista não deve informar isentamente: deve fazê-lo apaixonadamente em nome das causas em que acredita.

E que tipo de colunista é José Eduardo Moniz? Nós apresentamos os factos, o leitor retire as suas ideias.

Sua Excelência, o Sr. José Eduardo Moniz, nutre um especial interesse pela Literatura. Por isso, nas suas colunas, antes de passar à análise dos factos do País, inicia sempre o seu discurso por um pequeno exórdio literário. Eis o que sua excelência diz:

«Os rostos abrem-se quando o sol os banha. Em Cascais, a luz brilhante afagava a areia das praias, doirando a água que namorados de mãos dadas iam cortando em passadas curtas, lentas e dengosas, à beira-mar.»

Aqui paramos por momentos a nossa leitura. O amigo leitor desconhece que nós, no nosso trabalho de aperfeiçoamento da forma, avidamente buscamos as palavras cujo efeito nos parece mais deslumbrante. E aqui, ao lermos o exórdio literário do Sr. José Eduardo Moniz uma palavra ressoava-nos continuamente no ouvido e cujo significado desconhecíamos: dengosas, dengosas, dengosas...Um som melodioso para descrever dois amantes, caminhando, lado a lado, mãos presas, pés descalços sobre a areia da praia, sob o sol tépido de Fevereiro…Corremos a ir buscar o dicionário! Mas quê?! Os nossos olhos não o poderiam verdadeiramente crer! Esfregamo-los e relemos cuidadosamente! Mas não: os nossos olhos não nos apresentavam uma falaz realidade. Dengoso é um adjectivo que verdadeiramente significa manhoso, astuto, efeminado, adamado…

Oh diabo! – pensamos nós. O que queria o Sr. José Eduardo Moniz dizer com passadas curtas, lentas e sobretudo dengosas? Dois cenários esboçamos no ar. Primeiro cenário, primeiro significado da palavra dengoso - astuto: o Sr. José Eduardo Moniz, ocultamente, fugidiamente, de binóculos, à distância, voyeur, espreitava os astutos namorados em pleno atentado ao pudor público nalgum recanto privado da praia. Reflectimos. Não, não o poderia ser. O Sr. José Eduardo Moniz afirmava que os namorados davam passadas; logo, o cenário um foi eliminado. Passamos ao cenário dois, segundo significado da palavra dengoso – efeminado: imaginamos então não o Sr. José Eduardo Moniz, mas dois gays, passeando na praia, de mãos dadas, sobre a areia da praia, sob o sol tépido de Fevereiro…E todo o idílio foi-se. O leitor não queira julgar malvadamente aquilo que dizemos: o que pretendo afirmar é que um «Romeu e Julieta» não é a mesma coisa que um «Romeu e José Maria». Uma coisa nos pareceu clara, no entanto: o Sr. José Eduardo Moniz não parece talhado para a descrição de cenas românticas.

Continuemos, pois, na análise do exórdio literário do Sr. José Eduardo Moniz. Continuando ainda a sua descrição literária de Cascais, sua excelência termina, concluindo da forma que em seguida se transcreve:

«É um belo País este. Pena assemelhar-se a um queijo suíço com tanto problema e frustração a escavarem buracos na confiança de quantos vivem aqui».

Ah! sublime comparação! Portugal: um queijo suíço! Ora aí está como se faz um exórdio literário: o sol banhando os rostos; a luz afagando a areia da praia, doirando a água; os enamorados passeando, de mão enlaçada; os cãezinhos pulando alegremente; os velhos recordando, nostalgicamente, outros tempos, perdidos nas brumas da memória – e Portugal, entre todo esse cenário deleitoso, um queijo suíço! Um cenário pitoresco, V. Ex.ª! É assim que V. Ex.ª inicia a análise dos factos do País, contrastando um belo dia de sol de Cascais com um queijo esburacado que pretende V. Ex.ª que seja a metáfora da imagem do País. Há subtileza, V. Ex.ª! Há subtileza nas suas palavras! Requinte!

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