A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Ao Sr. José Eduardo Moniz (II)

Na quarta-feira, comentando a crónica do Sr. José Eduardo Moniz «País de luz e sombra» apenas tivemos ocasião de nos pronunciarmos sobre o exórdio literário de sua excelência, sem, no entanto, penetrar nas ideias que o Sr. apresenta para o País.

Vejamos, pois, agora como V. Ex.ª começa a análise da realidade do País. Começa V. Ex.ª por apontar rumos estratégicos, caminhos por trilhar, ou caminhos ainda insuficientemente percorridos: e aponta o sol, a praia e o mar. E o que diz mais V. Ex.ª para desenvolver esta sua ideia? Eis o que V. Ex.ª diz:

«A indústria do Turismo cresceu desordenada e quase sem regras, convertendo zonas de Portugal outrora lindas em regiões de onde apetece fugir perante a avalanche de cimento armado…»

Ora pensávamos nós que quando V. Ex.ª refere a combinação de sol, praia e mar obviamente que nós fomos levados a pensar que V. Ex.ª se referia ao Turismo. Erroneamente, V. Exª! Erroneamente! É que V. Ex.ª desanca no turismo forte e feio! E pior, Excelência! V. Ex.ª desanca nos turistas! Chama-os de «hordas bárbaras». A coerência do seu raciocínio resume-se desta forma: V. Ex.ª sugere que Portugal aproveite de uma forma mais ordenada o seu potencial turístico, reunido nesses três elementos: sol, praia e mar. Potencial turístico esse que - julgamos nós, se V. Ex.ª nos permitir a ousadia - deve ser convertido em rendimento através dos turistas. No entanto, V. Ex.ª apelida essa fonte de rendimento de «hordas bárbaras». Portanto, o Sr. José Eduardo Moniz afirma que Portugal desperdiça recursos, mas o elemento que permite potenciar e retirar fruto desses recursos, são uns arruaceiros e uns bandalhos.

Vejamos o que mais diz V. Ex.ª.

«Fosse este um povo menos acomodado e a violência que tem abalado tantos países poderia vir a ocorrer aqui também, traduzindo de modo dramático a intensidade do que ainda está para acontecer».

Mais uma vez estranhamos a posição manifestada por V. Ex.ª. Com efeito, o Sr. José Eduardo Moniz considera o povo português um povo manso, um povo mole, um povo macio. V. Ex.ª sugere então que o povo português tome o exemplo de Aníbal e rume a Lisboa, com os seus tachos e panelas, para violentar com o fim de se tornar mais robusto, mais rijo, mais vigoroso. V. Ex.ª decerto não ignorará a diferente natureza das convulsões sociais que ocorrem na Europa, designadamente na Grécia e na Irlanda, da revolução que se estabelece na Tunísia ou no Egipto. Num caso, são democracias profundamente consolidadas, Estados pluralistas e respeitadores dos direitos solidamente estabelecidos dos seus cidadãos. Sucede, porém, que os direitos económicos, sociais e culturais dos seus cidadãos não são imutáveis. (E isso V. Ex.ª decerto reconhece uma vez que você faz parte daquele tipo de cronistas encartados que muito aprecia em falar no mal dos «direitos adquiridos»). E não sendo imutáveis, eles devem ter em conta a realidade económico-financeira do País e a capacidade limitada do Estado. Daí ser necessário um processo de revisão desses direitos, como no caso da segurança social, de forma a ter presente a adequação do sistema às circunstâncias: e as circunstâncias são: o número de nascimentos diminuiu e a esperança média de vida aumentou. Conjugando estes dois factos, as despesas de segurança social aumentaram desmesuradamente. No respeito pelo núcleo essencial pelo direito das pessoas, mudanças nesses mesmos direitos são inevitáveis. V. Ex.ª, no entanto, opta pelo caminho da demagogia e afirma que o problema do País reside na sua mansidão. Como se resolve o excesso de mansidão? Fazendo do povo homem! Ensinando-lhe a arte da violência! Acha V. Ex.ª que isto faz sentido? São os tachos e as panelas que fazem progredir o País ou são as ideias que são produzidas? Quer V. Ex.ª que Portugal se torne uma Grécia em permanente convulsão social? É esse o modelo que V. Ex.ª pretende?

Se sabemos como o debate político na Assembleia da República é pobre, preso, por vezes, a uma ideologia de cartilha cega que descarta os interesses do País para colocar, em primeiro lugar, os interesses do partido, o colunista quer-se livre de preocupações partidárias e de jogos políticos. A disciplina partidária não lhe serve de desculpa para abafar a sua voz na elevação do debate público. Colunistas, porém, como o Sr. José Eduardo Moniz de nada servem para essa elevação. De resto, o que faz V. Ex.ª com utilidade? Todas as semanas comenta polidamente as audiências televisivas.

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