A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Concursos de Beleza Infantil - O abuso Infantil Dissimulado

A exploração infantil pode assumir várias formas. O vídeo que acabou de ver retrata apenas uma dessas muitas formas de exploração: os concursos de beleza infantil.

Os concursos de beleza infantil tiveram início em 1960, nos EUA e, ainda hoje, é lá que dominam, seguindo-se países como o Brasil; na Europa são quase inexistentes. No entanto, informarmo-nos acerca do impacto desses estilos de vida aos quais são submetidas crianças inocentes nunca é demais, porque é precisamente analisando os erros (e respectivas consequências) cometidos pela história no passado e observando os actuais erros à volta do globo que podemos evitar que voltem a suceder (os do passado) ou se perpetuem (os do presente).

Nestes concursos as concorrentes forçadas têm idades compreendidas entre os 2 os 10 anos de idade (sim, eu disse 2 anos, embora acrescentem 20 anos aos seus rostos de forma artificial). Estas meninas usam dentes falsos (pois, como é natural, não os têm todos devido à queda dos dentes de leite), perucas, extensões de cabelo, maquilhagem, unhas falsas, etc. Além disso são encorajadas a namoriscar com o jurí, enquanto estão em palco, pestanejando com as suas pestanas falsas, enquanto vestem roupas semelhantes às de uma bailarina exótica, saltos altos e lingerie sexy. De facto, estas meninas de 4 e 5 anos de idade são vestidas, maquilhadas e treinadas para se comportarem de forma inapropriada para as vivências típicas da sua idade. Se ainda não está chocado repare que, de acordo com os dados da Associação Americana de Cirurgiões Plásticos, mais de 77000 procedimentos cirúrgicos invasivos têm sido efectuados anualmente em crianças e adolescentes, sendo que nos casos dos mais novos são os pais que “incentivam” os filhos a fazê-lo e não os filhos a pedi-lo. São cada vez mais novas e mais comuns as cirurgias infantis de injecções labiais de preenchimento, entre outras, sem necessidade nem consentimento amadurecido por parte dos menores.

Como refere a Associação Americana de Psicologia “Jornalistas, organizações de advogados de crianças, pais e psicólogos estão preocupados, visto que a erotização de crianças é um problema crescente e prejudicial para as mesmas”, acrescentando que os estudos realizados demonstram uma forte correlação entre estes concursos e futuros problemas de saúde mental, com destaque para os distúrbios alimentares, baixa auto-estima e depressão.

Isto sucede porque nestes concursos a beleza física é promovida como sendo o valor fulcral, levando a uma centração excessiva das meninas na sua imagem e a decidir o seu valor enquanto pessoa a partir daí. Todavia, os efeitos nocivos vão muito mais além, pois promovem uma competição não saudável, dissimulada e geradora de níveis extremos de ansiedade, pela pressão para “ser a melhor de todas, ganhar a tiara e o troféu”, pois “nenhuma das outras meninas ali é sua amiga, nem pode ser mais bela, sexy e talentosa”.

Geralmente, a realidade é que as mães procuram vivenciar os seus próprios sonhos através dos seus pequenos rebentos. Rebentos estes que são crianças pequenas sem tempo para o serem: entre as horas diárias de treino com profissionais de expressão facial, postura corporal, dança, maquialhem/cabelos/unhas, viagens para ir aos concursos, …, não resta qualquer tempo livre para investir no desenvolvimento de relações saudáveis, brincar, jogar e descobrir quais são os seus verdadeiros sonhos, pois são formatadas para acreditar que os seus sonhos são os que os seus pais escolheram para si, ainda antes destas crianças conseguirem ler, escrever e, às vezes, falar.

Estes pais deitam por terra tudo aquilo que faz uma criança parecer inocente e jovem, gerando uma forma dissimulada de abuso físico e mental. Nos bastidores é frequente encontrar estas meninas com verdadeiras crises de ansiedade, choro, medo e até dor física enquanto as suas sobrancelhas são depiladas, as pestanas falsas são aplicadas e retiradas e as extensões de cabelo adicionadas. É uma dor física que, ainda assim, não supera a dor emocional de sentir que se tem de ser perfeita para ser aceite a valorizada. É ao longo dos primeiros anos de vida que a base da personalidade se desenvolve e, se uma criança é levada a acreditar que o seu valor enquanto pessoa depende da sua aparência física o mais provável é que transporte essa crença ao longo da sua vida.

Como Summer (uma jovem que em pequena era submetida à pressão destes concursos) diz: “Os pais precisam de olhar para o porquê de quererem a participação dos seus filhos nestes concursos (…) pode ser apenas por causa de necessidades do seu próprio ego”, deixando de colocar pressões típicas da adultez em crianças que ainda não têm capacidade para interpretar e lidar com elas adequadamente.

Sem comentários: