“Meus amigos. A Literatura em Portugal está a agonizar: morre burguesmente e insipidamente: nem ao menos tem os efeitos extravagantes de luz de todos os ocasos celestes”.
Eça de Queiroz dixit.
A Literatura está a agonizar porque não há ninguém que a levante. A Literatura portuguesa está no chão e tudo o que os escritores portugueses fazem é levantá-la por alguns instantes à sombra das mesmas ideias e, acto contínuo, ela volta a cair, porque a cabeça, com o peso dos anos, invariavelmente, tomba para o lado.
Esta quarta parte d’O Opinador tem alguma dificuldade em compreender os elogios que se fazem em torno dos escritores que inovam no campo da pontuação. Chamar-nos-ão, porventura, de simplistas, porventura de antiquados, mas, nosso entender, a inovação na Literatura reside na ortografia: nas palavras. A construção e a articulação das palavras entre si, a sua metaforização, a projecção das mais belas imagens, a construção das mais luzentes ideias devem constituir o cerne da Literatura. Tanto quanto sabemos, Shakespeare era um bom mestre desta técnica, e era um razoável escritor; Byron, um bárbaro, fazia bom uso das frases: empregava-lhes uma certa luz – era, no entanto, um péssimo poeta; Baudelaire, um devasso, mesmo com o auxílio de um dicionário de rimas, conferiu um certo encanto às suas palavras; Eça de Queiroz pecava pelo mesmo defeito – era um selvagem que buscava o brilho da Forma e da Ideia.
Na actualidade, a inovação do escritor não reside na palavra, reside na pontuação da frase – o escritor desrespeita as regras da pontuação, não coloca uma vírgula quando a deveria ter colocado e é, unanimemente, considerado um rebelde, um inovador e motivo de glorificação.
Os Mestres das Academias reúnem-se, sacodem o pó das longas barbas brancas, debruçam-se sobre o texto, analisam, discutem, interrogam, duvidam e chegam todos à mesma conclusão – o escritor inovou em termos de pontuação, ergam-lhe uma estátua!...Segundo nos consta, existe, inclusive, um escritor português cujo traço característico da sua escrita consiste em escrever exclusivamente empregando letras minúsculas!…Benditos tempos da nossa Literatura em que um escritor deseja, sobretudo, ser reconhecido pela Arte com que faz uso do tamanho das letras e não pelo conteúdo das mesmas. Neste aspecto, aquele que dizia “frases sem ligação, encontros casuais, transformam-se em provas da maior evidência para o homem de imaginação se ele tem algum fogo na alma” era outro dos selvagens. Assim, a Schiller, esse Neandertal do pensamento literário temos a comunicar:
- O tamanho das letras importa, meu caro!...
A Literatura, narrando factos da História adaptados ao discurso literário tem pouca vocação para ensinar – a Literatura denega a sua missão de indicar o caminho, e verga-se e sucumbe ao peso do próprio caminho: ela não procura construir nada de novo, ela limita-se a reerguer aquilo que estava no chão. Já Schopenhauer dizia que a diferença entre um verdadeiro e um falso filósofo residia no facto de o primeiro questionar a realidade por si mesmo, enquanto que o segundo limitava-se a seguir o caminho apontado pelo verdadeiro filósofo. O mesmo sucede na Literatura. Ora, julgamos nós, modestamente, que obra que não ensina, que não educa, que não inove, é estéril porque de nada serve ao espírito. A sociedade, no presente momento, necessita que todo e qualquer elemento que a compunha demonstre interesse na contribuição para a sua elevação. O que vemos, porém, é que, excepcionando um outro colunista de jornal que é, simultaneamente, um escritor, todos eles demonstram desprezo pelas questões da sua sociedade. Os seus livros são o exemplo da mais profunda indiferença pelos seus contemporâneos – fazem honra ao passado, como o fazem os livros de História, são seres profundamente marcados por dúvidas existenciais como o são os livros dos filósofos, mas pela sociedade do seu tempo, eles não mostram mais do que desprezo. Como julgamos que a presente sociedade necessita de revolução e não de sossego, necessita que a importunem e não que a descansem.
O Realismo não é mais do que a conjunção de todas as ciências resumidas numa só Arte: a sociologia, a antropologia, a filosofia, a história, a teologia, a moral, os costumes. É a representação do todo e não da parte. O Realismo comporta, contudo, um problema – um estudo dedicado, atento e constante. E, estimado leitor, um estudo dedicado, atento e constante é coisa que maça, logo é coisa que não convém ao escritor. Por isso, o escritor opta pela parte e não pelo todo; opta pela cópia e não pela inovação; opta pela reprodução e não pela criação. O Realismo é intemporal porque a sociedade assim o é também; mas ele é, igualmente mutável porque assim a sociedade o é também – é, por este motivo, que o Realismo nunca perderá a sua importância – porque é a forma da Literatura enquanto Arte reflectir sobre a sociedade do seu tempo de forma a torná-la uma sociedade melhor, composta por homens de espírito limpo e de consciência própria.
Eça de Queiroz dixit.
A Literatura está a agonizar porque não há ninguém que a levante. A Literatura portuguesa está no chão e tudo o que os escritores portugueses fazem é levantá-la por alguns instantes à sombra das mesmas ideias e, acto contínuo, ela volta a cair, porque a cabeça, com o peso dos anos, invariavelmente, tomba para o lado.
Esta quarta parte d’O Opinador tem alguma dificuldade em compreender os elogios que se fazem em torno dos escritores que inovam no campo da pontuação. Chamar-nos-ão, porventura, de simplistas, porventura de antiquados, mas, nosso entender, a inovação na Literatura reside na ortografia: nas palavras. A construção e a articulação das palavras entre si, a sua metaforização, a projecção das mais belas imagens, a construção das mais luzentes ideias devem constituir o cerne da Literatura. Tanto quanto sabemos, Shakespeare era um bom mestre desta técnica, e era um razoável escritor; Byron, um bárbaro, fazia bom uso das frases: empregava-lhes uma certa luz – era, no entanto, um péssimo poeta; Baudelaire, um devasso, mesmo com o auxílio de um dicionário de rimas, conferiu um certo encanto às suas palavras; Eça de Queiroz pecava pelo mesmo defeito – era um selvagem que buscava o brilho da Forma e da Ideia.
Na actualidade, a inovação do escritor não reside na palavra, reside na pontuação da frase – o escritor desrespeita as regras da pontuação, não coloca uma vírgula quando a deveria ter colocado e é, unanimemente, considerado um rebelde, um inovador e motivo de glorificação.
Os Mestres das Academias reúnem-se, sacodem o pó das longas barbas brancas, debruçam-se sobre o texto, analisam, discutem, interrogam, duvidam e chegam todos à mesma conclusão – o escritor inovou em termos de pontuação, ergam-lhe uma estátua!...Segundo nos consta, existe, inclusive, um escritor português cujo traço característico da sua escrita consiste em escrever exclusivamente empregando letras minúsculas!…Benditos tempos da nossa Literatura em que um escritor deseja, sobretudo, ser reconhecido pela Arte com que faz uso do tamanho das letras e não pelo conteúdo das mesmas. Neste aspecto, aquele que dizia “frases sem ligação, encontros casuais, transformam-se em provas da maior evidência para o homem de imaginação se ele tem algum fogo na alma” era outro dos selvagens. Assim, a Schiller, esse Neandertal do pensamento literário temos a comunicar:
- O tamanho das letras importa, meu caro!...
A Literatura, narrando factos da História adaptados ao discurso literário tem pouca vocação para ensinar – a Literatura denega a sua missão de indicar o caminho, e verga-se e sucumbe ao peso do próprio caminho: ela não procura construir nada de novo, ela limita-se a reerguer aquilo que estava no chão. Já Schopenhauer dizia que a diferença entre um verdadeiro e um falso filósofo residia no facto de o primeiro questionar a realidade por si mesmo, enquanto que o segundo limitava-se a seguir o caminho apontado pelo verdadeiro filósofo. O mesmo sucede na Literatura. Ora, julgamos nós, modestamente, que obra que não ensina, que não educa, que não inove, é estéril porque de nada serve ao espírito. A sociedade, no presente momento, necessita que todo e qualquer elemento que a compunha demonstre interesse na contribuição para a sua elevação. O que vemos, porém, é que, excepcionando um outro colunista de jornal que é, simultaneamente, um escritor, todos eles demonstram desprezo pelas questões da sua sociedade. Os seus livros são o exemplo da mais profunda indiferença pelos seus contemporâneos – fazem honra ao passado, como o fazem os livros de História, são seres profundamente marcados por dúvidas existenciais como o são os livros dos filósofos, mas pela sociedade do seu tempo, eles não mostram mais do que desprezo. Como julgamos que a presente sociedade necessita de revolução e não de sossego, necessita que a importunem e não que a descansem.
O Realismo não é mais do que a conjunção de todas as ciências resumidas numa só Arte: a sociologia, a antropologia, a filosofia, a história, a teologia, a moral, os costumes. É a representação do todo e não da parte. O Realismo comporta, contudo, um problema – um estudo dedicado, atento e constante. E, estimado leitor, um estudo dedicado, atento e constante é coisa que maça, logo é coisa que não convém ao escritor. Por isso, o escritor opta pela parte e não pelo todo; opta pela cópia e não pela inovação; opta pela reprodução e não pela criação. O Realismo é intemporal porque a sociedade assim o é também; mas ele é, igualmente mutável porque assim a sociedade o é também – é, por este motivo, que o Realismo nunca perderá a sua importância – porque é a forma da Literatura enquanto Arte reflectir sobre a sociedade do seu tempo de forma a torná-la uma sociedade melhor, composta por homens de espírito limpo e de consciência própria.
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