A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Um Conto Político



Nota: esta história baseia-se em factos verídicos. Quais? Pois, estes.

Era uma vez um jantar, numa casa a linha do Estoril, para o qual foram convidados dois senhores, importantes na sua terra que andavam desavindos.
Sentaram-se à mesa e enquanto era servido o couvert o senhor José – o mais importante dos dois – tomou a iniciativa e abordou o senhor Paulo – que apesar de menos importante andava naquela vida havia mais anos – nos seguintes termos, tentando esquecer velhas feridas:

“Oh Senhor Paulo, o meu negócio precisava de alguém como V. Exa. É que é bem-falante e até tem algum peso junto dos accionistas... Olhe lá que se quiser vir trabalhar até lhe arranjo um cargo jeitoso… Manda-se o Luís embora que ele já lá nem quer estar… Era o melhor para a empresa. Ficava estável.”

Em face de tão inaudito convite, o senhor Paulo até se ia entalando com as tostinhas… Esforçou um sorriso, coçou a cabeça e respondeu, segundo sabemos, desta forma:

“Oh Senhor José… Quanto me honraria! Gostaria imenso de trabalhar com V. Exa.… Mas devo admitir que não vejo com bons olhos entrar nos seus quadros… É que os accionistas que eu represento não iam nessa… Que me diz antes a umas colaborações pontuais? Passo-lhe uns recibos verdes e ninguém tem que saber.”

Ora o senhor José que não gosta de nada que venha de fora da sua empresa julgou aquela atitude bastante impertinente e não respondeu… Instalou-se então o silêncio que só foi desfeito pelo anfitrião quando já estavam a ser servidos os panados e o arroz de feijão.

"Meus amigos… Vamos lá a pensar na empresa que está pelas ruas da amargura. Este ano até pode nem haver dinheiro para os subsídios de Natal. Ó Senhor José era assim tão importante que o Senhor Paulo assinasse contrato? Não dá a recibos verdes? Ó Senhor Paulo, não pode fazer uma forcinha nisso… Olhe que ali o Senhor José ainda lhe arranja uns subsídios para as/os (H)hortas…”

Meio irritado mas já disposto a ceder o Senhor José volta a investir:

Pronto, pronto… Assina só contrato depois da aprovação do relatório de contas, pode ser? Assim não aborrece os seus accionistas. Mas olhe que sem contrato é que não… É que sem contrato não seguro a gerência.

O Senhor Paulo volta a coçar a cabeça e pede uns momentos para pensar enquanto se serve de outro panado… Entretanto, sem ninguém notar ia mandando umas mensagens por debaixo da mesa a uma outra empresa que andava a escolher o CEO. Tendo recebido informações dos seus contactos que diziam que “a Manela fritou os dois. Aposta é no Pedro” o Senhor Paulo hesitou… Hesitou e continuou a hesitar até chegar a altura do pudim.
Foi com o pudim e com o café que o Senhor Paulo teve uma epifania (talvez nas borras deste último; não o sabemos ao certo)… A concorrência ia decerto eleger o Pedro como CEO para lançar uma OPA à empresa do Senhor José que coitadinha tão mal andava. E se o vizualizou melhor o pensou:
Apostando no vencedor, posso não ser já da direcção… Mas pelo menos fico cá no mundo dos negócios mais tempo e quem sabe se o Pedro não me convida?

E foi com esta astúcia de velha raposa que o Senhor Paulo disse ao Senhor José que lamentava mas não ia dar… Tinha outros planos e não queria ir para aquela direcção...

"Olhe vou mandar os accionistas para outro lado… Não é nada pessoal mas o seu rating é muito baixo. Para arriscar prefiro os mercados emergentes!"

Ouvindo isto o Senhor José nem acabou o pudim e saiu porta fora. Já o Senhor Paulo aproximou-se mais do Senhor Pedro e parece que agora até já pensam numa joint venture!
O Senhor José é que já está a ver que os accionistas lhe vão tirar a gerência… Vai para o desemprego.
E agora, para estes dias de calor e praia deixamos um conselho ao Senhor José… Se for a banhos não se esqueça dos óculos de sol. Porquê? Ora porque pode encontrar o Paulo e o Pedro à beira mar, a falar da sua futura ex-empresa e assim não o vêem a chorar. Deixamos aqui o conselho cantado:


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