A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

"Façam o favor de ser felizes."


Um sábio Sr., provavelmente Dr. de outros tempos, disse uma vez que quanto mais conhecia as pessoas, mais gostava dos animais. De todas as vezes que eu ouvi alguém usar este cliché, estava por detrás um momento menos bom de relacionamento interpessoal que revelava na pessoa uma desilusão inesperada por outrem, não necessariamente digno de tanta consideração para justificar a desilusão pelo género humano em massa.
Mas o iluminado que, a certa altura, concluiu que as pessoas não mereciam a importância que se lhes dava parece, a meu ver, ter pensado muito bem no assunto antes de proferir as palavras que proferiu. Se há coisa que enerva toda a gente, mas ninguém tem coragem de evitar (excepto um minoria de corajosos, regra geral rotulados por mal-criados ou coisas piores), são as falsas simpatias, o "Então, como estás?" que não traz verdadeiro interesse sobre o estado da pessoa, ou o "Olá!! Há quanto tempo...!" que não vem regado de saudades rigorosamente nenhumas.
É muito mais apelativo o animal que reconhece a mão que lhe afaga o lombo e vem dengoso procurar o calor dessa atenção e, no mesmo momento, se desagradado com a pressão exercida pelo humano que dificilmente resiste à sua fofura, evita esse contacto e não cede à necessidade que todos temos de agradar. Eles, sem dúvida, são sinceros. E se não o podem ser verbalmente, são-no nas atitudes.
As falsas simpatias geram ciclos viciosos dos quais, por ordem de comportamentos padronizados impostos socialmente, não conseguimos ver-nos livres. Não existe coragem suficiente para ignorar alguém que, apesar de sentirmos não estar a ser sincero, se dirige a nós com a mais aparatosa amabilidade do mundo, ninguém é capaz de ripostar com um "Tu não queres saber, estás a ser hipócrita." (e se calhar mandá-lo a sítios pouco bonitos). Pessoalmente confundem-me essas atitudes, porque todos temos a perfeita noção de quando somos sinceramente desejados ou acarinhados por alguém e quando não o somos. Se as pessoas não agem de acordo com o que pensam, então o que é que andamos cá a fazer?

2 comentários:

Joana Banana disse...

há quem diga que, ao menos, não podem dizer que somos mal educados.
nos Tribunais, as pessoas costumam ter dificuldade em dizer que cortaram relações. não sabem o que isso é. e os juízes perguntam: cumprimenta-o? e se não o cumprimentar, é porque cortou. nunca tinha pensado neste critério: houve algo de forte pra nem a boa educação se respeitar.
também acho que o critério complexo de culpa costuma jogar.

Nuno Ramada disse...

Olha, mesmo desde os tempos do 'Arroz de Cantina', foi o texto que mais gostei. Não é por estar excepcionalmente escrito ou estruturado, é mesmo por causa do tema.
Eu já converso sobre isto há mais de três anos. Porque, um dia, um amigo meu (bem mais velho) disse: "é a hipocrisia obrigatória" a que estamos sujeitos. Estamos? Está quem quer. Ninguém é obrigado a dizer "amen" a tudo que vê ou ouve.
A maioria pode não acreditar, mas sei que a autora deste texto acredita: eu não sou hipócrita. Quando vejo que a pessoa está a inventar, a fazer-se de preocupada quando não o é, ou noutras dezenas de situações semelhantes, eu digo-o ou demonstro-o de imediato.
Isto nos casos (pessoas) que vejo que vale a pena; porque as que não têm remédio...não adianta. "Bom Natal e até logo", desejo eu. Ignoro.

Mas, em conclusão, concordo mesmo em pleno contigo: "Se as pessoas não agem de acordo com o que pensam, então o que é que andamos cá a fazer?" - não sou um exemplo para os outros, mas neste aspecto, quem dera que todos fossem sempre como eu. Está na altura de sermos sinceros e frontais; sem recorrer à arrogância e à má-educação, claro.
Talvez tivéssemos uma sociedade muito melhor...