Num dos muitos momentos de reflexão aos quais os comuns mortais dedicam o seu tempo e, atendendo às questões prementes da nossa sociedade, dei por mim a questionar-me: o FMI é mau? Sim, é. Mas não gostaríamos todos nós de, a dada altura da nossa vida, ter um FMI que irrompesse de nenhures e resolvesse por nós os problemas que, depois das nossas tentativas infrutíferas e ausência de sucesso, brindasse a nossa pacata vida do brilho e alívio do retorno à normalidade?
No contexto em que o conhecemos, o FMI é como um Sócrates versão 2.1, com upgrade de malvadez e desconsideração pelos pobres e classe média/baixa melhorada, é a mão económica de Satã, implacável e medonha capaz de, num hábil gesto, arrasar com a sensatez e atenção pelo povo e fazer surgir debaixo da capa negra todas as medidas financeiras que ninguém tem coragem de tomar sob pena de ser chacinado em praça pública.
Pois bem, eu gostava de ter um FMI só para mim. Um que, em vez de ser monetário internacional, fosse moderado de intervenção e estivesse sempre disponível para, quando eu não tivesse coragem para tomar certas medidas ou sequer tivesse solução reconhecida para o meu drama pessoal, pairar sobre a minha vida e salpicá-la com pós mágicos de apaziguamento. Um que chegasse, cheio de graça, sem chifres ou falsas simpatias e tivesse a leveza e experiência para saber agir com a prudência que, tantas vezes, nos falha.
Ao invés, teremos sempre o espaço suficiente para meter os pés pelas mãos e, supostamente, aprender com os erros que, sabe-se lá porquê, insistimos cometer. Vamos repetindo-os pelo caminho por não termos nunca a maturidade suficiente para avaliarmos ajuizadamente as situações, por sermos reconhecidamente ingénuos quando a complexidade dos problemas aumenta e deixamos de sentir o pulso às questões. Quem negará a utilidade de um FMI pessoal?
Pois bem, para este Natal, querido menino Jesus e Sr. Pai Natal, já que ambos parecem estar de serviço, gostaria que me deixassem no sapatinho um Fundo Moderado de Intervenção, de preferência em tons de dourado, para combinar com as cores dos cortinados do meu quarto, e aromatizado de coco.
2 comentários:
no fundo, um advogado serve para isso: tratar dos nossos terrenos para não cair na tentação de enfiar um balázio na tromba do nosso vizinho, rever os nossos contratos para não sermos comidos de cebolado, fazer os "cozinhados" qua temos vergonha de admitir que queremos que se faça, tratar do nosso divórcio porque pronto...
mas de facto uma sigla de três letras, abrieviatura de uma instituição internacional é bem mais credível e eficaz. talvez caminhemos nesse sentio. agora toda a gente também tem GPS ;)
ja ontem dizia a minha maezinha: quando tinhas que ir levar picas nesse rabo, era o seguinte: o teu pai levava-te a ver os peixinhos vermelhos no lago e eu depois segurava-te enquanto esperneavas aos berros feita cabrita nojenta.
posto isto, após a belíssima parábola, acabei de personificar Portugal o que me dá certa náusea, como os que me conhecem saberão. podia ser um pouco patriota, mas sou só alguém a levar injecções.
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