Como sempre, atenta ao que de mais ruidoso vai acontecendo no nosso país, deparo-me com uma greve geral. A semana passada foi marcada pelo exercício desse direito que chega a todos que é o de, simplesmente, encostar o trabalho para canto e deixar de produzir. Tão fácil quanto isto. Normalmente, associada a este genuíno "agora ficas aí que amanhã já te pego", vem sempre uma organizada manifestação, já que ninguém faz greve só por fazer (ou pelo menos, supostamente). Então, a grande maioria dos grevistas, sob pretexto de estarem empenhados em fazer barulho na rua, não fazem greve no local de trabalho, nem na rua, mas sim em casa, ou aproveitando um dia para actividades de lazer, como se de um dia de férias se tratasse. A outra, a pequena maioria, anda por aí a, literalmente, colar cartazes e protestar contra as medidas desagradáveis mas, ao que parece, necessárias, que o nosso Governo decide ir tomando.
Este modelo de protesto, dá-me a entender até à data, não ter feito grande diferença para o alcance desse objectivo do proletariado que é alterar, de facto, o rumo das coisas. Na Assembleia não se recua com as políticas por causa do mais ou menos barulho que os grevistas fazem, nem pelas constantes dificuldades logísticas que, a sua paragem no trabalho, implica para o decurso natural da vida quotidiana. É um dia em que, outros milhares de portugueses que já se aperceberam, a esta altura, que se torna mais rentável não empatarem o dinheiro que ganham num dia de trabalho numa greve que, no fim, não traz beneficio nenhum, são obrigados a fazer exercícios de gincana complicadíssimos para chegar a horas ou, sequer, chegar ao trabalho porque, outros tantos profissionais dos transportes públicos decidiram nem sequer asseguras os serviços mínimos. E é isto a greve geral em Portugal: um dia de barulho, cartazes e palavras de ordem no caos das grandes cidades.
Aos Srs. manifestantes e dirigentes destas minimamente relevantes lutas sindicais: em vez de prometerem a toda a hora novas formas de luta, lutem mesmo de forma diferente. Ao que parece isto com berros e a fazer parar o trânsito não vai lá camaradas!... Está na hora de serem criativos e mostrarem que há, realmente, outras formas de luta. Ou isso é só bluff? É que há sempre a greve de fome, a greve de sexo, a greve de banho...e sei lá que mais.
O mundo precisa de criatividade e este problema, o da sua falta, tem sido transversal, afecta a sociedade no geral e o individuo em particular. Já ninguém se preocupa em ser original com as coisas que importam, as pessoas acomodam-se ao pouco que a vida oferece e, nem quando é a olhos vistos insuficiente, se esforçam para atingir os objectivos mínimos a que se propõem.
Mes amis, falo-vos da greve como poderia falar de dezenas de outras coisas em que essa atrofia de ideias está patente. Ainda não foi tudo inventado, garanto, e se há 30 anos era fácil ser original, hoje, provavelmente, é mais exigente...mas possível. Portanto, naquilo que está ao vosso alcance, mostrem que não andamos a dormir nem a agir apenas de acordo com o que nos ensinaram e que podemos, a toda a hora, fazer melhor.
3 comentários:
não resisti.
comer e calar, portanto.
o mundo precisa é que levante(m) o cu do sofá, é disso que o mundo precisa.
boas escritas, madamoiselle.
Temo não ter sido suficientemente explícita. Em parte nenhuma do texto deixei de defender a luta contra o que está mal no "mundo" (coisa que nem sequer pretendia englobar).
O que entendo é que será necessário, desde há muito, procurar novas formas de luta, que sensibilizem de facto quem manda. Que ninguém está contente todos sabemos. E, embora no caso actual, muito certamente, nada possa ser mudado, noutras greves talvez haja solução.
Entendi, Madame. :)
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