A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Reflexão

As considerações sobre o destino e coincidências da vida assolam frequentemente os espíritos reprimidos da sociedade padronizada. Seguimo-nos tanto uns aos outros, os exemplos alheios, os modelos vistos e revistos, escolhidos a dedo pela influência da evolução dos tempos, que cremos ser melhor existir um espaço da nossa própria vida que não possamos controlar. Então acreditamos no destino, escrito, igualmente definido tal como a roupa que vestimos e as comidas saudáveis que evitamos, mas compondo uma parte de nós que nos há-de sempre surpreender.

Cedemos face aos mais básicos instintos de protecção e afeição e enrolamo-nos nos próprios pés por sentir sempre que nada acontece por acaso, que há sempre um motivo maior para errarmos ou fazermos as escolhas menos adequadas. Então crescemos e suportamos o peso da insuficiência do nosso carácter, das falhas humanas e geralmente compreensíveis, porque tudo se tolera, porque visões mais abertas do mundo fazem de nós pessoas fora do sistema, fora da regra e, aparentemente, mais aptas a amar e a ser amadas. Esperamos lidar sempre com essas pessoas, mais moles, mas visionárias.

Mas vem uma e outra hipótese de assumir as borradas que nos polvilham a história e parecemos sempre verdes demais para o fazer, repetimos na nossa cabeça “Hoje não… Ainda não estou preparado para o que aí vem, vou pensar melhor.” E passa-se um mês, um ano ou vários e nada se esquece, só o que é bom, essas memórias, as que nos fazem sentir os melhores do mundo, essas escolhem outros caminhos e desaparecem para dar lugar a outras nem sempre tão boas e vamos confiando que é destino.

Somos mais fracos, confusos e cobardes do que nos tentamos convencer. Mesmo quando agimos segundo a lógica do correcto, de acordo com a forma de dever ser que a ordem normal das coisas nos impõe, temos sempre uma ampla margem para fugir do ideal. E, quando estamos já confortáveis com os pequenos delitos que vamos registando no nosso cadastro, quando já lhes arranjámos uma caixa bonita que há-de estar sempre fechada e arrumada num cantinho qualquer do nosso sótão, o curso da vida espeta-nos duas lambadas bem fortes no meio da cara e desarruma tudo outra vez, só para termos de voltar a olhar para o que está dentro das malditas caixas e experimentar a sensação de darmos de frente com o que de pior já fomos.

Um dia qualquer, quando soubermos já o que no fundo crescemos com a arrumação periódica das caixas e o que aprendemos com a esfrega regular das manchas do nosso percurso, decidimos pegar nelas, expor para todos verem e rezar para que sejamos todos mais visionários do que um dia fomos porque, no fundo, faz parte do destino.

3 comentários:

Street Fighting Man disse...

boa reflexão, melhores reflexos. num golpe de rins e num jogo de pés fodido, daniela nunes faz knock out ao ser frágil e pequenino que o ser humano tem a pulsar dentro da sua couraça impiedosa de máquina social.

Joana Banana disse...

como o outro indivído do discurso do rei disse (eu só sei reproduzir o que os outros dizem, mea culpa my child), são sucessivas batalhas que julgamos já ganhas e resolvidas. e depois surgem de novo, e erros e fazemos coisas como fizemos antes.

que vale são as influências joaninas textuais neste mundo :p

isso e a música

OLHOS DE ÁGUAAAAAAA

COSMONAUT disse...

Reis e Rainhas da República das Bananas

para ouvir e pensar

http://www.youtube.com/watch?v=GXAusRLJiKg