A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Casório

Cumpre-me trazer à consideração popular reflexões pertinentes acerca dessa negligenciada realidade da nossa sociedade que é, o casamento. Quando se tem a oportunidade de conhecer ao pormenor o funcionamento do ordenamento jurídico que nos rege e respectivo mundo legislativo, chegamos depressa à conclusão de que tudo o que à nossa volta existe, não é mais do que um conjunto de práticas reflectidas e instituídas com regras e procedimentos fixados por um grupo de indivíduos que, sabe-se lá por quê, têm mais importância do que todos nós e obrigam-nos a fazer as coisas segundo aquilo que eles decidiram ser o correcto (senão somos uns infractores do pior). E é por isso que institutos como o casamento perdem todo o fascínio que os caracteriza. Falo por mim que sou mulher, vejo novelas e sempre ouvi histórias de príncipes e princesas que me alimentaram expectativas monstruosas no que diz respeito a ânsias familiares e felicidade para sempre.

Se é por clarividência geral ou não, não sei, mas o que é certo é que o encantamento que desde há muito envolve o casamento está cada vez mais afundado nessa consciência social de que não passa de um contrato do qual se pode, a qualquer momento, abrir mão. E assim, bonitos sonhos de um amor e uma cabana são deitados abaixo e a inocência saudável de um casal esventrada sob o lema "se não der certo divorciamo-nos".

O que não é, de todo, concebível para mim é que, aliada a esta ideia de relatividade dos votos matrimoniais, as pessoas negligenciem o momento de dar o nó e os noivos cheguem ao altar, ou ao balcão da Conservatória do Registo Civil vestidos como se fossem ao Minipreço comprar meia-dúzia de ovos e comida para o cão. Isto tudo porque assisti, (com alguma mágoa devo confessar), à celebração do primeiro casamento homossexual em Portugal e me deparei com um cenário triste e sem cor (coisa que até costuma ser mote de todo e qualquer movimento gay) onde o único momento passível de ser carimbado como o clímax da festa foi o fugaz abraço final entre as noivas. Não me entendam mal, desta avaliação estão completamente de parte as minhas considerações pessoais acerca do casamento entre pessoas do mesmo sexo, o que me perturba o sono é simplesmente o facto de a cerimónia se estar a tornar tão banal ao ponto de já ninguém se preocupar em vestir-se a rigor para a ocasião, é uma questão mais fútil, por assim dizer.

Ainda por cima foi um momento histórico, banhado de um je ne sais quoi de derrube de clandestinidade e apinhado de elementos da comunicação social! Não seria por terem ido ao cabeleireiro ou levarem um fatinho mais aprumado que iam ser acusadas de exibicionismo ou ostentação (pelo menos não por mim, garanto). Chamem-me tradicionalista ou ultrapassada, mas para mim o casamento tem de ter todos os atributos (excepto grandes festas...estamos em tempos de crise) para que se evitem depois os remorsos, quando se for recordar esse belíssimo momento do nosso percurso enquanto pessoas, por não haver uma única foto em que a t-shirt dos Simpsons na praia trazida de Maiorca nas férias de 2005 não apareça.

1 comentário:

Nelson disse...

Pareciam representantes da classe operária no tempo do PREC. Tinham assim um ar muito plebeu...