Quinta-feira, dia 10 de Junho, celebrou-se o dia de Portugal. A cúpula estadual reuniu-se em Faro, no Algarve, para proceder às celebrações. Entre as diversas intervenções, salientamos, especialmente, a intervenção do Presidente da República a que nos comprometemos a rebater critica e ironicamente.
“É pela mais justa e pela mais completa compreensão do seu destino social que tanto os indivíduos como os povos se disciplinam, se fortalecem e se aperfeiçoam.” O Opinador questiona ao nosso Presidente da República qual o seu entendimento de destino social? Ora, Sua Excelência, transmitiu-nos o seu entendimento de destino social baseado nessa bela e luzente ideia de coesão nacional. E o que é esse tesoiro da coesão nacional de acordo com o mesmo Presidente da República? Esse tesoiro é, nada mais, nada menos, do que “uma manifestação de vontades, a expressão do desejo de nos mantermos unidos, a capacidade de, em momentos difíceis, juntarmos esforços em torno daquilo que é verdadeiramente essencial.” Para o nosso Presidente da República a coesão, a ideia em que deve assentar a Pátria portuguesa consiste no português ascender ao monte mais alto da sua localidade e, uma vez no cume, inspirar profundamente, expandir os pulmões, encher o peito de brio, e bradar, estrepitosamente, lançando às várzeas:
- Eu quero unir!...
A união pela união é completamente inútil senão for guarnecida de um ideal que lhe dê força, robustez, ambição, cor, forma – numa palavra, Vida. É somente pela existência de um vínculo comum que possa unificar as divergências que essa união é possível – esse vínculo comum traduz-se no Ideal, num guia que oriente o povo para um desígnio comum, para uma ideia superior. Apregoar a união, sem existir um tal conceito, um ideal por detrás dessa conformidade de esforços que façam com que os indivíduos, atraídos pelo brilho desse mesmo ideal, se ajuntem e batalhem pela prossecução desse vínculo comum, é apregoar uma ninharia. Nós buscamos nas palavras de Sua Excelência a mais profunda interpretação extensiva do seu discurso para vislumbrar esse ideal em que pudesse assentar a coesão portuguesa. Contudo, tudo o que encontramos no seu discurso foram um conjunto de palavras despidas de qualquer força correlativa. O Opinador demonstra, desde já, as suas reservas ao estabelecimento da coesão portuguesa com base na nulidade, visto que, desde há décadas, é nessa ideia que Portugal tem assentado e, convenhamos, Sr. Presidente, Portugal é, neste momento, um atoleiro, onde cada ideia resiste, pugna, peleja, mas no fim, irreversivelmente, mergulha, profundamente no lodo.
V. Republicana Ex.ª cita ainda Herculano – “Quando se lançam os olhos para uma carta da Europa e se vê esta estreita faixa de terra lançada ao ocidente da Península e se considera que aí habita uma nação independente há sete séculos, necessariamente ocorre a necessidade de indagar o segredo dessa existência improvável. A anatomia e fisiologia deste corpo, que aparentemente débil resistiu assim à morte e à dissolução, deve ter sido admirável”. Não, Sua Excelência, não! Respeitosamente, não! Respeitamos, profundamente, o grande Mestre, mas Sua Excelência não tem o direito de fazer uso indevido das palavras do venerável Herculano! De facto, é politicamente correcto ao Presidente da República citar a fisionomia do nosso País para enaltecer os feitos grandiosos de eras passadas. Mas note Sua Excelência – isso é o que toda a gente, sem excepção, faz! O Sr. Doutor é o Presidente da República, não é o taberneiro da tasca local! Evidentemente, o taberneiro não citaria Herculano, mas a sua eloquência, em termos substanciais, é a mesma do taberneiro, dado que a correlação das ideias é semelhante. Respeitosamente, insistimos neste ponto, e discordando do Grande Mestre, a Pátria não é o solo, é a Ideia, Sr. Presidente. Sua Excelência, poderia começar, enfaticamente, a sua intervenção por declamar “Os Lusíadas”:
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana…
Mas se o Sr. Presidente da República julga que essa obra é o exacerbamento do solo português, então, comunicamos a V. Ex.ª. que está, fatalmente, equivocada. É sobre a Ideia, Sr. Presidente. É sobre a Ideia que repousa essa epopeia dos feitos nacionais. Não era a extensão do solo que fazia de Portugal a Pátria das Pátrias – era o seu Ideal. As Descobertas não foram mais do que a concretização de um Ideal íntimo de aspiração a uma Pátria que fosse tão-só o reflexo dos grandes Homens e dos grandes Ideais que compunham essa Pátria. A realidade a que se chegou – essa gloriosa realidade -, não foi mais do que um simples reflexo do Ideal íntimo que habitava já num conjunto superior de homens. Aliás, essa mesma realidade a que se chegou, não é tão importante quanto esse sentimento de aspiração puro que brota no Espírito dos Homens. Esses homens recheados de Ideal eram sim os verdadeiros Profetas que anunciam as Verdades e que depois, pela força que emana do seu pensamento, descem do exílio dos Céus onde se aperfeiçoaram e, humildemente, doutrinam o restante povo, indicando o rumo, o caminho.
Era, precisamente, esse Ideal que permitia manter a coesão do solo. Essa mesma coesão só viria a ser, mais tarde, destruída pela mesma razão que Portugal vem padecendo desde há séculos – pelo aviltamento das classes dirigentes. Pela luz do Infante D. Henrique, do Rei D. João II, pela sua fecunda influência, pela acção da sua mão, surgiram um conjunto de homens que, insuflados do mesmo Ideal, embebidos da mesma gloriosa Visão, lançaram-se pelas “águas sem fim! Ondas sem fim! Que mundos novos de estranhas plantas e animais, de estranhos povos, ilhas verdes além…para além dessa bruma, diademas de aurora, embaladas de espuma!”. O Além era, então, o Ideal, Sua Excelência – o Inexplorado, a Novidade: o Descobrimento. E era esse Ideal que sedimentava não só a coesão, como permitiu, da mesma forma, aspirar a algo mais do que a coesão. E não, Sr. Presidente, não eram oiros, safiras, esmeraldas, diamantes, rubis que alimentavam essa aspiração – à semelhança de um Aquiles, pelejando em Tróia, era a sede de um Infinito, de um nome que perdura para além da erosão dos tempos.
Como pode V. Ex.ª falar em coesão se Portugal, nos tempos contemporâneos, não é mais do que uma Pátria mole, esfalecida, desgrudada, despolida, esbandalhada, despedaçada, dilacerada, quebrada?
“É pela mais justa e pela mais completa compreensão do seu destino social que tanto os indivíduos como os povos se disciplinam, se fortalecem e se aperfeiçoam.” O Opinador questiona ao nosso Presidente da República qual o seu entendimento de destino social? Ora, Sua Excelência, transmitiu-nos o seu entendimento de destino social baseado nessa bela e luzente ideia de coesão nacional. E o que é esse tesoiro da coesão nacional de acordo com o mesmo Presidente da República? Esse tesoiro é, nada mais, nada menos, do que “uma manifestação de vontades, a expressão do desejo de nos mantermos unidos, a capacidade de, em momentos difíceis, juntarmos esforços em torno daquilo que é verdadeiramente essencial.” Para o nosso Presidente da República a coesão, a ideia em que deve assentar a Pátria portuguesa consiste no português ascender ao monte mais alto da sua localidade e, uma vez no cume, inspirar profundamente, expandir os pulmões, encher o peito de brio, e bradar, estrepitosamente, lançando às várzeas:
- Eu quero unir!...
A união pela união é completamente inútil senão for guarnecida de um ideal que lhe dê força, robustez, ambição, cor, forma – numa palavra, Vida. É somente pela existência de um vínculo comum que possa unificar as divergências que essa união é possível – esse vínculo comum traduz-se no Ideal, num guia que oriente o povo para um desígnio comum, para uma ideia superior. Apregoar a união, sem existir um tal conceito, um ideal por detrás dessa conformidade de esforços que façam com que os indivíduos, atraídos pelo brilho desse mesmo ideal, se ajuntem e batalhem pela prossecução desse vínculo comum, é apregoar uma ninharia. Nós buscamos nas palavras de Sua Excelência a mais profunda interpretação extensiva do seu discurso para vislumbrar esse ideal em que pudesse assentar a coesão portuguesa. Contudo, tudo o que encontramos no seu discurso foram um conjunto de palavras despidas de qualquer força correlativa. O Opinador demonstra, desde já, as suas reservas ao estabelecimento da coesão portuguesa com base na nulidade, visto que, desde há décadas, é nessa ideia que Portugal tem assentado e, convenhamos, Sr. Presidente, Portugal é, neste momento, um atoleiro, onde cada ideia resiste, pugna, peleja, mas no fim, irreversivelmente, mergulha, profundamente no lodo.
V. Republicana Ex.ª cita ainda Herculano – “Quando se lançam os olhos para uma carta da Europa e se vê esta estreita faixa de terra lançada ao ocidente da Península e se considera que aí habita uma nação independente há sete séculos, necessariamente ocorre a necessidade de indagar o segredo dessa existência improvável. A anatomia e fisiologia deste corpo, que aparentemente débil resistiu assim à morte e à dissolução, deve ter sido admirável”. Não, Sua Excelência, não! Respeitosamente, não! Respeitamos, profundamente, o grande Mestre, mas Sua Excelência não tem o direito de fazer uso indevido das palavras do venerável Herculano! De facto, é politicamente correcto ao Presidente da República citar a fisionomia do nosso País para enaltecer os feitos grandiosos de eras passadas. Mas note Sua Excelência – isso é o que toda a gente, sem excepção, faz! O Sr. Doutor é o Presidente da República, não é o taberneiro da tasca local! Evidentemente, o taberneiro não citaria Herculano, mas a sua eloquência, em termos substanciais, é a mesma do taberneiro, dado que a correlação das ideias é semelhante. Respeitosamente, insistimos neste ponto, e discordando do Grande Mestre, a Pátria não é o solo, é a Ideia, Sr. Presidente. Sua Excelência, poderia começar, enfaticamente, a sua intervenção por declamar “Os Lusíadas”:
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana…
Mas se o Sr. Presidente da República julga que essa obra é o exacerbamento do solo português, então, comunicamos a V. Ex.ª. que está, fatalmente, equivocada. É sobre a Ideia, Sr. Presidente. É sobre a Ideia que repousa essa epopeia dos feitos nacionais. Não era a extensão do solo que fazia de Portugal a Pátria das Pátrias – era o seu Ideal. As Descobertas não foram mais do que a concretização de um Ideal íntimo de aspiração a uma Pátria que fosse tão-só o reflexo dos grandes Homens e dos grandes Ideais que compunham essa Pátria. A realidade a que se chegou – essa gloriosa realidade -, não foi mais do que um simples reflexo do Ideal íntimo que habitava já num conjunto superior de homens. Aliás, essa mesma realidade a que se chegou, não é tão importante quanto esse sentimento de aspiração puro que brota no Espírito dos Homens. Esses homens recheados de Ideal eram sim os verdadeiros Profetas que anunciam as Verdades e que depois, pela força que emana do seu pensamento, descem do exílio dos Céus onde se aperfeiçoaram e, humildemente, doutrinam o restante povo, indicando o rumo, o caminho.
Era, precisamente, esse Ideal que permitia manter a coesão do solo. Essa mesma coesão só viria a ser, mais tarde, destruída pela mesma razão que Portugal vem padecendo desde há séculos – pelo aviltamento das classes dirigentes. Pela luz do Infante D. Henrique, do Rei D. João II, pela sua fecunda influência, pela acção da sua mão, surgiram um conjunto de homens que, insuflados do mesmo Ideal, embebidos da mesma gloriosa Visão, lançaram-se pelas “águas sem fim! Ondas sem fim! Que mundos novos de estranhas plantas e animais, de estranhos povos, ilhas verdes além…para além dessa bruma, diademas de aurora, embaladas de espuma!”. O Além era, então, o Ideal, Sua Excelência – o Inexplorado, a Novidade: o Descobrimento. E era esse Ideal que sedimentava não só a coesão, como permitiu, da mesma forma, aspirar a algo mais do que a coesão. E não, Sr. Presidente, não eram oiros, safiras, esmeraldas, diamantes, rubis que alimentavam essa aspiração – à semelhança de um Aquiles, pelejando em Tróia, era a sede de um Infinito, de um nome que perdura para além da erosão dos tempos.
Como pode V. Ex.ª falar em coesão se Portugal, nos tempos contemporâneos, não é mais do que uma Pátria mole, esfalecida, desgrudada, despolida, esbandalhada, despedaçada, dilacerada, quebrada?
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