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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Tauromaquia - o sadismo cobarde dos incivilizados


Como diz o Maestro Vitorino d’Almeida “Se tourada é cultura, canibalismo é gastronomia”.

Tauromaquia, ao contrário do que certos cobardes sádicos dizem, não passa de uma tradição doentia, de um grupo restrito e longe de ser consensualmente aceite. Mesmo assim, ainda é uma realidade em Portugal que, quando assinou a Declaração Universal dos Direitos do Animal (no blog do MATP – Movimento Anti-Touradas de Portugal – o leitor pode encontrar o preâmbulo da referida Declaração), teve a infelicidade de solicitar uma excepção para os touros, em nome dessa tradição bárbara a que se chama tourada.

Já há dois séculos atrás, Alexandre Herculano (historiador e poeta português do século XIX) referiu-se, em o Bobo, às touradas da seguinte forma: "…espectáculo de eras barbaras, que a civilização, desenvolvendo-se gradualmente por alguns séculos, ainda não soube desterrar da Península, e que nos conserva na fronte o estigma dos bárbaros, embora tenhamos procurado esconder esse estigma debaixo dos ouropéis e pompas da arte moderna e pleitear a nossa vergonhosa causa perante o tribunal da opinião da Europa com sofismas pueris e ineptos.". Lamentavelmente, esta citação é tão aplicável aos dias de hoje, como o era há séculos atrás.

E, mais lamentável ainda, é o facto de continuar a ser abundantemente divulgada, inclusive pela RTP, o que está errado a diversos níveis (a TVI também publicita os “eventos”, mas desta não se pode esperar grande coisa) e passarei a referir alguns dos motivos. É amplamente sabido que exercer actos de violência gratuita sobre animais, torturando-os lentamente e matando-os é um dos maiores indicadores de uma personalidade extremamente violenta e deficiente em sensibilidade: basta olhar para as biografias de serial killers, violadores (e sádicos em geral) para ver que quase todos eles começaram a sua escalada de violência com animais. Mesmo assim, alguns pais irresponsáveis submetem os filhos à visualização destes “espectáculos de tortura” desde tenra idade, levando-os aos recintos da orgia sanguínea e correndo o risco de contribuir para a criação de uma personalidade doente. Algumas crianças choram aflitas e, ainda assim, os seus “pais” tentam incutir na sua mente que tal é arte, indiferentes ao sofrimento do animal e do seu próprio filho - são monstros a tentar criar monstros, que em vez de educar para a compaixão, parece que educam para um sadismo cobarde. Como se não bastasse, também a televisão tem a indecência de passar tais programas em horário diurno, acessível às crianças cuja personalidade se encontra em construção. Sendo a personalidade da criança algo em construção como é possível considerar que assistir a actos sádicos sobre seres mais fracos será benéfico para o seu desenvolvimento? A resposta é simples: não tem nada de benéfico. Há filmes sádicos para adultos que são menos violentos do que a tradição tauromática, a qual ainda tem a agravante obscena de ser real (e não um produto de ficção cinematográfica). Os espectáculos tauromáticos deviam acabar por estas razões óbvias, mas a existirem devia haver um grãozinho de consciência e decência para não os passar na televisão antes da madrugada (quando as crianças estão a dormir) e com alertas iniciais quando ao ferimento de susceptibilidades, por se tratar de um “documentário” de terror real.

Além disso, é uma actividade completamente cobarde, um jogo vergonhosamente viciado para que o “vencedor” seja sempre o mesmo. Não é à toa que se cerram os cornos do touro e lhe é dada uma certa dose de anestesia antes de entrar na arena, tal como não é toa que se monta a cavalo para lidar o touro, criando todas as condições para que o “derrotado” seja sempre o mesmo O que chama a isto? Cobardia, claro está.

Estimado leitor, cultura é literatura, cinema, música, desporto, teatro, pintura, … e só é verdadeiramente cultural, o que possa contribuir para o desenvolvimento da sociedade e para a evolução positiva da mentalidade e personalidade do ser humano. Além disso, a cultura específica de um país deve reflectir a vontade geral dos seus habitantes e em Portugal a grande maioria dos cidadãos desaprova esta “actividade”. Apenas uma minoria de fanáticos apoia esta tortura e, muitas vezes, apenas porque ganham dinheiro com isso. É este o país “democrático” em que vivemos, onde apenas se têm em conta os interesses doentios e corruptos de uma minoria que faz da tortura e sofrimento animal o seu modo de ganhar a vida. Tudo isto é tão cultural e eticamente errado, como eram as execuções em praça pública na Idade Média ou a mutilação genital que hoje em dia ocorre em certos países. Tudo isto foi/é feito em nome da tradição e cultura e não é por isso que se torna aceitável.

Como diria Mahatma Gandhi “A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados” e torna-se necessário evoluir enquanto sociedade, transformando em histórias do passado as crueldades gratuitas que ainda hoje se permitem.

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