A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Brain Freeze


A vida é injusta. Mas a vida de quem apenas pode desfrutar da programação dos 4 canais generalistas da televisão portuguesa, é muito, mas mesmo muito mais injusta. Passar um dia inteiro, ou simplesmente uma tarde e uma noite, dependente da oferta de entretenimento que os nossos canais nos propõem, é quase como estar irremediavelmente exposto a uma Ode à depressão.
Porque o país está em crise, ou o povo português tem uma tendência invariável para o ridículo, assistem-se a episódios verdadeiramente reveladores da natureza deprimente da raça humana. E, para não estar com rodeios ou permitir que sejam feitos juízos erróneos daquilo a que me refiro, vou directa ao que me apoquenta: a TVI.
Para os mais desatentos aos vai e vem dos 4 canais, uma das caras mais mediáticas, até então da SIC, foi seduzida e convencida a participar no vasto elenco da concorrente TVI. Falo-vos de Fátima Lopes, senhora sobejamente conhecida e respeitada, imperatriz das animadas tardes semanais da televisão e que foi encaixada, agora, no lugar anteriormente ocupado pela igualmente popular, Júlia Pinheiro.
Pois bem, o negócio foi realizado há alguns tempos e ambas estavam já no activo também há algum tempo, no entanto eu é que ainda não tinha disposto do mesmo, e pelos vistos com alguma felicidade, para poder analisar o resultado do que, na prática, foi quase um negócio digno do mundo milionário do futebol.
Então o que se percebe no novo programa das tardes da TVI, comandado pela profissionalíssima Fátima Lopes: gritos. Gritos, berros, uma apresentadora que, desde que se mudou para a estação concorrente parece ter rapidamente ganho os hábitos de excessivo volume vocal da anterior líder das tardes, e uma dose inebriante de pessoas sedentas de ver pagas as suas contas caseiras, dispostas a revelar episódios embaraçosos da sua vida pessoal e capazes de cumprir as provas mais idiotas que se podem imaginar. E é, a meu ver, basicamente isto.
O que é feito, então, da refrescante Júlia Pinheiro? Foi procurar brilhantismo num programa cujo conceito foi já desmesuradamente explorado e que apenas pode contar, uma vez mais, com a determinação dos concorrentes se exporem totalmente para o país inteiro. Estará o nosso povinho tão desejoso de (re)conhecimento, ou dinheiro, para se sujeitar a que a sua vida privada, pessoal e intima, seja retalhada até ao mais incómodo pormenor e disposta para deleite de todos? Pessoas cujo passado seria digno de acanhar qualquer um, capaz de constranger a própria família, perdem o pudor e revelam a sua individualidade num programa de televisão que mais não é do que a invasão de privacidade no seu estado mais puro. Porquê?
Será melhor a crise ir-se embora para vermos se os portugueses recuperam o tino, ou então o estado da programação generalista acabará por seguir a tendência assustadoramente decrescente da economia nacional.

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