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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Centro de Investigação Champalimaud

Foi inaugurado no dia de ontem o Centro de Investigação Champalimaud em Lisboa. Um homem que, em vida, aparentava um ar grave e austero revelou na hora da sua morte o seu mais nobre e genuíno patriotismo e espirituosidade, destinando um terço da sua fortuna pessoal à criação de uma Fundação para promover a Ciência em Portugal. Um exemplo raro de filantropia em Portugal, só equiparado a um homem – Calouste Gulbenkian, um arménio, mas cujo coração é bem mais português do que o sangue que corre nas veias de alguns ditos puros portugueses. Um mecenas que deu um impulso decisivo, tremendo e fecundo à Cultura em Portugal ao escolher o nosso País para a localização da sua Fundação. António Champalimaud segue as suas pisadas e demonstra o seu espírito filantropo com o seu sonho – colocar Portugal no mapa da Ciência. Raros, senão inexistentes, são os exemplos de outros homens em Portugal que têm o seu altruísmo, o seu patriotismo, a sua generosidade. E por este prisma vemos o verdadeiro desdém e desprezo que as nossas elites sentem pelo nosso País. Quem pretende liderar, lidera pelo seu exemplo fecundo – pelo saber e autoridade da sua inteligência, pela nobreza do seu coração, pela elevação do seu espírito, pela força e coragem do seu punho. O património, quando existe em grande quantidade, não é mais do que um instrumento colocado ao serviço destas qualidades, mas nunca a qualidade determinante. As nossas elites podem ser grandes nas suas contas bancárias, mas não serão nunca grandes pelas outras qualidades – as mais relevantes – e, por isso, nunca poderão, verdadeiramente, ambicionar liderar. Os cifrões não palpitam os corações – quando esses homens olham para trás, vêem que ninguém os segue, a não ser os cobardes que são atraídos pelo brilho dos cifrões, e não pelo valor dos corações. Do seu exemplo nunca sairá uma luz suficientemente forte para que outros a sigam – apenas sai uma luz baça que não esconde um espírito igualmente sombrio.
No dia da comemoração do centenário da República, abre-se, assim, um novo rumo e uma nova dimensão – uma luz de esperança. Se Portugal há uns séculos liderou o mundo pelas descobertas pelos seus navegadores de novos mundos, pode agora ser uma referência pela descoberta pelos seus investigadores no campo da Ciência. Não há novos mundos por descobrir, mas há curas desconhecidas para doenças que afligem todo o mundo – e é a descoberta do desconhecido que hoje motiva a ciência.

Por fim, reservamos espaço para responder condignamente ao nosso Lord. Relembro ao leitor que fui vilmente acusado pelo nosso Lord na sua coluna de opinião - BRIC – Capítulo III – Índia. Tudo isto porque segundo o Lord, eu, Carlos Jorge Mendes, vergo osso e, empenhadamente, engraxo os sapatos ao nosso Primeiro-Ministro. Aprofundemos os factos. O Lord acusa-nos primeiro de vergastar à esquerda contra o Sr. Daniel Oliveira para justificar o despesismo do Estado. Ora relemos as nossas palavras atentamente, Voltamos a reler. Coçamos cabeça. Em seguida, cofiamos a barba. Colocamos a mão sob o queixo, um olhar profundo, mirando o infinito e adoptamos uma postura filosófica. Debalde. Para espanto nosso, não havia uma única menção minha ao despesismo do Estado, mas sim a necessidade de cumprir o défice de 7,3%. Se as metas do PEC vinham sendo incumpridas – ponto um -, era necessário arranjar alguma forma de reduzir o défice – ponto dois. Se era através de um tributo especialmente criado sobre o 13.ª mês, não o sabíamos, mas era necessário cumprir o défice. Lord Nelson, porém, inventou o ponto três – defendemos o despesismo do Estado. Eu questiono V. Ex.ª – não concorda o Lord com a imperiosidade de redução do défice? É que somente isto queríamos dizer. Lord Nelson assumindo a sua faceta de D. Quixote vendo a sua Dulcineia na nossa defesa do Estado vem atacar-nos por algo que é utopia! A mim, Sancho Panza!
Mas mais! O que verdadeiramente varou o nosso Lord foi a vergasta à direita – a nossa defesa autocrática de uma Constituição marxista, cheia de planos quinquenais e latifúndios – coisa tão velha quanto as barbas do próprio Marx. E isto quando nós falamos de…despedimentos! Ou seja: nós falamos de despedimentos, mas somos autocráticos porque defendemos planos quinquenais! Tudo isto tem explicação, no entanto. É verdade, Lord Nelson! Foi naquela noite! Aquela terrível noite! O céu escuro trovejava, e nenhuma luz raiava na bruma da noite! Então eu, sanguinolento, segurando na mão o Livro Vermelho de Mao Tse Tung lhe disse:
- Eu gosto é de latifúndios e planos quinquenais! Pobre da pessoa que se atrever a varrer da Constituição os planos quinquenais e os latifúndios!
Nesse momento retirei um punhal do bolso interior do casaco e fitei-o com os olhos esgazeados, loucos! O Lord recuou com horror! E desde essa terrível noite esta confissão vem assombrando o Lord até hoje!
E ainda por cima, caro Lord, falamos dos despedimentos num contexto muito particular – um militante renomado do PSD, o Sr. António Pinto Leite, acha que o mal do País e do Estado Social está nas nossas leis laborais e aponta como exemplo da plasticidade, da modulação e da flexibilidade – a Espanha. A Espanha que, recentemente, foi obrigada por puxão de orelhas pela Comissão Europeia a rever a legislação laboral! Quero dizer, o Estado Social é incompatível em Portugal pela rigidez laboral, mas em Espanha tudo é comportável porque a rigidez é ainda maior! É esta a argumentação da direita? E depois o Lord aponta-nos o dedo indignado pela nossa autocracia constitucional pelos planos quinquenais e latifúndios quando tudo o que falamos foi de despedimentos!

O que poderemos dizer para nos defender do florete argumentativo do nosso Lord? Nada, excepto que estamos vencidos! Se dizemos, por um lado, que é necessário reduzir o défice, o Lord diz-nos que defendemos o despesismo; se ironizamos a argumentação do Sr. António Pinto Leite sobre a flexibilidade laboral, somos autocráticos porque queremos os planos quinquenais!

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