Esta semana foram divulgados os resultados de um estudo da consultora Nielsen acerca dos níveis de confiança dos cidadãos de vários Estados mundiais. Em 53 países analisados, Portugal obteve o último lugar da tabela de confiança dos consumidores, com uma pontuação de 44 pontos, sendo que qualquer pontuação abaixo dos 100 pontos indica pessimismo relativamente às perspectivas dos consumidores no actual quadro económico-financeiro.
Caríssimos Leitores, mas alguém carecia da vinda a público deste estudo para sabermos que somos os consumidores mais pessimistas do Mundo?
Todos os dias somos bombardeados com notícias a propósito da crise em que Portugal, em particular, e a Europa, em geral, se encontram mergulhados. Os salários dos trabalhadores mantêm os seus níveis remuneratórios ou, no caso dos funcionários públicos, conhecem decréscimos nunca inferiores a cem euros mensais. No entanto, por seu turno, os preços dos bens e serviços elevam-se em consequência dos seus maiores custos até chegarem ao consumidor final (verbi gratia, para fazer face ao aumento dos custos suportados pelas transportadoras com as portagens e os combustíveis a preços cada vez mais elevados) e do previsível e quase constante aumento da taxa de IVA.
Ademais, a taxa de desemprego tem aumentado exponencialmente e continua a subir pelos dois dígitos acima. É igualmente preocupante, no que ao desemprego diz respeito, o número de jovens licenciados que nem sequer um primeiro emprego consegue encontrar ou então a situação vivida por aqueles que têm a sorte de o conseguir mas que, escassos meses mais tarde e subitamente, após terem já celebrado mútuos financeiros para a aquisição de habitação ou de viatura automóvel, se vêem atirados para o desemprego. Para além disso, todos sabemos que os jovens encontram-se num quadro de empregabilidade tão débil que, caso tenham a felicidade de encontrar uma vagazita numa qualquer empresa, mal iniciam a sua actividade profissional já sabem que ela só estará segura por seis ou sete meses, tal é a precariedade laboral.
Atentemos a uma outra franja societária, a das pessoas entre os 50 e os 64 anos. Muitos destes cidadãos viram-se inesperadamente desempregados nos últimos anos e, apesar das penalizações por se reformarem antes dos 65 anos, acabaram por se ver obrigados a requererem a aposentação, atendendo aos circunstancialismos e às dificuldades em encontrarem emprego.
Os portugueses também começam a consciencializar-se que, com a diminuta natalidade e com a tendência para um contínuo decréscimo, as reformas dos que se aposentam não vão, decerto, ficar asseguradas até ao final das suas vidas, sobretudo se atendermos a que a esperança média de vida conheceu um grande aumento nos últimos quinze anos.
E poderia usar todos os caracteres que me são possíveis para tentar acabar de pintar este quadro negro que nunca o conseguiria concluir tal é a austeridade (infelizmente, esta palavra passou a estar na moda, já repararam?)a que estamos submetidos.
Este estudo revela ainda que o aumento do preço dos alimentos é uma das maiores preocupações evidenciadas pelos europeus e que 71% dos inquiridos respondeu afirmativamente à pergunta: Considera que o seu país se encontra actualmente em recessão? Os portugueses afirmam ainda que, uma vez satisfeitas as despesas indispensáveis à sua sobrevivência, já quase nada sobra para poupar, contrariamente ao que sucedia há uma década atrás.
A perspectiva do aumento das medidas de austeridade e a crise cada vez mais profunda que vivenciamos tem penalizado abruptamente a confiança na Europa, numa altura em que os Governos tentam fazer face aos elevados défices e aos altos níveis de endividamento. Com tudo isto, haverá ainda lugar para alegrias? Onde reside a esperança que não a vislumbro?
Numa altura em que têm de ser fomentados incentivos ao empreendorismo e à dinamização das empresas, em que devem ser criados mais postos de trabalho ao invés de estes serem trocados por máquinas, em que todos os portugueses já não vivem, mas sobrevivem, vamos atentar só a números e ser inflexíveis a ponto de se dizer ser inegociável o objectivo de défice de 4,6%? Mesmo sabendo que, para tanto, vão ter de ser sacrificados mais empregos e consequentemente muitos agregados familiares? Apesar do tão almejado acordo, este Governo quererá levar sempre a sua avante atenta a presunção e birra de que está impregnado.
Os portugueses, meus Caros, não são pessimistas. São sim realistas, porque sabem analisar os problemas que os asfixiam e os atormentam e que se agigantam dia a dia, hora a hora, minuto a minuto.
A vida está má, está! Até para os marqueses!
Uma nota para vos dar conta que o ex-Primeiro-Ministro islandês vai ser processado pelo Parlamento da Islândia por negligência. Em Outubro de 2008, altura em que exercia o seu mandato, o sistema financeiro afundou-se. Em Janeiro de 2009, Geri Haarde demitiu-se, alegando sofrer de cancro. Agora, o Parlamento entendeu ser Geir o culpado pela ruptura da economia islandesa por não ter agido atempadamente de forma a travar o agudizar da crise. A falência do sistema financeiro conduziu a que muitos islandeses perdessem o emprego e mergulhassem em profundas dificuldades económicas. Hum... Estou a lembrar-me de alguém que também deveria ser processado pela actual conjuntura económico-financeira portuguesa. Vamos processá-lo?
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