No dia de hoje iremos transmitir as nossas últimas palavras em relação ao fenómeno religioso. Em relação às palavras de Lord Nelson diremos:
“Toda a realidade da matéria reside, com efeito, na sua actividade, e nenhuma outra lhe poderia ser atribuída, mesmo em pensamento. É por ela ser activa que ela preenche o espaço e o tempo; e é a sua acção sobre o objecto imediato, ele mesmo material, que cria a percepção, sem a qual não há matéria; o conhecimento da influência exercida por um qualquer objecto material sobre um outro só é possível se este último actuar por sua vez sobre o objecto imediato, de maneira diferente da anterior: a isso se reduz tudo aquilo que nós podemos saber. Ser causa e efeito, eis pois a própria essência da matéria; o ser consiste unicamente na sua actividade.”
Extremoso Lord, estas são palavras de Schopenhauer, retiradas do seu “Mundo como Vontade e Representação” e que demonstram a construção do mundo que nós conhecemos. Ora, se segundo Schopenhauer, “o ser consiste unicamente na sua actividade”, diga-nos o Lord onde vê os sinais da actividade de Deus? Não nos venha dizer, como nós já ironicamente criticamos, que V. Ex.ª é também um convertido ao catolicismo pelo reverencial terror ao dedo castigador divino? Como pode V. Ex.ª subestimar uma questão tão essencial como a existência de Deus? Não é a existência ou inexistência o ponto de partida para uma discussão subsequente em relação aos efeitos da actividade da matéria? E não nos diga, igualmente, que não é seu dever demonstrar a existência de Deus à nossa herege pessoa. Afinal de contas, se Sua Excelência, propositadamente, vem criticar a nossa posição religiosa, o Lord não pode limitar-se a afirmar a sua posição – mas sim, demonstrar as incongruências do nosso ponto de vista. Assobiar para o ar e afirmar que Deus, efectivamente, existe e que a minha pessoa é um ímpio não contraria a nossa posição – pelo contrário, é V. Ex.ª que se encontra em estado de negação e que se recusa a discutir factos. Sua excelência afirma ainda que não pretende converter a nossa alma mefistofélica. Caro Lord, pregar aos convertidos é fácil; mudar consciências, com base nos seus argumentos, é tarefa de mais árdua execução. Sua Excelência ataca a nossa posição, reafirma a sua e, logo em seguida, furta-se ao debate, refugiando-se no argumento da pregação para o leitor fiel. Estimado Lord, nós, ajoelhados, de mãos estendidas para V. Ex.ª, lhe ofertamos Filosofia. Sua Excelência esbofeteia a nossa face com parábolas…Com isso não podemos competir, caro Lord!...
Mas V. Ex.º reputa-nos, além do mais, como falsos!...Falsos, caro Lord!...Um aldrabão, um trafulha, um trapaceiro, um impostor, um batoteiro, um charlatão, um caluniador! E tudo isto porque não notificamos a Bíblia para que ela comparecesse e testemunhasse o nosso julgamento?
Mas note Sua Excelência como nós transmitimos a ideia da mensagem da Bíblia, sem, contudo, sentirmos a necessidade de, ipsis verbis, a mencionar. Mas, pois bem, caro Lord…V. Ex.ª venera os procedimentos formais, nós dar-vos-emos os procedimentos formais.
Na 1ª Carta de São Pedro, sobre a “Sublimidade da Vocação Cristã”, reza o seguinte:
“Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, crestes n’Ele e isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque estais certos de obter, como prémio da vossa fé, a salvação das almas”. A salvação das almas, caro Lord! Como prémio da fé, caro Lord!...Crendo em Deus, aí tem o mortal – a salvação o espera!...Agora diga-nos, estimado Lord – necessitamos nós de traduzir toda a mensagem cristã ou não somos nós dignos de a interpretar só porque não cremos no seu adorado Deus? Julgávamos nós que todos os Homens eram iguais em dignidade e que os ateus não seriam menos dignos dos católicos.
Na mesma carta, caro Lord, reza também o seguinte:
“E vós mesmos, como pedras vivas, entrai na construção de um edifício espiritual, por meio dum sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais que serão agradáveis a Deus, por Jesus Cristo”.
Agradáveis a Deus, estimado Lord? Então V. Ex.ª não reconhece nestas palavras aquilo que nós dizíamos “de um conjunto de práticas que têm por fim cativar Deus” e que, supostamente, seriam destituídas de sentido por não termos chamado a Bíblia a interrogatório e a termos submetido a um formulário de questões inquisitivas?
E, contudo, para que o Lord se aperceba da espiritualidade e da bondade da nossa alma nós lhe diremos que não somos frontalmente contra a religião. Apesar de negarmos a existência de Deus aos nossos olhos e de concluirmos pela falta de fundamento religioso, nós reconhecemos o direito às almas para crerem em tudo quanto bem entenderem. Mas nós, recorrendo ao filósofo que, nas profundezas da nossa alma habita, ainda assim, criticamos a religião que vemos nos presentes dias – queira V. Ex.ª colocar o homem, desguarnecido de todos os rituais católicos, unicamente em contacto com o seu Deus e aí terá o Lord um bom exemplo do que deve ser a religião. Como talvez, há uns anos atrás, uns certos pastorinhos, nas suas roupas simples, na sua humilde pobreza, mas de coração puro e são, encontraram, singelamente, sob uma azinheira, uma imagem, cuja luz era forte e intensa. Esses caminhavam, respeitosos pelos prados da Cova da Iria com o seu rebanho e, depois de cumprirem a obrigação para com as suas ovelhas, ajoelhados e modestos, com um terço na mão, rezavam na sua inocência nessa sua comunhão com o espírito divino, sem qualquer interferência. E eis que ele lhes surge a …”Senhora mais brilhante que o Sol”…Nota V. Ex.ª alguma semelhança deste modo de entender a religião com aquilo que vê hoje? Uma comunhão unicamente espiritual, despida dos ritos tendentes a captar a atenção de Deus, mas sim com o Homem, modestamente, comunicando com o seu Deus, sem ter por intermédio Papas, Cardeais, Bispos, Sacerdotes ou Padres. V. Ex.ª poderá argumentar que para isso acontecer que será necessário que em cada espírito se encontre um filósofo…Nós lhe diremos apenas que, em cada espírito, é apenas necessário que haja uma alma inocente…
“Toda a realidade da matéria reside, com efeito, na sua actividade, e nenhuma outra lhe poderia ser atribuída, mesmo em pensamento. É por ela ser activa que ela preenche o espaço e o tempo; e é a sua acção sobre o objecto imediato, ele mesmo material, que cria a percepção, sem a qual não há matéria; o conhecimento da influência exercida por um qualquer objecto material sobre um outro só é possível se este último actuar por sua vez sobre o objecto imediato, de maneira diferente da anterior: a isso se reduz tudo aquilo que nós podemos saber. Ser causa e efeito, eis pois a própria essência da matéria; o ser consiste unicamente na sua actividade.”
Extremoso Lord, estas são palavras de Schopenhauer, retiradas do seu “Mundo como Vontade e Representação” e que demonstram a construção do mundo que nós conhecemos. Ora, se segundo Schopenhauer, “o ser consiste unicamente na sua actividade”, diga-nos o Lord onde vê os sinais da actividade de Deus? Não nos venha dizer, como nós já ironicamente criticamos, que V. Ex.ª é também um convertido ao catolicismo pelo reverencial terror ao dedo castigador divino? Como pode V. Ex.ª subestimar uma questão tão essencial como a existência de Deus? Não é a existência ou inexistência o ponto de partida para uma discussão subsequente em relação aos efeitos da actividade da matéria? E não nos diga, igualmente, que não é seu dever demonstrar a existência de Deus à nossa herege pessoa. Afinal de contas, se Sua Excelência, propositadamente, vem criticar a nossa posição religiosa, o Lord não pode limitar-se a afirmar a sua posição – mas sim, demonstrar as incongruências do nosso ponto de vista. Assobiar para o ar e afirmar que Deus, efectivamente, existe e que a minha pessoa é um ímpio não contraria a nossa posição – pelo contrário, é V. Ex.ª que se encontra em estado de negação e que se recusa a discutir factos. Sua excelência afirma ainda que não pretende converter a nossa alma mefistofélica. Caro Lord, pregar aos convertidos é fácil; mudar consciências, com base nos seus argumentos, é tarefa de mais árdua execução. Sua Excelência ataca a nossa posição, reafirma a sua e, logo em seguida, furta-se ao debate, refugiando-se no argumento da pregação para o leitor fiel. Estimado Lord, nós, ajoelhados, de mãos estendidas para V. Ex.ª, lhe ofertamos Filosofia. Sua Excelência esbofeteia a nossa face com parábolas…Com isso não podemos competir, caro Lord!...
Mas V. Ex.º reputa-nos, além do mais, como falsos!...Falsos, caro Lord!...Um aldrabão, um trafulha, um trapaceiro, um impostor, um batoteiro, um charlatão, um caluniador! E tudo isto porque não notificamos a Bíblia para que ela comparecesse e testemunhasse o nosso julgamento?
Mas note Sua Excelência como nós transmitimos a ideia da mensagem da Bíblia, sem, contudo, sentirmos a necessidade de, ipsis verbis, a mencionar. Mas, pois bem, caro Lord…V. Ex.ª venera os procedimentos formais, nós dar-vos-emos os procedimentos formais.
Na 1ª Carta de São Pedro, sobre a “Sublimidade da Vocação Cristã”, reza o seguinte:
“Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, crestes n’Ele e isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque estais certos de obter, como prémio da vossa fé, a salvação das almas”. A salvação das almas, caro Lord! Como prémio da fé, caro Lord!...Crendo em Deus, aí tem o mortal – a salvação o espera!...Agora diga-nos, estimado Lord – necessitamos nós de traduzir toda a mensagem cristã ou não somos nós dignos de a interpretar só porque não cremos no seu adorado Deus? Julgávamos nós que todos os Homens eram iguais em dignidade e que os ateus não seriam menos dignos dos católicos.
Na mesma carta, caro Lord, reza também o seguinte:
“E vós mesmos, como pedras vivas, entrai na construção de um edifício espiritual, por meio dum sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais que serão agradáveis a Deus, por Jesus Cristo”.
Agradáveis a Deus, estimado Lord? Então V. Ex.ª não reconhece nestas palavras aquilo que nós dizíamos “de um conjunto de práticas que têm por fim cativar Deus” e que, supostamente, seriam destituídas de sentido por não termos chamado a Bíblia a interrogatório e a termos submetido a um formulário de questões inquisitivas?
E, contudo, para que o Lord se aperceba da espiritualidade e da bondade da nossa alma nós lhe diremos que não somos frontalmente contra a religião. Apesar de negarmos a existência de Deus aos nossos olhos e de concluirmos pela falta de fundamento religioso, nós reconhecemos o direito às almas para crerem em tudo quanto bem entenderem. Mas nós, recorrendo ao filósofo que, nas profundezas da nossa alma habita, ainda assim, criticamos a religião que vemos nos presentes dias – queira V. Ex.ª colocar o homem, desguarnecido de todos os rituais católicos, unicamente em contacto com o seu Deus e aí terá o Lord um bom exemplo do que deve ser a religião. Como talvez, há uns anos atrás, uns certos pastorinhos, nas suas roupas simples, na sua humilde pobreza, mas de coração puro e são, encontraram, singelamente, sob uma azinheira, uma imagem, cuja luz era forte e intensa. Esses caminhavam, respeitosos pelos prados da Cova da Iria com o seu rebanho e, depois de cumprirem a obrigação para com as suas ovelhas, ajoelhados e modestos, com um terço na mão, rezavam na sua inocência nessa sua comunhão com o espírito divino, sem qualquer interferência. E eis que ele lhes surge a …”Senhora mais brilhante que o Sol”…Nota V. Ex.ª alguma semelhança deste modo de entender a religião com aquilo que vê hoje? Uma comunhão unicamente espiritual, despida dos ritos tendentes a captar a atenção de Deus, mas sim com o Homem, modestamente, comunicando com o seu Deus, sem ter por intermédio Papas, Cardeais, Bispos, Sacerdotes ou Padres. V. Ex.ª poderá argumentar que para isso acontecer que será necessário que em cada espírito se encontre um filósofo…Nós lhe diremos apenas que, em cada espírito, é apenas necessário que haja uma alma inocente…
Sem comentários:
Enviar um comentário