A situação actual da economia portuguesa resume-se, facilmente, da seguinte forma – queira sua excelência, o leitor, imaginar uma piñata; esta representará a economia portuguesa e contém alguns doces dentro de si. Agora queira o leitor imaginar algumas crianças gulosas e ávidas desses doces que a piñata encerra dentro de si, empunhando severos barrotes de madeira, agredindo, violentamente a piñata – essas crianças são os nossos credores. E, caro leitor, temos a comunicar que vimos sendo, barbaramente, atacados por essas criancinhas. Esse ataque foi, no entanto, refreado quinta e sexta-feira.
A União Europeia está a ter um comportamento miserável e deplorável durante todo este processo. Em particular, a Alemanha. É bastante claro que a presente crise não é apenas uma crise grega. É uma crise que é, ameaçadoramente, sistémica, caso não seja resolvida prontamente. O desprezo a que se votar o tratamento do problema grego tem o risco de gerar um efeito de contágio, acto contínuo sobre Portugal, mas não só – a Espanha e a Irlanda correm, igualmente esse risco, tal como a Itália, embora em menor escala ainda. Os espanhóis, particularmente, experimentaram graves dificuldades nesta semana. A S&P reduziu o seu rating e o adiamento da solução grega teve forte influência na bolsa espanhola. Os diários El Mundo e El País davam conta das preocupações do lado de lá das fronteiras. Os receios relativos à hesitação da União Europeia em relação à crise grega provocaramm sérios problemas sobre a Grécia, como também sobre os países que enfrentam conjunturas semelhantes – altos défices públicos e baixas perspectivas de crescimento. Nesse lote, Portugal, Irlanda, Espanha e Grécia estão no mesmo barco no que toca às preocupações dos credores – isto, sublinhe-se quanto a elevados défices e perspectivas de crescimento, ainda que com diferenças dos três primeiros face à Grécia; tal nunca é demais acentuar. Mas não tenhamos ilusões – caso o problema grego não seja encarado com a preocupação que é devida, o problema tornar-se-á sistémico. Porém, essa simples ameaça reclama já uma solução rápida e conjunta da União Europeia de modo a fornecer aos mercados os sinais de que a Europa não deixará cair a Grécia. E, neste aspecto, como já referimos, a Alemanha tem andado muito mal. É certo que foram os gregos que se colocaram na situação em que se encontram, sobretudo, devido a mecanismos fraudulentos de engenharia financeira. Mas os alemães devem estar cientes que a sua inacção está a causar elevados encargos não só na Grécia – que se manifestam nas altíssimas taxas de juro que os credores vão impondo ao governo e perdas diárias brutais na bolsa –, como nos países que podem enfrentar problemas semelhantes caso medidas não sejam tomadas. A sua decisão inicial de adiar uma reunião da União para dia 10 de Maio, apenas após as eleições regionais que se devem disputar a dia 9 na Alemanha, tem severas consequências. O povo alemão, naturalmente, opõe-se ao plano de resgate da Grécia; algumas personalidades de relevo da Alemanha ameaçam mesmo com pedidos de declaração de inconstitucionalidade no Tribunal caso o plano avance efectivamente. Mas a Chanceler tão-pouco se preocupa em explicar à opinião pública alemã os motivos que levam a que este plano seja concretizado – um problema sistémico que ameace a UE requer uma solução conjunta dos seus países, da qual a Alemanha, como grande motor da economia europeia não se pode furtar. Isto é do seu próprio interesse Um dos grandes receios da Alemanha passa pelo aumento desmesurado da sua dívida pública que, actualmente, se cifra nos 77%. Há o medo de que o plano de ajuda à Grécia face aumentar, gravemente, essa divida pública. Mas a forma de ajuda à Grécia não será efectuada através de doações – ela será feita através de empréstimos com uma taxa de juro que, segundo se diz, deverá rondar os 5%. E sejamos claros, a negação de ajuda à Grécia por parte da Alemanha terá consequências nefastas nos seus bancos privados, muito expostos a um incumprimento por parte dos Gregos. Foi, portanto, com normalidade, que assistimos na quinta-feira a uma declaração conjunta de Dominique Strauss-Kahn, presidente do FMI, e de Merkel no sentido de acalmar os mercados. Merkel disse claramente: "It is clear that the negotiations must now be accelerated”, citada pela alemã Der Spiegel. O efeito desta declaração foi simples – as taxas de juro de Portugal e Grécia desceram e as bolsas subiram. Nada há de mais simples do que resolver os problemas.
E a situação portuguesa? A situação portuguesa continua caótica. Quinta-feira, sua edificante excelência, António Mendonça, anunciou ao País que o Governo pensou, reflectiu, coçou o queixo, coçou o cabelo, e chegou a uma conclusão – tudo é para se manter: vão apenas amputar uma auto-estrada. Rejubilem! O anúncio é corajoso, mas estúpido – o País não cresce apenas à custa da Mota-Engil e o Governo tem de diversificar o apoio às empresas. Um dia antes, Pedro Passos Coelho e José Sócrates reuniram-se em São Bento e chegaram a outra conclusão – é necessário amputar parte do subsídio de desemprego. Ora, isto é perigoso. O subsídio de desemprego não é uma esmola concedida a indivíduos ociosos. O trabalhador contribui para a Segurança Social do seu próprio salário de forma a acautelar situações de precariedade, como a presente. Os problemas não se resolvem com demagogia, cedendo a uma tentação de direita. O Governo deve incentivar a procura de trabalho, e restringir certas situações relativas ao subsidio de desemprego, nomeadamente a possibilidade de recusa por parte do desempregado de certas ofertas, mas não reduzir esse subsidio, sobretudo no que toca às pessoas cujo último salário foi baixo. A solução do problema português é dolorosa e difícil, mas é possível – basta estar atento às palavras de Paul Krugman no New York Times: “During the years of easy money, wages and prices in the crisis countries rose much faster than in the rest of Europe. Now that the money is no longer rolling in, those countries need to get costs back in line”. Krugman sugere um processo de deflação – ele é o único modo de Portugal recuperar alguma competitividade face aos parceiros europeus. Acrescenta, por fim, o mesmo Krugman: “The problem is that deflation — falling wages and prices — is always and everywhere a deeply painful process. It invariably involves a prolonged slump with high unemployment. And it also aggravates debt problems, both public and private, because incomes fall while the debt burden doesn’t.”
A União Europeia está a ter um comportamento miserável e deplorável durante todo este processo. Em particular, a Alemanha. É bastante claro que a presente crise não é apenas uma crise grega. É uma crise que é, ameaçadoramente, sistémica, caso não seja resolvida prontamente. O desprezo a que se votar o tratamento do problema grego tem o risco de gerar um efeito de contágio, acto contínuo sobre Portugal, mas não só – a Espanha e a Irlanda correm, igualmente esse risco, tal como a Itália, embora em menor escala ainda. Os espanhóis, particularmente, experimentaram graves dificuldades nesta semana. A S&P reduziu o seu rating e o adiamento da solução grega teve forte influência na bolsa espanhola. Os diários El Mundo e El País davam conta das preocupações do lado de lá das fronteiras. Os receios relativos à hesitação da União Europeia em relação à crise grega provocaramm sérios problemas sobre a Grécia, como também sobre os países que enfrentam conjunturas semelhantes – altos défices públicos e baixas perspectivas de crescimento. Nesse lote, Portugal, Irlanda, Espanha e Grécia estão no mesmo barco no que toca às preocupações dos credores – isto, sublinhe-se quanto a elevados défices e perspectivas de crescimento, ainda que com diferenças dos três primeiros face à Grécia; tal nunca é demais acentuar. Mas não tenhamos ilusões – caso o problema grego não seja encarado com a preocupação que é devida, o problema tornar-se-á sistémico. Porém, essa simples ameaça reclama já uma solução rápida e conjunta da União Europeia de modo a fornecer aos mercados os sinais de que a Europa não deixará cair a Grécia. E, neste aspecto, como já referimos, a Alemanha tem andado muito mal. É certo que foram os gregos que se colocaram na situação em que se encontram, sobretudo, devido a mecanismos fraudulentos de engenharia financeira. Mas os alemães devem estar cientes que a sua inacção está a causar elevados encargos não só na Grécia – que se manifestam nas altíssimas taxas de juro que os credores vão impondo ao governo e perdas diárias brutais na bolsa –, como nos países que podem enfrentar problemas semelhantes caso medidas não sejam tomadas. A sua decisão inicial de adiar uma reunião da União para dia 10 de Maio, apenas após as eleições regionais que se devem disputar a dia 9 na Alemanha, tem severas consequências. O povo alemão, naturalmente, opõe-se ao plano de resgate da Grécia; algumas personalidades de relevo da Alemanha ameaçam mesmo com pedidos de declaração de inconstitucionalidade no Tribunal caso o plano avance efectivamente. Mas a Chanceler tão-pouco se preocupa em explicar à opinião pública alemã os motivos que levam a que este plano seja concretizado – um problema sistémico que ameace a UE requer uma solução conjunta dos seus países, da qual a Alemanha, como grande motor da economia europeia não se pode furtar. Isto é do seu próprio interesse Um dos grandes receios da Alemanha passa pelo aumento desmesurado da sua dívida pública que, actualmente, se cifra nos 77%. Há o medo de que o plano de ajuda à Grécia face aumentar, gravemente, essa divida pública. Mas a forma de ajuda à Grécia não será efectuada através de doações – ela será feita através de empréstimos com uma taxa de juro que, segundo se diz, deverá rondar os 5%. E sejamos claros, a negação de ajuda à Grécia por parte da Alemanha terá consequências nefastas nos seus bancos privados, muito expostos a um incumprimento por parte dos Gregos. Foi, portanto, com normalidade, que assistimos na quinta-feira a uma declaração conjunta de Dominique Strauss-Kahn, presidente do FMI, e de Merkel no sentido de acalmar os mercados. Merkel disse claramente: "It is clear that the negotiations must now be accelerated”, citada pela alemã Der Spiegel. O efeito desta declaração foi simples – as taxas de juro de Portugal e Grécia desceram e as bolsas subiram. Nada há de mais simples do que resolver os problemas.
E a situação portuguesa? A situação portuguesa continua caótica. Quinta-feira, sua edificante excelência, António Mendonça, anunciou ao País que o Governo pensou, reflectiu, coçou o queixo, coçou o cabelo, e chegou a uma conclusão – tudo é para se manter: vão apenas amputar uma auto-estrada. Rejubilem! O anúncio é corajoso, mas estúpido – o País não cresce apenas à custa da Mota-Engil e o Governo tem de diversificar o apoio às empresas. Um dia antes, Pedro Passos Coelho e José Sócrates reuniram-se em São Bento e chegaram a outra conclusão – é necessário amputar parte do subsídio de desemprego. Ora, isto é perigoso. O subsídio de desemprego não é uma esmola concedida a indivíduos ociosos. O trabalhador contribui para a Segurança Social do seu próprio salário de forma a acautelar situações de precariedade, como a presente. Os problemas não se resolvem com demagogia, cedendo a uma tentação de direita. O Governo deve incentivar a procura de trabalho, e restringir certas situações relativas ao subsidio de desemprego, nomeadamente a possibilidade de recusa por parte do desempregado de certas ofertas, mas não reduzir esse subsidio, sobretudo no que toca às pessoas cujo último salário foi baixo. A solução do problema português é dolorosa e difícil, mas é possível – basta estar atento às palavras de Paul Krugman no New York Times: “During the years of easy money, wages and prices in the crisis countries rose much faster than in the rest of Europe. Now that the money is no longer rolling in, those countries need to get costs back in line”. Krugman sugere um processo de deflação – ele é o único modo de Portugal recuperar alguma competitividade face aos parceiros europeus. Acrescenta, por fim, o mesmo Krugman: “The problem is that deflation — falling wages and prices — is always and everywhere a deeply painful process. It invariably involves a prolonged slump with high unemployment. And it also aggravates debt problems, both public and private, because incomes fall while the debt burden doesn’t.”
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