A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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terça-feira, 11 de maio de 2010

Eu também já tive os meus azares mas nunca furtei gravadores

Antes de passar ao post propriamente dito, permita-me o leitor duas considerações prévias:

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  1. A deputada Inês de Medeiros recusou as viagens pagas a Paris. Tal merece o nosso elogio – é, de facto, a conduta que esperávamos de uma deputada da nação. Pena é que tivesse chegado a requerer tal coisa. Mas erros, todos nós cometemos e saber voltar atrás e admiti-los é uma virtude. Os nossos parabéns à senhora deputada.
  2. Queira o leitor juntar-se a nós e dar as boas vindas ao 4.º elemento desta equipa – trata-se de M. Pompadour. Esta senhora importada directamente do século XVIII e amante do Rei Luís XV de França foi a criadora do famosíssimo slogan – arroz da cantina: nem mole nem duro, o arroz do futuro, e representa, juntamente connosco, a ala mais aristocrática e snob deste blog. Aguardamos os futuros posts e esperamos que o leitor também os aguarde.


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Ora então a crise anda a apertar… E aperta bastante. Aperta tanto que agora os ilustres deputados da nação andam a “surripiar” os bens dos jornalistas… Isto está mau mesmo para todos.

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Se o leitor não sabe o que se passa, nós lho contamos, com as palavras do El País: "Um deputado português interrompe uma entrevista e leva os gravadores consigo (...) a cena foi gravada em vídeo pelos jornalistas da revista Sábado, que apresentaram uma queixa por roubo e atentado à liberdade de imprensa e informação." O deputado é o Sr. Ricardo Rodrigues, vice-líder da bancada parlamentar do PS

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Antes de mais devemos dizer que o crime nos fascina. Gostamos de ver o fenómeno criminoso, e nele descortinamos o bom e o mau, admirando a criatividade e a competência do mestre criminoso – quem não conhece a história de Alves dos Reis e vê ali um génio?

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Ora a ser tal conduta acima descrita crime, somos do entendimento que poderá pertencer à categoria do mau. Este episódio, com certeza, não figurará nas páginas mais douradas da criminalidade portuguesa pois enferma de imbecilidade. O Sr. Deputado irritou-se com as acusações de envolvimento em alguns escândalos (desde criminalidade organizada a pedofilia) e terá agido de cabeça quente – mesmo assim merece reparo: primeiro: quem é que julga que a melhor maneira de não se falar de uma coisa é furtando os gravadores dos jornalistas? Eles iam-se calar? Encolher os ombros e ir para a redacção pedir uns trocos para ir aos chineses comprar outros gravadores? O fim é completamente desadequado, o iter criminis não foi convenientemente estudado. Segundo: quem é que furta os gravadores e deixa a câmara de filmar onde se vê os gravadores a serem furtados? Isto é da incompetência mais pura… Este tipo de criminosos não nos entusiasma e pedimos encarecidamente ao senhor deputado que deixe de fazer coisas para as quais não tem jeito nenhum. O Sr. Deputado pergunta na entrevista “O que quer que eu faça da vida?” Nós lhe respondemos: primeiro demita-se, depois peça desculpas e por fim retire-se para bem longe… Haja decência.

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Veio depois falar-se da acção directa: ora isto ainda é mais imbecil. Diz Sua Excelência: “Porque a pressão exercida sobre mim constituiu uma violência psicológica insuportável, (…) exerci a acção directa e irreflectidamente tomei posse de dois equipamentos de gravação digital…” A acção directa depende de vários pressupostos – e não se verificaram: nem vemos qual o direito que poderia ser lesado, nem reputamos o meio como adequado, nem foi indispensável e foi claramente uma conduta excessiva. A somar a tudo isto refira-se que os direitos sacrificados eram superiores: para além do direito de propriedade está também em causa o direito de sigilo dos jornalistas, previsto na nossa lei.

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Fique o leitor a saber que o material utilizado pelos jornalistas no exercício da sua profissão só pode ser apreendido no decurso das buscas em órgãos de comunicação social, ordenadas ou autorizadas pelo juiz que preside pessoalmente à diligência.

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Senhor Deputado, nós, tal como Vossa Excelência, somos Licenciados em Direito – e nesta qualidade lhe dizemos: vá contar histórias a outros porque connosco, isso não pega. Qual acção directa, qual quê? Se tivesse dito isso numa prova oral estava logo chumbado!

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Assim se conclui que o senhor deputado nem sabe do crime, nem sabe da lei. Mas apesar de não saber nada e de ter perdido toda mas mesmo toda não ficando nenhuma, nem um restinho ínfimo, da sua credibilidade não se demite e é apoiado pelo seu partido – o PS. Está tudo maluco - é oficial. Louvamos Vital Moreira que no seu blog condenou tais peripécias, mostrando que ainda existe alguma lucidez no PS. Quem haveria de dizer que a última pessoa com juízo no PS seria o Vital Moreira?

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Se isto não é o canto de finados do regime temos medo do que ainda aí vem…

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