A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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quinta-feira, 20 de maio de 2010

Esclarecimentos



No nosso último post referimo-nos à mensagem presidencial aquando da promulgação da lei do casamento homossexual nestes termos: “Em Portugal isso é sinónimo de Presidente de mãos atadas pelo Parlamento (mas com excelente discurso, diga-se) ”.

Ora tal comentário parece ter causado no nosso auditório (ou por menos na parte nossa conhecida) a impressão que teríamos apoiado a intervenção presidencial. De facto, o nosso comentário não foi nada esclarecedor… E para não haver dúvidas dizemo-lo claramente: não gostamos da atitude do presidente. Ora vamos lá por partes (como dizia Jack, o estripador):
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Quanto à substância das declarações estamos de acordo (e era a isso que nos referíamos). Julgamos que a união entre duas pessoas de sexo igual deveria ser possível à luz da lei mas com um regime diferenciado do do casamento. Não se justifica esta igualdade de situações diferentes – nem à luz da história do instituto nem por argumentos de eventuais inconstitucionalidades. A nossa posição mantém-se igual à deste tempo. Também não nos revemos em abordagens simplistas que identificam o casamento homossexual com o progresso e os que com ele não concordam como ogres medievais. A seriedade necessária às reformas legislativas não se coaduna com esta abordagem muito colada aos ensinamentos dos “gurus” do politicamente correcto.
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O que nos levou a criticar o presidente foram sobretudo duas coisas:
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Coisa número um: é indecente vir atacar uma lei que irá ser promulgada. Se o presidente discordava tinha apensa que enviar o diploma ao parlamento com as suas razões e o seu veto, mesmo que o julgasse inútil.
O que se fez foi política alcoviteira em que o chefe de Estado assume um papel de virgem ofendida em todo o processo: mas ao querer salvaguardar a sua posição política ataca e fere o diploma que promulga. A Lei não pode ser atacada desta maneira e as acusações feitas à Assembleia parecem estar longe da prometida “cooperação institucional”. O respeito pela Lei também é respeito nas declarações que se fazem acerca dela e o presidente devia ser o primeiro a respeitar – como chefe do regime.
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Coisa número dois: A mensagem presidencial também chamou a atenção para o carácter acessório destas discussões em tão grave momento para a nação – e que foi até um dos motivos que levou à sua promulgação. E perguntámos nós: se isto é tão acessório e a economia tão fundamental por que raio Sua Excelência vem falar disto em horário nobre em todas as televisões? Isto é lógico? Não percebemos…
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Também informamos não ter gostado das duas moscas (ou traças) que varejavam à volta de Sua Excelência, enquanto Sua Excelência falava… A mim distraiu-me.
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Ж
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Uma última palavra para responder ao Dr. Carlos: sim nós papagueamos (aí tem a confissão – o que não é grande confissão já que pusemos aspas e indicámos o lugar de onde saíram as transcrições). Mas nós papagueamos a mensagem que V. Exa. criticou sem ler nem dar ao leitor. Chama-se a isto contraditório. Assim pode o leitor analisar e tirar as suas próprias conclusões.
E foi este o nosso objectivo – permitir o contraditório (que desconstrói os seus ataques avulsos) e não tentar converter a sua alma herege, motivo pelo qual não andamos por aqui a discutir a existência ou não existência de Deus. Não falávamos para si Dr. Carlos, mas para os nossos outros leitores.
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No entanto, se está com necessidade de se voltar para a fé e esperaria que o nosso post resolvesse as suas questões existenciais, pedimos-lhe desculpa… E aconselhamos a que se dirija à igreja mais próxima e peça para falar com um padre. É que nós não o somos…

1 comentário:

Street Fighting Man disse...

fulminantes e certeiras as suas duas coisas, excelso lord. o nosso retumbante presidente pugnou na sua intervenção, como de resto já não nos surpreende por aí além, por demonstrar o seu lado ofendido de menina puritana e birrenta de colégio. se sentia acossado que vetasse e já toda a gente ficaria a saber que era contra o diploma. se o tivesse de promulgar à mesma, vidas, como diz a raia miúda.