Manuel Alegre anunciou na passada terça-feira, oficialmente, a sua candidatura à Presidência da República. Incompreensivelmente, o PS continua a hesitar na demonstração do seu apoio a Alegre. Incompreensivelmente por um simples motivo – o PS não tem alternativa. Alegre pode não ser o candidato ideal para derrotar Cavaco. Todavia, em função das condições existentes, ele é a única alternativa viável. O PS não pode manifestar o seu apoio a outro candidato, negligenciando o milhão de votos que Alegre obteve nas últimas presidências e uma considerável base de apoio cuja proveniência advém, precisamente, de socialistas desiludidos. Para além disso, hostilizar este milhão de pessoas inconformado, de certa forma, com o estilo de governação socialista poderá ser o sinal rompimento definitivo de laços com eleitores cuja base ideológica é de esquerda moderada. É a altura da reconciliação.
A máquina do PS poderá ser útil a Alegre para poder atingir a segunda volta, mas não é, de modo algum, garantia suficiente de uma vitória nas presidenciais. O apoio que Alegre poderá deter numa segunda volta do PS, do PCP e do BE, numa aliança à esquerda deve ser analisada à luz de outras circunstâncias. E Alegre terá consciência que a sua vitória nas Presidenciais se afigura inverosímil senão for capaz de recolher o apoio do voto do centro político. Só por este prisma se compreende a reticência do PS em manifestar o apoio oficial ao poeta. Manuel Alegre é uma personalidade marcadamente de esquerda, velho representante de uma ala esquerdista do PS profundamente socialista. Este facto é um forte entrave ao cativar de votos ao centro. Ora, como a decisão de uma eleição continua sobretudo a ser travada ao centro, captando o voto dos apartidários que optam entre PS e PSD, sobretudo pelo perfil dos candidatos e pelas suas ideias, de facto, Manuel Alegre terá dificuldades em convencer este eleitor. Neste aspecto, Cavaco leva clara vantagem sobre Alegre. São conhecidas, de resto, as posições de Alegre enquanto deputado na AR na anterior legislatura, votando contra o novo Código de Trabalho, em oposição com a própria bancada do PS. E isto levanta uma questão – chegada a altura em que serão necessárias reformas estruturais que colidam com os interesses estabelecidos, não só dos poderosos e dos ricos, mas também de algumas corporações esquerdistas em torno do Estado – sindicatos – será Alegre o Chefe de Estado de que Portugal necessita? Um dos argumentos que Alegre invoca face a Cavaco é a sua intromissão na esfera governativa. Pessoalmente, temos sérias dúvidas que Alegre fosse capaz, como homem de esquerda, de assistir, impávido e sereno, a esse tipo de mudanças, sem se intrometer no poder executivo.
A vantagem de Alegre em relação a Cavaco reside na sua identificação com um Portugal de outros valores, a sua ligação afectiva com o País, o seu entendimento da tradição e da História do País. Mas isso não é suficiente. Nós, outrora, sonhávamos também com um conjunto de homens de letras, espirituosos e providenciais, de alma virtuosa, liderando o País, vislumbrando o Quinto Império de Pessoa. A situação não está, todavia, para quimeras pueris. Não nos revemos, por isso, na afirmação de Carlos César, dizendo que “o tempo não está para contabilistas”, citado pelo Expresso. Reduzir Cavaco a um contabilista é um equívoco. Na actualidade, a Política anda de mão dada com a Economia – basta estar atento aos títulos dos jornais nas últimas semanas: a Economia é o tema da actualidade. Alegre terá, portanto, que se esforçar e se concentrar para apelar ao voto do centro, sem trair a sua militância de esquerda – o que será, com certeza, uma tarefa complicada, senão incompatível. Contudo, ele dispõe, já, da base essencial do apoio da esquerda e, ocasionalmente, terá de piscar o olho ao centro. As Presidenciais serão apenas em Janeiro do próximo ano, mas os candidatos serão chamados, frequentemente, a intervir nos próximos meses que se adivinham de intensa actividade política. Nessa altura, Alegre não se poderá prender aos velhos chavões de esquerda do PCP e do BE – o proletariado. Numa economia global, as empresas – a velha hidra da direita – são a chave da recuperação do País. Alegre terá de ter a clareza de espírito para reconhecer isso e reconhecer, por extensão, que são necessárias reformas mais liberalizantes no que toca ao Código do Trabalho ou a reformulação da política de prestações sociais. O Estado Social existe, apenas, no limite das possibilidades da existência de riqueza para distribuir. Como uma das debilidades estruturais de Portugal é a sua fraca produtividade, não podemos permanecer a redistribuir aquilo que não possuímos – é uma evidência lógica. Não podemos ambicionar a um modelo de Estado redistributivo semelhante aos Países da Europa do Norte, quando não temos uma produtividade idêntica àqueles. A redistribuição tem de existir na medida da competitividade. E se Portugal não for um País competitivo, não poderá haver uma redistribuição equitativa da riqueza – sem produção riqueza como podemos sequer redistribuir?
A máquina do PS poderá ser útil a Alegre para poder atingir a segunda volta, mas não é, de modo algum, garantia suficiente de uma vitória nas presidenciais. O apoio que Alegre poderá deter numa segunda volta do PS, do PCP e do BE, numa aliança à esquerda deve ser analisada à luz de outras circunstâncias. E Alegre terá consciência que a sua vitória nas Presidenciais se afigura inverosímil senão for capaz de recolher o apoio do voto do centro político. Só por este prisma se compreende a reticência do PS em manifestar o apoio oficial ao poeta. Manuel Alegre é uma personalidade marcadamente de esquerda, velho representante de uma ala esquerdista do PS profundamente socialista. Este facto é um forte entrave ao cativar de votos ao centro. Ora, como a decisão de uma eleição continua sobretudo a ser travada ao centro, captando o voto dos apartidários que optam entre PS e PSD, sobretudo pelo perfil dos candidatos e pelas suas ideias, de facto, Manuel Alegre terá dificuldades em convencer este eleitor. Neste aspecto, Cavaco leva clara vantagem sobre Alegre. São conhecidas, de resto, as posições de Alegre enquanto deputado na AR na anterior legislatura, votando contra o novo Código de Trabalho, em oposição com a própria bancada do PS. E isto levanta uma questão – chegada a altura em que serão necessárias reformas estruturais que colidam com os interesses estabelecidos, não só dos poderosos e dos ricos, mas também de algumas corporações esquerdistas em torno do Estado – sindicatos – será Alegre o Chefe de Estado de que Portugal necessita? Um dos argumentos que Alegre invoca face a Cavaco é a sua intromissão na esfera governativa. Pessoalmente, temos sérias dúvidas que Alegre fosse capaz, como homem de esquerda, de assistir, impávido e sereno, a esse tipo de mudanças, sem se intrometer no poder executivo.
A vantagem de Alegre em relação a Cavaco reside na sua identificação com um Portugal de outros valores, a sua ligação afectiva com o País, o seu entendimento da tradição e da História do País. Mas isso não é suficiente. Nós, outrora, sonhávamos também com um conjunto de homens de letras, espirituosos e providenciais, de alma virtuosa, liderando o País, vislumbrando o Quinto Império de Pessoa. A situação não está, todavia, para quimeras pueris. Não nos revemos, por isso, na afirmação de Carlos César, dizendo que “o tempo não está para contabilistas”, citado pelo Expresso. Reduzir Cavaco a um contabilista é um equívoco. Na actualidade, a Política anda de mão dada com a Economia – basta estar atento aos títulos dos jornais nas últimas semanas: a Economia é o tema da actualidade. Alegre terá, portanto, que se esforçar e se concentrar para apelar ao voto do centro, sem trair a sua militância de esquerda – o que será, com certeza, uma tarefa complicada, senão incompatível. Contudo, ele dispõe, já, da base essencial do apoio da esquerda e, ocasionalmente, terá de piscar o olho ao centro. As Presidenciais serão apenas em Janeiro do próximo ano, mas os candidatos serão chamados, frequentemente, a intervir nos próximos meses que se adivinham de intensa actividade política. Nessa altura, Alegre não se poderá prender aos velhos chavões de esquerda do PCP e do BE – o proletariado. Numa economia global, as empresas – a velha hidra da direita – são a chave da recuperação do País. Alegre terá de ter a clareza de espírito para reconhecer isso e reconhecer, por extensão, que são necessárias reformas mais liberalizantes no que toca ao Código do Trabalho ou a reformulação da política de prestações sociais. O Estado Social existe, apenas, no limite das possibilidades da existência de riqueza para distribuir. Como uma das debilidades estruturais de Portugal é a sua fraca produtividade, não podemos permanecer a redistribuir aquilo que não possuímos – é uma evidência lógica. Não podemos ambicionar a um modelo de Estado redistributivo semelhante aos Países da Europa do Norte, quando não temos uma produtividade idêntica àqueles. A redistribuição tem de existir na medida da competitividade. E se Portugal não for um País competitivo, não poderá haver uma redistribuição equitativa da riqueza – sem produção riqueza como podemos sequer redistribuir?
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