A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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sábado, 8 de maio de 2010

Fooling Mother Nature



“There is only one meaningful response to the horrific oil spill in the Gulf of Mexico and that is for America to stop messing around when it comes to designing its energy and environmental future. The only meaningful response to this man-made disaster is a man-made energy bill that would finally put in place an American clean-energy infrastructure that would set our country on a real, long-term path to ending our addiction to oil. “
Estas são palavras de Thomas L. Friedman, reputado colunista do “New York Times”, vencedor de três Prémios Pulitzer. Esta sua coluna de opinião, “No Fooling Mother Nature”, foi publicada no dia 4 de Maio. Friedman estaria longe de imaginar que no dia seguinte a revista alemã Der Spiegel publicaria um vídeo embaraçoso para o seu Presidente relativo aos meandros da Cimeira de Copenhaga e que a América, afinal, não estaria tão empenhada como se julgaria na promoção de um futuro sustentável.
Os motivos inerentes ao fracasso da Cimeira de Copenhaga e que assentavam, sobretudo, num impasse diplomático, apontado às resistências levantadas por China e Índia, sofrem um duro revés. A Der Spiegel demonstra, surpreendentemente, que o próprio Obama deu um contributo importante e decisivo para o insucesso da Conferência, renegando a Aliança Atlântica que os americanos tão saudosos recordam em momentos convenientes da sua História – como o Afeganistão ou no Iraque.
Tudo aconteceu na sala de negociações do Bella Center onde se reuniam apenas os Chefes de Estado das nações responsáveis pela grande parte da percentagem de emissões poluentes – EUA, Alemanha, França. China, Índia, Reino Unido, entre outros. A inércia dos representantes chineses e indianos face às alterações climáticas era expectável. A surpresa reside na atitude adoptada por Obama na obscuridade da sala de reuniões que foi agora, publicamente, revelada pela Der Spiegel. Através de uma gravação registada acidentalmente, é possível perceber que o próprio Obama não estaria tão comprometido com o combate às alterações climáticas como seria de esperar. A própria União Europeia, nas semanas anteriores à Conferência, manifestara os seus sinais de preocupação face às metas pouco ambiciosas que os EUA vinham anunciando nas suas emissões poluentes. No entanto, seria pouco razoável que Obama se tornasse num aliado conveniente da China e da Índia no impasse da Conferência. Todavia, foi isso que sucedeu. Primeiramente, Obama revela, claramente, a Nicolas Sarkozy que não prolongaria a sua estadia em Copenhaga tendo por fim um esforço final para se alcançar um consenso. Em segundo lugar, após o interromper das negociações solicitado pelo representante chinês, Obama foi reunir-se, secretamente com os chineses, os indianos, os brasileiros e os sul-africanos, boicotando a Cimeira.
Obama, a braços com reformas duríssimas na Saúde e em Wall Street baqueou, hesitou e recuou. O interesse do mundo era o que estava em causa; Obama seguiu o caminho seguro: deixou cair a reforma ambiental, evitando divisões com os Republicanos, e optou por apostar nas políticas que poderiam dar ímpeto ao seu mandato. O Presidente que havia encantado a Europa, que havia discursado em Berlim para milhares de pessoas desperdiça o capital de confiança que havia granjeado junto dos Europeus. À partida, todos saberiam que a China e Índia, em conjunto com outros países emergentes como o Brasil seriam fortes obstáculos ao consenso necessário. Mas Obama, publicamente, sempre deu sinais do seu comprometimento. No entanto, quando as luzes dos holofotes não estavam directamente concentradas em si, no segredo da reunião, Obama foi um sério adversário ao obstáculo. À China e à Índia este acordo seria um forte entrave ao crescimento astronómico das suas indústrias – representariam elevados encargos pela adaptação que elas teriam de fazer às novas exigências climáticas que encareceriam, desmesuradamente, os seus produtos. A vantagem competitiva das suas exportações baseadas nos baixos custos sofreria um duro revés às suas ambições de crescente potência mundial. Uma vez que a forte competitividade dos produtos chineses e indianos advém, precisamente, da inexistência de uma legislação exigentemente protectora do ambiente - e dos trabalhadores -, conferindo, portanto, às suas indústrias fortes argumentos no campo da contenção de custos, o reforçar do controlo das emissões de CO2 das indústrias poderia constituir um forte entrave ao desenvolvimento da economia dos países emergentes. A estes convinha, evidentemente, diminuir o impacto da Conferencia de Copenhaga de forma a proteger o seu interesse económico de curto prazo – o crescimento. No caso dos EUA, este argumento é de difícil compreensão – as indústrias estariam já preparadas para enfrentaras mudanças que lhe seriam impostas resultado do constante apertar de cerco pelo Estado à sua actividade, pelo que, o custo de adaptação, embora existente, seria muito menor.
A geopolítica dos interesses nacionais continua a presidir nas agendas dos Estados e é um forte entrave aos consensos que são necessários em prol de toda a Humanidade. Esperemos, apenas, que o mesmo não suceda na próxima Cimeira a realizar em Cancún, no México.

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