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quinta-feira, 6 de maio de 2010

Posições Opinativas


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Para o nosso último post semanal escolhemos um tópico diferente do habitual e bastante explosivo, pelo menos assim o julgamos: trata-se da posição da Igreja Católica quanto ao uso do preservativo.
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Em vésperas da visita papal muito se tem falado do assunto, tendo inclusive surgido plataformas cívicas que promoverão – segundo veiculado por órgãos de comunicação social – a distribuição gratuita de preservativos aquando daquela visita. Também nós queremos dar a nossa opinião – não quanto ao mérito ou ao demérito desse método anti-conceptivo, mas sim quanto ao mérito ou demérito da posição da igreja quanto a esse método.
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Exceptuando a Santa Sé nos 0,44 km2 do Vaticano, não existe nos nossos dias nenhuma teocracia de inspiração católica; nem nenhum tribunal do santo ofício mantém as suas portas abertas – queremos com isto chegar à conclusão que as tomadas de posição da igreja católica não se encontram revestidas de nenhum carácter imperativo, sendo o respeito pelas suas directivas de carácter facultativo.
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É certo que mesmo entre os católicos as opiniões divergem relativamente à proibição do uso do preservativo. Abstendo-nos de entrar em querelas internas, afirmamos apenas que ambas as posições nos parecem defensáveis à luz das Sagradas Escrituras que são omissas quanto ao tema (apesar de se procurarem analogias com o onanismo).
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Da mesma forma que a Bíblia é silenciosa, também não existe uma doutrina oficial sobre o uso do preservativo na Igreja Católica – ao contrário do que nos é muitas vezes vendido. A coisa é mais ou menos assim:
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Ponto 1: a objecção ao uso do preservativo não se baseia na teologia católica, nem sequer existe uma tese oficial sobre a moralidade do seu uso para combater as doenças sexualmente transmitidas - a condenação só é clara se usado para evitar a gravidez.
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Ponto 2: Em 2006, o Papa encomendou um estudo sobre o tema a vários teólogos e cientistas tendo-se chegado à conclusão que o uso do preservativo seria legítimo nas relações sexuais de casais unidos pelo matrimónio em que um dos quais fosse seropositivo (vejam-se as declarações do Cardeal Javier Lozano Barragan).
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Ponto 3: A recusa deste método para evitar o contágio é justificada pela sua suposta ineficácia. A Igreja Católica garante que o preservativo nem sempre evita a transmissão do VIH, pelo que defender o seu uso é enganador: estimula a fornicação, desvirtuando o papel do sexo previsto na doutrina, sem proteger da doença.
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Após a leitura destes pontos diga-nos o leitor se considera tal posição da Igreja um diktat cego e disciplinador. É certo que podemos julgar a justificação avançada pela Igreja para não advogar o uso do preservativo como inadequada – mas isso só prova uma coisa: que mesmo os católicos não se encontram vinculados à observância daquele preceito sob pena da excomunhão. É um entendimento, nada mais.
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Esta questão, especialmente nas abordagens main stream aparece sempre colorida com as tintas do politicamente correcto. Estranhamos o motivo pelo qual a Igreja Católica é sempre a visada, quando há muitas outras organizações religiosas – muitas delas em crescimento no nosso país – que possuem uma posição idêntica. Nunca ouvimos críticas a estas nem conhecemos acções de sensibilização junto das suas cerimónias. Estranhamos tal lacuna nos críticos.
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Concluímos assim que é perfeitamente natural que uma organização particular tenha um qualquer entendimento relativamente a esta questão – e o divulgue. Somos da posição que a crítica das posições oficiais da Igreja devem ocorrer dentro do seu rebanho, dado a Igreja representar apenas os seus crentes, especialmente nestas questões práticas onde não existe doutrina teológica, podendo pois haver um largo espaço de debate.
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É óbvio que reconhecemos que as acções de sensibilização que falamos no início deste post se inserem nos direitos, liberdades e garantias constitucionais. Mas não é por as julgarmos lícitas que as julgamos adequadas – é nosso entendimento que tais plataformas estão erradas na sua contestação às posições de entidades privadas. O combate à SIDA passa por educação sexual e não pelo ataque, muito fashion actualmente, à Igreja. Querer incutir uma posição nossa a outra pessoa não nos parece nada democrático. Se uma entidade privada tem determinada posição e com ela não concordamos, parece-nos que o caminho é demarcamo-nos dela, afastando-nos, e não procurar obrigar a que tomem a nossa posição.
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Esperamos ter abordado o assunto ao nível dos posts d’ Opinador – nada de populismos ou ressabiamentos contra plataformas cívicas ou igrejas. Cada um com a sua e nós com a nossa. Temos dito!

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