A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Não Estraguem a Terra – É lá que eu guardo as minhas coisas…


Na conturbada relação do homem com o seu planeta, já muitos desastres ambientais ocorreram, sendo o do golfo do México apenas o mais recente capítulo desta trágica história. Começam agora a aparecer as imagens habituais de passarinhos pintados de preto e pessoas a lavar pedras com escovas de dentes.
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Com efeito, foi já no longínquo dia 22 de Abril que começou o derrame para de petróleo para o mar, no golfo do México a cerca de 150 milhas de Nova Orleães (aquela gente tem mesmo azar). No dia 30 daquele mês a maré negra atinge a costa do Luisiana e o delta do Mississípi. Na análise feita no dia 31 de Maio tornou-se claro que quatro Estados norte-americanos estavam já atingidos (Louisiana, Mississípi, Alabama e Florida) naquela que já é a pior catástrofe ambiental da História, com dez vezes mais petróleo derramado que o incidente do Exxon Valdez. Aqui pode ser vista uma infografia da evolução da mancha.
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Como consequência mais directa deste desastre ambiental temos a iminente falência da indústria pesqueira (famosa pela qualidade do camarão daquelas águas) de pelo menos três daqueles Estados (a Florida é o menos atingido). Segundo a edição de hoje do New York Times, aquela actividade geraria 2,4 mil milhões de dólares anuais e era responsável pela criação directa de 27000 postos de trabalho. Também o sector do turismo está a sofrer com o derrame, mas os prejuízos ainda não foram calculados.
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Face a tudo isto, talvez a melhor maneira de proteger o ambiente não passe por apelar, à maneira de Al Gore, à consciência de cada um, com argumentos éticos fundados numa nossa obrigação (como espécie superior pelo menos no discernimento) de não prejudicar-mos tudo à nossa volta, com recurso a imagens de glaciares a caírem, que não impressiona ninguém, sejamos francos.
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A melhor forma de promover uma nova consciência ambiental é através de uma análise económica de custo-benefício. Aquele desastre foi causado porque há necessidade de satisfazer a demanda por petróleo nos mercados. Mas tal procura valerá a pena? Aquele combustível fóssil para além de – por exemplo, no caso português – tornar a balança comercial deficitária dado ter que ser todo importado, o seu transporte envolve enormes riscos – especialmente para nós com uma costa tão grande (o desastre na Galiza não vai assim à tanto tempo). É urgente que os consumidores (porque é deles que se espera a mudança, não das petrolíferas) repensem o seu consumo e se orientem para soluções mais sustentáveis. A micro geração de energia, para além de economicamente rentável, não comporta riscos – eis uma boa aposta tanto para o comum dos cidadãos, como para as PME’S ou mesmo para os edifícios públicos. O Estado bem que poderia isentar de IVA estes equipamentos…
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No entanto, é necessário ter muito cuidado com o debate acerca da política energética pois o lobby do nuclear anda por aí, sempre bem activo, e se é certo que é muito menos poluente que os combustíveis fosseis, também é certo que comporta mais riscos que a energia solar, hídrica ou eólica.
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Ao leitor deixa-se esta mensagem: que tal rever a sua própria política caseira? Já pensou em instalar um painel solar? E que tal começar a usar mais os transportes públicos e menos o seu carro? Ajuda a nossa economia (porque ainda não importamos o sol necessário para os painéis) e pode ser que ajude o planeta, que é afinal onde guardamos as nossas tralhas.

1 comentário:

Ahimsa (posts Maio-Julho 2010) disse...

Há, felizmente, muitas pessoas que se impressionam com as imagens de glaciares a cairem e com os passarinhos pintados de preto (sofrendo as consequências de algo que não provocaram), mas percebo a tua visão. Realmente, há por aí vários seres humanos que só se deixarão convencer pela análise do custo-benefício, não alcançando a profundidade da questão.
Não obstante, o último paráfrago é adorável e muito bem conseguido porque é válido para todo o tipo de motivações: desde as profundamente éticas às de cariz monetário (gostei muito mesmo). De facto, estamos irreversivelmente "presos" a este planeta, é o único que temos e compete-nos a nós cuidar dele.