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segunda-feira, 26 de abril de 2010

A América de Obama

O Presidente dos EUA Barack Obama tem em mãos uma nova reforma para empreender – a reforma do sistema financeiro dos EUA. Este é um dos motivos porque a América é a América. Desde que foi eleito em 20 de Janeiro de 2009, Obama conseguiu implementar a reforma de saúde – que já vários Presidentes haviam tentado e fracassado – e, recentemente, a concretização da sua visão de um mundo livre de armas nucleares, traduzido na renegociação do Tratado Start com a Rússia. Neste enunciado encontramos aspectos simples – identificar um problema e resolver esse problema: isto é, se há pessoas que não se encontram protegidas por cuidados médicos, então deve encontrar-se uma forma de abranger essas pessoas no sistema; se um mundo onde a proliferação de armas nucleares reina é um mundo instável e perigoso, então devem ser dados passos no sentido de reduzir essa proliferação; se o sector financeiro dos EUA foi o grande responsável pela eclosão da crise mundial, uma reformulação da sua actividade é, igualmente, uma decorrência lógica. Mas o grande mérito de Obama reside no facto de ter as suas ideias e de agir de acordo com elas; de identificar os problemas e tomar medidas concretas para os solucionar, independentemente de quem isso possa afectar. Se uma determinada solução é benéfica para o interesse geral do País, Obama, firmemente, luta por ela – como foi o caso da Reforma da Saúde. É verdade que esta Reforma era prejudicial ao lobby das Seguradoras, tal como a Reforma de Wall Street é prejudicial à alta finança, mas elas são necessárias e são do interesse dos americanos. É precisamente a coragem de enfrentar os interesses instalados em defesa do interesse geral do País que faz, até agora, do mandato de Obama um mandato extraordinário e que tem correspondido às altas expectativas que dele se esperavam. É verdade que a economia americana ainda não recuperou para os indicadores positivos anteriores à crise. Mas isso deve-se à severidade da mesma. Será necessário tempo para que os postos de trabalho sejam recuperados e a economia recupere uma marcha ascendente sustentável. Mas os passos e as reformas necessárias são tomadas. O caso de Wall Street é sintomático. A Security Exchange Comission (SEC) – o equivalente à CMVM em Portugal – acusou a Goldman Sachs de, deliberadamente, ter criado instrumentos financeiros condenados ao insucesso. Os americanos culpam as instituições financeiras dos desmesurados riscos que correram e que originaram a urgência do Estado em salvar alguns deles da falência, injectando milhares de milhões de dólares dos impostos contribuintes no seu capital. Uma vez ocorrido este salvamento e o regresso aos lucros astronómicos, os bancos voltaram às práticas de renumeração escandalosas dos seus quadros. Compreende-se assim os planos dos Democratas para solucionar este problema com uma maior regulação deste tipo de activos. Há, porém, outra pedra no sapato – os Republicanos. Mitch McConnell, líder republicano no Senado, apresenta os seus argumentos contra o ímpeto democrata: “o projecto de lei institucionaliza os salvamentos dos bancos de Wall Steet, financiados pelos contribuintes”. Caro Mitch, é precisamente para evitar salvamentos de bancos que esta reforma deve ser efectuada. Ou o senhor esqueceu-se que foi precisamente pela falta de reforma que ocorreu uma crise financeira por inexistência de uma regulação dos produtos financeiros de certos bancos? A reforma não tem por fim nacionalizar bancos, mas assumir uma atitude preventiva para que tal não aconteça. Segundo o New York Times, “the proposed derivatives rules are an important part of the effort to strengthen regulation of the nation’s financial system, and seem certain to anger some of Wall Street’s biggest players”. Compreende-se facilmente os motivos de resistência dos Republicanos – a pressão exercida pela alta finança. Mas este é um dos motivos pelos quais Obama é diferente de todos os outros – ele tem a coragem para empreender as reformas que são necessárias.

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