A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

.

sábado, 17 de abril de 2010

A Essência das Questões

Caro leitor,
Quinta-feira, 19 de Abril de 2010. Este é um dia que ficará para toda a Eternidade nas nossas memórias. Tal recordação deve-se ao Wishful Thinking de Lord Nelson. Que conteúdo dessa coluna de opinião produziu na nossa alma a mais profunda atenção? Estimado leitor, em primeiro lugar, ficamos a saber que o ponto erógeno de Lord Nelson encontra-se no cérebro que reage, excitadamente, a qualquer forma de elogio a Pedro Passos Coelho. Tal é susceptível de se comprovar pelas expressões e citando “em êxtase”, “celebrações de júbilo” e “estamos em tal estado”. E com isto, caro leitor, ainda tão pouco saímos das duas primeiras linhas. Gostaríamos de, alongadamente, desenvolver este pensamento, mas o rubor virginal que se apodera das nossas faces, agora rosadas, impede-nos de tal.
Para Lord Nelson, Pedro Passos Coelho é o supremo Narciso. Em Pedro Passos Coelho tudo é virtude, tudo é inteligência, tudo é saber, tudo é conhecimento, tudo é sensatez; fora de Pedro Passos Coelho tudo é ignorância, tudo é burrice, tudo é estupidez, tudo é idiotismo. Estimado leitor, nós, apesar de sermos mais devotos a uma ideologia de esquerda – embora moderada – não padecemos do mal de julgar que nela tudo é perfeição; não rejeitamos ideias vindas da direita, desde que se afigurem correctas e tenham o desígnio que devem ter todas as ideias – ajudar o País. È para com esta atitude que Lord Nelson manifesta uma surpresa, que nós é que diríamos, surpreendente. Mas este é um problema comum a várias pessoas – a disciplina de partido. A disciplina de partido impõe esta separação que não pode, de forma alguma, ser elidida. Toda a razão se encontra num certo partido. Fora desse partido nada existe. É nesta batalha que, conscientemente por vezes, um lado se nega a dar razão a outro lado, mesmo sabendo que os argumentos se encontram na parte oposta. Mas tal não pode acontecer. Isso implicaria a deserção. É essa deserção que força os discípulos a não admitir como boa uma ideia só porque ela apareceu do lado oposto a que se pertence. Nós não somos assim. E possuímos a liberdade e a clareza de pensamento suficientes para julgar as ideias por um só critério – a sua qualidade, independentemente do sítio de onde provêm. Foi, por isso, com naturalidade que classificámos como boas as ideias que Passos Coelho apresentou. E foi ainda dentro dessa coerência que classificámos de más as ideias de Passos Coelho no que toca à Saúde e à Educação. Esta classificação, entretanto, passara despercebida a Lord Nelson, já cego pelos elogios feitos a Passos Coelho e que não permitira discernir o restante texto com claridade suficiente. Não será eliminando o Sistema Nacional de Saúde e o Ensino de matriz pública que o País progredirá. Essa não é a essência dos problemas do País. Desengane-se o leitor que pense que as dificuldades de Portugal se centram na sua natureza, como irónica e exageradamente diz Lord Nelson, “marxista”. O âmago dessas dificuldades centra-se em outros aspectos:
a) Portugal irá candidatar-se à organização da Ryder Cup. Para tal, pretende construir um campo de golfe na Comporta, da responsabilidade do Grupo Espírito Santo. Tudo isto, apesar dos afamados campos de golfe que Portugal possui no Algarve e cuja qualidade é reconhecida internacionalmente. A candidatura à Ryder Cup foi da responsabilidade de Manuel Pinho. Este mesmo, como se sabe, antes de ingressar no Governo, era administrador do Grupo Espírito Santo. José Manuel Fernandes escreveu ontem, no Público, sobre este assunto.
b) “Mira Amaral, que foi ministro da Indústria, considera obscenos os 3, 1 milhões de euros que António Mexia ganhou no ano passado à frente da EDP, empresa cujo accionista principal é o Estado. Eu também considero. Mas tenho uma dúvida: este é o mesmo Mira Amaral que, em 2002, foi nomeado administrador do banco público Caixa Geral de Depósitos, preenchendo a quota politica do PSD, e saiu um ano e meio depois, com uma pensão de reforma vitalícia de 18.000 euros por mês?”. Miguel Sousa Tavares é o autor destas linhas, no Expresso do último sábado.
c) A compra de dois submarinos por cerca de 900 milhões de euros quando tal se mostra inadequado para os interesses do Ministério da Defesa e cujo negócio, como agora vem sendo demonstrado, foi ruinoso para o Estado português.
d) O Ministério Público constitui como arguidos três administradores do Taguspark, empresa de capitais maioritariamente públicos, por estes pedirem uma vantagem não patrimonial (o apoio de Luís Figo a José Sócrates) para um terceiro a troco de contrapartidas no valor de dois milhões de euros.
Estes problemas não se resolvem colocando como prioridade uma revisão constitucional; eles resolvem-se apontando medidas concretas para os solucionar – como um novo modelo de funcionamento para a designação de titulares de cargos públicos para que se acabe com o festim partidário em torno destas nomeações. De resto, não encontrámos na opinião de Lord Nelson nenhuma substância. Apenas wishes. Desejos de que o Parlamento, o Governo e a Presidência sejam ocupados pelo PSD. Tudo isto deseja o nosso aristocrata Lord enquanto passeia a pontinha dos dedos, suavemente, pelo dorso do seu gato, sentado na sua poltrona, soltando risadinhas maléficas. Constatamos, com tristeza, que Lord Nelson não tem seguido as nossas opiniões, pois recentemente vimos criticando a colocação do interesse partidário acima do interesse nacional. Neste seu wishful thinking, o nosso Lord não expressa senão desejos em relação ao seu Partido. Lord Nelson vê o País laranja; nós vemo-lo negro.

Sem comentários: