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quarta-feira, 28 de abril de 2010

A Sociedade Contemporânea



Caro leitor,
Este pequeno vídeo, mais do que realidades económicas, financeiras ou políticas, espelha o mais vil e desprezível lado social – ele demonstra aquilo de que o individuo na presente na sociedade é feito e que tem reflexo, em última instância, na sociedade, que não é mais do que o conjunto de indivíduos que a forma. A sociedade que temos, portanto, não é mais do que um retrato fiel daquilo que somos. E aquilo que somos é o que vemos retratados neste vídeo – pessoas egoístas, exibicionistas, narcisistas, exteriores, ostentosas. Extensivamente, isso é a sociedade – uma sociedade egoísta, exibicionista, narcisista, exterior, ostentosa.
Esta é a triste realidade do ser humano. E o que nos pode ser mais imediato do que o nosso profundo íntimo como homens? Se falhamos como seres humanos como podemos suceder em realidade mais complexas como as económicas, as financeiras ou politicas? Actualmente, o individual predomina sobre a sociedade. Algures, o ser humano perdeu-se, desumanizou-se, os seus mais íntimos valores foram substituídos por um conjunto de superficialidades – nada lhe importa, tudo lhe é indiferente. Embora o indivíduo exista na sua realidade com outros indivíduos, hoje em dia, os relacionamentos sociais são frágeis e aparentes e, por isso, a relação do indivíduo com outros indivíduos empobrece. O sentimento de genuína preocupação por outra pessoa é raro.
Esta situação remete-nos para um texto de opinião que Pedro Afonso, Médico Psiquiatra, escreveu há pouco mais de um mês no jornal “Público”, acerca das redes sociais. O leitor dirá que se tratam de realidades distintas. Nós concordaremos com o leitor. Mas perguntamos se este episódio com o sem-abrigo não será apenas sintomático da sociedade em que nos estamos a transformar e a natural decorrência de um conjunto de factores e do qual as redes sociais são apenas um indicador e não uma decorrência directa, mas indirecta, de um problema. Iremos transcrever algumas ideias que nos parecem traduzir, claramente, a decadência duma sociedade, outrora feita de valores e ideais, agora vazia e oca.
1. “Neste caso parece existir uma busca pela auto-valorização e uma necessidade exibicionista de atenção e admiração. (…) Portanto, na amizade, desvalorizou-se a qualidade para se dar a primazia à quantidade, o que não é mais do que um reflexo da sociedade de consumo nas relações sociais.”
2. “Alimentam-se fantasias e cada um mostra aquilo que tem de melhor: a beleza, o êxito, as férias fantásticas, os momentos de felicidade, etc. Habitualmente o indivíduo promove-se na rede social como uma pessoa de sucesso, expondo as suas vitórias e ocultando propositadamente os seus fracassos. É nesta imensa revista cor-de-rosa, irreal e fantasiosa, que as pessoas se relacionam umas com as outras, evitando as regras da verdadeira rede social, bem mais complexa e difícil.”
3. “A amizade criada no mundo real demora tempo a consolidar-se e passa por diversas provas que nada têm a ver com as pseudo-amizades do mundo virtual. Por essa razão, nenhum relacionamento através do computador substitui a experiencia da presença humana: a troca de olhares, a expressão facial, os gestos, o tom de voz, etc. As redes sociais favorecem o empobrecimento do relacionamento social – criando-se novas formas de solidão – porque as relações pessoais reais são mais ricas e profundas”.
De que adianta falar de outros problemas – como o facto da S&P ter descido o rating da República Portuguesa - quando falhamos na nossa mais primária missão – sermos humanos?

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