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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Atlântida

Caro leitor,
Confesso que sinto alguma surpresa em relação ao debate sobre a aquisição de dois submarinos por parte do Governo de Durão Barroso, agora envolto em suspeitas de corrupção. Na verdade, diversas personalidades de relevo da nossa praça pública têm colocado em causa a utilidade prática desses mesmos submarinos. Os defensores da aquisição dos submarinos invocam a necessidade da defesa da extensa costa portuguesa; os outros contra-argumentam que a defesa da costa não deve ser feita com recurso a submarinos, mas com recurso a outros meios quer marítimos, como as lanchas e as corvetas, quer aéreos, como aviões com capacidades de patrulha da costa. Os defensores da aquisição dos submarinos argumentam ainda com a necessidade de reforço do imponente arsenal militar português; os outros contra-argumentam afirmando que Portugal não é a Coreia de Norte e que paradas militares com submarinos é uma acção pouco exequível. Todas essas personalidades esquecem-se de um factor relevante – a verdade é que Portugal caminha, lentamente, mas irreversivelmente, para a submersão. E que meio mais adequado para assegurar a continuidade da raça de Viriato do que um submarino? E tal apenas aumentará a lenda de Portugal, brilhando ao lado da augusta Atlântida. E, talvez, daqui a uns anos se fale com sincera nostalgia deste recanto resplandecendo ao Sol como uma terra que fora de bravos marinheiros mas que ironicamente repousa no fundo do mar e, ao contrário de Atlântida, não fora destruída por apenas um dia de infortúnio, mas ao longo de décadas de mau governo e de incompetência.

Timidamente, Paulo Portas, Ministro da Defesa por altura da aquisição dos famigerados submarinos, lá vai argumentando que desde 1995 que se vinha discutindo a necessidade de manter a capacidade submarina – que desde os tempos de governação socialista os detalhes dos negócios já vinham sendo alinhavados. Ele, sua excelência, Paulo Portas, como menino obediente que é, apenas se limitou a assinar e concretizar o negócio. Sua excelência Paulo Portas, nomeado para uma pasta de tamanha belicosidade como é a Pasta da Defesa abdicou do seu estatuto marcial e fez o papel de anjinho e cordeirinho. Cremos que, em grande parte, tal será verdade. Com efeito, devemos a Paulo Portas que Portugal tenha adquirido dois e não três submarinos. O problema da política em Portugal é que apenas se pensa no curto prazo. Qual a medida a tomar que poderá ter maior impacto nas eleições que se avizinham? E o médio/longo prazo é esquecido. Até que, de repente, a bomba rebenta no Governo em funções e este, ingénuo e desconhecedor, argumenta que a culpa fora das bestas que formaram o anterior Governo. E, assim, segue Portugal.
Outro problema relacionado com este negócio prende-se com a utilização abusiva de certos escritórios de advogados sediados em Lisboa que se tornaram autênticas secretarias de Estado do Governo. As sociedades Vieira de Almeida e Uria Menéndez foram alvos de buscas nos processos dos submarinos. O auxílio jurídico prestado por estas sociedades ao Estado é pago a peso de ouro e de forma pouco transparente – a distância que separa da corrupção é curta e não é surpreendente que muitos dos negócios acalentem suspeitas. Desde logo, porque, tradicionalmente, grande parte dos deputados sempre foram formados em Direito. Bem ou mal não é a questão que se discute. Mas a função de deputado deve ser incompatível com o desempenho de qualquer outra que possa conflituar com o correcto desempenho da função parlamentar. Ao conjugar a actividade parlamentar com outro tipo de actividades, cria-se uma teia de interesses. João Cravinho, na semana anterior, deslocou-se ao Parlamento para ser escutado no âmbito da Comissão para a Corrupção. Esta Comissão tem merecido o desprezo dos jornalistas, essas criaturas vampirescas sedentas de sangue e de declarações espalhafatosas. Por isso, privilegiam a Comissão responsável por apurar da liberdade de Imprensa em Portugal. Cravinho, na sede dessa Comissão, disse que a “corrupção politica é o principal problema do País”. Qual o eco desta afirmação na Imprensa? Nenhuma. A corrupção administrativa é discutida, elaboram-se códigos de ética nas empresas públicas e o problema da corrupção em Portugal está oficialmente selado – morto. Mas este verdadeiro problema – a promiscuidade dos políticos – não só continua por resolver, como não existe vontade politica para o resolver. A discussão séria deste problema e a implementação de uma verdadeira luta contra a corrupção politica permitiria a Portugal dar um salto competitivo e varrer dos quadros do Estado, muitos incompetentes responsáveis pelo atraso do País. Não tenhamos dúvidas – o capitalismo necessita de ser empregue no Estado: a substituição dos mais fracos pelos mais fortes, dos menos capazes pelos mais capazes. Só assim será possível ter um Estado digno aos olhos dos seus cidadãos.

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