You cannot win a War on Terrorism. It's like having a war on jealousy.
. . . . David Cross
Apesar de ser da autoria de um humorista, a expressão que acabamos de transcrever tem um conteúdo sério.
A guerra contra o terrorismo, tão em voga nos nossos dias, tem servido de pretexto para restringir direitos, liberdades e garantias dos cidadãos no nosso espaço civilizacional. Cada vez mais somos sujeitos a rigoroso escrutínio nos aeroportos, as secretas andam mais atentas e as eleições são por vezes alteradas por trabalhos de spin, como no caso destas, reflexo dos ataques em Atocha.
No entanto, na antiga mesopotâmia onde correm os ventos da guerra levados pelas forças libertadoras dos neo-aliados, as liberdades se eram coarctadas no tempo de Sadam Hussein, são-no também hoje.
A agência Reuters divulgou há pouco tempo um vídeo no qual podemos assistir a um ataque das forças armadas americanas a civis iraquianos desarmados, matando-os de uma forma bárbara.
Nós que somos politicamente incorrectos, deixamo-lo aqui para o leitor se tornar em espectador. Veja mas não se venha queixar ter-se chocado… Não temos paciência para essas pieguices – ao contrário da FCC nos States ou o provedor do telespectador em Portugal.
Não culpamos os soldados que fizeram este ataque. São uns pobres diabos, ignorantes do respeito pela vida humana como se consegue perceber pelos diálogos, verdadeiros - arriscamos - rednecks norte-americanos. Culpamos antes os dirigentes políticos que inventaram a invasão do Iraque – vergonha da nossa civilização no início deste milénio. Esta foi injustificada e tem vindo a ser mal conduzida. Julgamos que é uma guerra que não pode ser ganha porque não há vitória a tirar dali – exceptuando para alguns privados que vêm lucrando com os negócios da segurança ou do petróleo.
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Também não há vitória possível na guerra contra o terror – porque o terror é antes de mais uma ideia e, como tal, realidade não palpável. Se nos dedicássemos como noutros tempos à conquista do Magrebe, poderíamos vislumbrar cenários de vitória ou derrota. No entanto, uma ideia não pode ser derrotada pelas armas até porque não depende do controlo de determinada localização espacial, organização humana ou mesmo capitais – mesmo que se consiga desmantelar a Al-Qaeda, que só ganha força com estas atitudes prepotentes dos Estados Unidos, nada impedirá que um dos muitos iraquianos que sofrem com a ocupação do seu país ataque cidadãos dos países ocupantes.
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Esta guerra contra o terrorismo é mais perigosa que o terrorismo em si pois ela tem um potencial de restringir a liberdade individual dos cidadãos com argumentos de segurança, recolhendo informação importante (como se passa no caso do projecto Echelon) e não havendo um controlo directo e transparente sobre aquele tratamento.
Também é perigosa para a sobrevivência do Estado de Direito: nos Estados Unidos existem pessoas que se encontram detidas (como em Guantánamo) sem estarem formalmente acusadas de nenhum crime – tal é justificado com o status que lhe foi atribuído – prisioneiros de guerra.
Prisioneiros de uma guerra que não o é, que justifica outras guerras (como a do Iraque), que nunca poderemos ganhar mas, na qual decerto vamos perder, mais que não seja algumas liberdades que considerávamos incontestáveis.
O leitor acha mesmo que o terrorismo islâmico se combate com armas? Com invasões? Ou serão estas que causam e potenciam aquele? Talvez devamos dar a outra face…
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Terminamos da mesma forma como começamos – com uma citação, esta de Benjamin Franklin: Any society that gives up a little liberty to gain a little security, will deserve neither and lose them both.
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