Na sequência do fim da campanha presidencial de ontem, pensávamos nós, no dia de hoje, depor aos augustos pés do leitor uma pequena súmula da dita cuja e reflectir um pouco sobre as virtudes e os vícios de cada candidato. Pura ingenuidade, caro leitor! Pura inocência!
Assim que manifestamos esta nossa vontade, logo um amigo nos diz:
- Ah! mas não podes! Amanhã é dia de reflexão!
Ao início, não o queríamos acreditar (porque o nosso amigo é um pouco folgazão):
- Mas estás a falar a sério?
- Sim, estou a falar a sério. Amanhã é dia de reflexão. Não podes falar sobre as presidenciais. É ilegal. – disse ele.
Com efeito, hoje, segundo o legislador é dia de reflexão. E dia de reflexão equivale a colocar uma mordaça sobre a boca, impedindo as pessoas de livremente exporem as pessoas sobre um tema sobre o qual se irão pronunciar no dia seguinte. Pelo que, para o legislador, o acto de reflexão é feito em silêncio. Para o legislador, a discussão de ideias consiste no seguinte processo: a pessoa dobrar-se, colocar-se em posição de chinês, cerrar as pálpebras, e meditar, mas em silêncio – tal como o faria um budista diante de Buda. Comunicar, porém, essas ideias, expô-las – cometer tal atrocidade isso não é possível.
O nosso legislador manifesta uma suprema confiança no discernimento dos portugueses. Julgando-os incapazes de pensar e decidir pela sua própria cabeça, delibera que na véspera de se pronunciarem sobre as presidenciais, todos se deverão calar sob pena de se influenciarem mutuamente. O legislador português pensa, portanto, que os portugueses são incapazes de avaliar o mérito intrínseco a cada ideia e que, consequentemente, são inaptos a separar o trigo do joio. Nos tempos que correm, em que a liberdade se pretende tão plena e tão absoluta quanto possível, e livre da intromissão do legislador, este senhor decreta o português incapaz para pensar e, velando pela sua segurança, silencia os indivíduos que podem, nefastamente, influenciá-lo e levá-lo a tomar uma determinada posição. A falta de discernimento é aquilo a que comummente se chama de estupidez: é uma inaptidão para ligar uma causa a um efeito. É isso que o legislador chama aos portugueses: estúpidos porque não são capazes de pensar por si, então o legislador, investido de toda a sua soberana razão, pensa pelos portugueses. Chama-lhes de pedantes porque não depositam confiança nele e no seu entendimento, e por consequência, ele é incapaz de distinguir imediatamente o que é justo num caso particular.
De entre todas as espécies que existem no universo, o homem é a única capaz de reflectir, de transformar abstractamente todo o elemento intuitivo num conceito não intuitivo da razão. O legislador português julga que essa é uma tarefa do eremita, solitária, e que por ser embaraçosa, deve, por isso, permanecer no interior dos homens.
Assim que manifestamos esta nossa vontade, logo um amigo nos diz:
- Ah! mas não podes! Amanhã é dia de reflexão!
Ao início, não o queríamos acreditar (porque o nosso amigo é um pouco folgazão):
- Mas estás a falar a sério?
- Sim, estou a falar a sério. Amanhã é dia de reflexão. Não podes falar sobre as presidenciais. É ilegal. – disse ele.
Com efeito, hoje, segundo o legislador é dia de reflexão. E dia de reflexão equivale a colocar uma mordaça sobre a boca, impedindo as pessoas de livremente exporem as pessoas sobre um tema sobre o qual se irão pronunciar no dia seguinte. Pelo que, para o legislador, o acto de reflexão é feito em silêncio. Para o legislador, a discussão de ideias consiste no seguinte processo: a pessoa dobrar-se, colocar-se em posição de chinês, cerrar as pálpebras, e meditar, mas em silêncio – tal como o faria um budista diante de Buda. Comunicar, porém, essas ideias, expô-las – cometer tal atrocidade isso não é possível.
O nosso legislador manifesta uma suprema confiança no discernimento dos portugueses. Julgando-os incapazes de pensar e decidir pela sua própria cabeça, delibera que na véspera de se pronunciarem sobre as presidenciais, todos se deverão calar sob pena de se influenciarem mutuamente. O legislador português pensa, portanto, que os portugueses são incapazes de avaliar o mérito intrínseco a cada ideia e que, consequentemente, são inaptos a separar o trigo do joio. Nos tempos que correm, em que a liberdade se pretende tão plena e tão absoluta quanto possível, e livre da intromissão do legislador, este senhor decreta o português incapaz para pensar e, velando pela sua segurança, silencia os indivíduos que podem, nefastamente, influenciá-lo e levá-lo a tomar uma determinada posição. A falta de discernimento é aquilo a que comummente se chama de estupidez: é uma inaptidão para ligar uma causa a um efeito. É isso que o legislador chama aos portugueses: estúpidos porque não são capazes de pensar por si, então o legislador, investido de toda a sua soberana razão, pensa pelos portugueses. Chama-lhes de pedantes porque não depositam confiança nele e no seu entendimento, e por consequência, ele é incapaz de distinguir imediatamente o que é justo num caso particular.
De entre todas as espécies que existem no universo, o homem é a única capaz de reflectir, de transformar abstractamente todo o elemento intuitivo num conceito não intuitivo da razão. O legislador português julga que essa é uma tarefa do eremita, solitária, e que por ser embaraçosa, deve, por isso, permanecer no interior dos homens.
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