A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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domingo, 23 de janeiro de 2011

O regresso de D. Sebastião?

Começa a surgir uma corrente de opinião entre prestigiados especialistas das matérias económico-financeiras segundo a qual inevitavelmente o euro terá os seus dias de existência contados. Em Portugal, alguns analistas consideram esta a única saída que permitirá a sobrevivência das empresas nacionais, a salvação da balança comercial e a retoma da economia.

O euro foi lançado oficialmente em 1999, no cumprimento da terceira fase da União Económica e Monetária, tendo entrado em circulação em 2002. São 13 os países que nos correntes dias usam o euro nas suas transacções civis e comerciais: Portugal, Grécia, Alemanha, Espanha, Holanda, Áustria, Itália, Bélgica, França, Finlândia, Luxemburgo, Irlanda e Eslovénia. A chegada da moeda única europeia alterou os hábitos de consumo dos cidadãos: crédito fácil a taxas de juro reduzidas, inflação diminuta e uma enorme variedade de produtos importados a baixos preços fizeram as delícias de qualquer um. Até que as dívidas se foram avolumando, as taxas de juros aumentando e o descalabro aconteceu. O resto, Caríssimos, vocês já sabem e estão a vivê-lo.

O futuro do euro está longe de gerar consensos. Na actual conjuntura, o euro corre o risco de se desintegrar ou porque as maiores potências económicas da UE se irão fartar de transferir quantias para os países mediterrânicos ou porque estes países se cansarão de ser obrigados a seguir medidas de austeridade impostas para poderem receber essas tais transferências e requererão o regresso da sua autonomia económico-monetária.

O abandono do euro e o regresso da moeda nacional permitir-nos-ia manipular as taxas de câmbio em prol da competitividade portuguesa. Segundo estimativas, o regresso ao escudo seria acompanhado de uma desvalorização entre os 30% e os 40%, o que conduziria à necessidade das nossas empresas compensarem no exterior a queda que se registaria na procura interna, obrigando, assim, a economia a industrializar-se novamente. Se, a longo prazo, poderia constituir uma solução viável, a curto trecho, teríamos o caos instalado, com uma acentuada diminuição do poder de compra, congelamento do financiamento externo, nacionalizações e aumentos incomportáveis do desemprego. Atentemos ao exemplo da Argentina. Durante a década de 90, este país viveu com a sua divisa fixada ao dólar. Deste modo, beneficiou de taxas de juro baixas, crédito fácil e consumo excessivo. Todavia, a dada altura, os mercados deixaram de poder conceder mais financiamentos a este país. O FMI interveio, dadas as grandes dificuldades atravessadas pelos argentinos, não tendo a economia resistido. O Governo deixou a divisa cair, os cidadãos levantaram todos os seus depósitos bancários, colapsando o sistema financeiro. A Argentina, ao longo dos anos, foi recuperando faseadamente a sua competitividade, contudo, não foi fácil e o trilho foi penoso.

Esta semana, um professor italiano sugeriu como sendo uma inevitabilidade o abandono do euro, caso se verifique a reestruturação da dívida soberana de um ou mais membros da UE, explicando que o euro poderá dar origem a duas novas divisas: um euro mais forte, para os países do centro europeu, e um euro mais fraco, para os da periferia.

Não creio que a saída do euro seja uma hipótese, mas sim uma impossibilidade. O custo seria elevadíssimo e efectuando uma análise custo-benefício, não sairíamos em nada a lucrar. A nova moeda iria desvalorizar-se e o Governo e a Banca não conseguiriam suportar todos os custos para fazer face a essa dívida.

O que é certo é que 6 em cada 10 portugueses prefere voltar a usar o escudo em vez da moeda única, estando a insatisfação nacional acima da média dos 13 países da Zona Euro. E o mais curioso, e concluindo, é que muitos portugueses ainda mantêm em casa notas de escudo, estimando-se em 109,6 milhões de euros o montante que o Banco de Portugal ainda não recolheu. Se este dinheiro estivesse em circulação, os funcionários públicos já não conheceriam as reduções salariais a que estão a ser sujeitos já este mês.

A vida está má, está! Até para os marqueses!

E como hoje era dia de eleições, ainda bem que votaram em consciência!

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