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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Tunísia




Um regime tão velho quanto eu caiu.

A Tunísia anda na boca do mundo porque a partir do desespero de um homem (que se imolou em Tunes, protestando por terem proibido vender os seus produtos nas ruas) o descontentamento do povo escalou ao ponto de fazer tombar o presidente Ben Ali .

Há cerca de um ano e meio estive na Tunísia. Fiz cerca de 3000 km em estradas africanas, indo para longe dos resorts para europeu ver, correndo o país de lés a lés e nunca suspeitei que o fim daquele regime autocrático estivesse iminente. É claro que nenhuma ditadura se aguenta eternamente (como nenhuma democracia) mas as tensões sociais estavam bastante camufladas: existiam cartazes do presidente em todas as terras, fotografias em todos os estabelecimentos, forte presença policial e alguma censura nos jornais nacionais (pelo menos nas edições em francês). Em todas as cidades onde estive, tanto no longínquo e árido sul, como no mais mediterrâneo litoral norte, existia uma calma aparente. Mas uma calma de país sem rumo – inúmeras pessoas deambulavam na rua, indiciando uma elevada taxa de desemprego; polícia a patrulhar as ruas com armas semi-automáticas e um silêncio geral sobre assuntos políticos.
No entanto não havia notícia de problemas, viam-se obras em curso promovidas pelo Estado, nenhuma manifestação e, de resto, business as usual.

Em Tunes encontramos uma Paris árabe, com aquela decadência típica de capital de ex-colónia, com os seus belos edifícios já velhos para lá de antigos, aromas de especiarias no ar e uma animada vida nocturna, com muitas pessoas a passearem-se junto ao mediterrâneo, com estabelecimentos abertos, num cenário de belle époque. Foi porém nesta cidade apercebi-me de como o regime estava atento e interessado naquela paz: no foyer do hotel onde estava alojado, conversava em voz alta com outros estrangeiros e gracejei, em francês (língua lá bem entendida) com o facto de se poder ver a evolução de Ben Ali ao longo dos tempos, por causa dos inúmeros retratos. Depois de o fazer, fui informado por um funcionário que naquela terra, era má educação gracejar sobre Monseiur Ben Ali: eis o poder autocrático.

Tal como nós não o esperávamos, também não o esperou decerto o presidente Ben Ali, apanhado de surpresa e forçado a fugir para o Reino da Arábia Saudita, deixando no país um vazio de poder. Ainda foi tentado um coup d’état pelo primeiro-ministro (aliado de Ben Ali) mas foi prontamente denunciado pelo presidente do parlamento Faoud Mebazza.

É com agrado que verifico que os presos políticos vão ser libertados e um governo de unidade nacional se está a formar. Esta poderá constituir uma oportunidade única para a democratização um país que, desde a sua independência em 1956 conheceu apenas dois presidentes. Mas também pode ser a ruína de uma economia muito centrada no turismo… Estes tumultos farão com certeza diminuir as receitas, aumentar o desemprego e agravar as tensões sociais… Será um caminho difícil mas pode significar a liberdade.

No entanto é de recear que a instabilidade tunisina alastre a todo o Magrebe – já existem manifestações no Egipto, Argélia, Marrocos e Jordânia. Estas, tendo por base o aumento dos custos dos bens essenciais, podem assustar os regimes desses países e acabar tudo isto num banho de sangue.

Uma última nota para dar conta ao leitor que o referendo no Sudão do Sul, assunto deste post, correu bem, sem incidentes de maior e foi validado pelos observadores internacionais. No final deste mês conhecer-se-ão os resultados e talvez, haja ali um novo país.

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