A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O BPN e as Presidenciais

Depois dos debates, a campanha presidencial é marcada pelo caso BPN. E não é marcada pela discussão em torno do dinheiro que o Estado foi obrigado a depositar no BPN, nem nos respectivos custos para os contribuintes, mas sim pelo negócio de compra e venda de acções de Cavaco Silva na SLN, sociedade detentora do BPN.

Todos os candidatos de esquerda veementemente exigem esclarecimentos por parte de Cavaco. O Presidente remete para a sua declaração de rendimentos entregue ao Tribunal Constitucional. Uma coisa é certa: Cavaco declarou a operação e pagou os impostos correspondentes. Outras coisas permanecem incertas: a quem foram vendidas as acções? Como foi realizado o contrato de compra e venda? A mesma operação, realizada por outras pessoas, no mesmo espaço de tempo, obteve uma rentabilidade semelhante?

Pois bem, Cavaco recusa-se, para já, a responder a estas questões. As sondagens são claramente favoráveis ao actual Presidente; os debates televisivos correram-lhe de feição. Como tal, apenas um evento imprevisível poderia atrapalhar a sua reeleição logo à primeira volta. Não cremos que o caso BPN seja esse evento que possa gerar uma reviravolta nas sondagens. Mas uma coisa é garantida: este problema em nada beneficia Cavaco. Pelo que não se compreende a sua recusa em dar mais esclarecimentos sobre o caso, permitindo que os seus adversários o continuem a atacar com o tema. Por isso, Cavaco apenas teria a ganhar em prestar os devidos esclarecimentos. O seu silêncio apenas é compreensível à luz de uma razão: é que o seu silêncio pretende ocultar algo que ainda não veio a público e que lhe é prejudicial.

Além desta trapalhada, Cavaco envolveu-se, voluntariamente, noutra. Ou seja, quando questionado sobre os problemas do BPN, Cavaco, acossado, apressou-se a criticar a actual gestão do Banco. Uma critica que poderia acalmar a turbulência por alguns instantes. Sucede que Cavaco convidou para a sua Comissão de Honra o Presidente da CGD, Faria de Oliveira, e o vice-presidente, Norberto Rosa. Ora, sabendo que a CGD é responsável pela gestão do BPN, a que preside um dos seus vice-presidentes (Francisco Bandeira), o actual Presidente da República envolveu-se na malha de incoerência. Por um lado, critica a administração do BPN pelos problemas que o banco actualmente enfrenta; por outro, convida alguns dos responsáveis pela gestão do banco a fazerem parte da sua Comissão de Honra.

Não fosse isto suficiente, Cavaco convidou ainda alguns ex-dirigentes do BPN para a sua Comissão de Honra. O que, na nossa opinião, é ainda mais grave. É que a actual administração do BPN está a tentar solucionar os problemas que lhe foram causados pelas anteriores administrações, problemas esses que, nalguns casos, configuram crimes. É certo que dos nomes presentes na Comissão de Honra de Cavaco, nenhum deles é arguido no processo BPN. Mas se o Direito não pode exigir comportamentos moralmente irrepreensíveis – mas tão-só legalmente irrepreensíveis -, a Política, por outro lado, não se compadece com alguns tipos de comportamento. E são esses que Cavaco precisa de esclarecer.

Sem comentários: