A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A situação já está a cheirar mal

Que a situação está má para todos já sabemos e que muito sacrifício e esforço se pede constantemente a quem tem de suportar a maldita crise, também parece que estamos a par. Mas como o povo português está ciente da sua capacidade de desenrasque, cujo florescimento remonta a tempos idos em que a sociedade, já madrasta para com o país à beira-mar plantado, obrigou os portugueses, pequeninos e simpáticos a dar o litro e a puxar pela cabeça por forma a criar embustes e esquemas que lhes possibilitassem contornar os anos agrestes que fomos sempre vivendo ao longo destes séculos.

Por isso agora, mais do que nunca, essas capacidades são necessárias e imprescindíveis para sobrevivermos todos à época das vacas magras. Então o que notamos? Negócios adormecidos a desabrochar em tudo quanto é sítio, um comércio de carência para as horas de maior aperto quando já nada parece sorrir. Negócios que levantam dúvidas e desconfianças sobre as verdadeiras intenções, na maioria das vezes pintadas com tons de solidariedade e boa-fé.

Eu saí de casa decidida a ver e cheirar com os meus próprios sentidos no que se está a transformar a crise. Andados 15 minutos tropecei numa loja de compra de ouro usado. Esta realidade sufoca todos os espaços comerciais que estavam desamparados e abandonados por força de outros comércios menos eficazes não suportarem os seus custos de rendas e manutenção. E uma coisa curiosa neste novo mercado de jóias e preciosidades usadas é a aparente inexistência de problemas de concorrência pois, tal como acontece com as lojas dos chineses, em cada rua há duas a três lojas de compra de ouro usado. Estaremos nós assim tão ricos que nem damos conta? Porque se se justifica esta proliferação de estabelecimentos, então significa que as pessoas estão a recorrer com muita frequência à venda das jóias que têm encostadas e sem uso em casa para sarar uma parte do golpe na economia familiar.

Entre esta praga, ainda por se saber se justificada ou não, surge uma outra, cuja abordagem requer algum cuidado salvaguardando-se deste modo as reservas de sensibilidade do leitor. Quem se atreve a sair de casa terá também sido confrontado com outro negócio menos revigorado noutras alturas que é o da venda de coisas usadas, coisas no geral. Segundo o meu entender, todos agradecemos que haja um sítio onde possamos depositar roupas e móveis ou electrodomésticos que já não queremos, aliando a isso uma sensação de dever cívico cumprido por acreditarmos estar a ajudar pessoas que, com mais dificuldades que nós, podem retirar algum uso das coisas que despachamos. Agora: perto de minha casa, numa antiga oficina cujas respectivas áreas se assemelham mais a um armazém, alguém decidiu criar um desses centros de depósito de tralha usada, mas algo massivo, em grande. Há uns dias passei em frente desse negócio, do outro lado da estrada que terá de largura mais do que 10 metros certamente e não havia muito vento, apenas uma leve chuva. As coisas, quase postas no passeio parece que obrigam quem passa a tropeçar nelas para se dar conta de que, ali, há objectos que lhe podem ser úteis e essas mesmas coisas, todas juntas, em grandes quantidades, emanam um odor próprio dos objectos a que já ninguém pega há muito tempo, ou seja, mofo, mofo que alcança mais de 10 metros de distância.

Para quem de direito: ponham-me mão nisto se faz favor…ajudar sim, mas intoxicar os transeuntes não.

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