A Revolução na Tunísia teve um efeito sobre os restantes povos dos países árabes: antes, o povo resignava-se perante as suas condições de vida miseráveis, perante o autoritarismo, perante a falta de liberdade: o regime brandia o exército numa das mãos e o povo tremia. Em Janeiro, o povo tunisino esmagou o medo: saiu à rua e triunfou. Demonstrou a todo o povo árabe o poder da crença – o poder de acreditar num ideal: a liberdade, a democracia. Demonstrou que a democracia prosperando por entre os Países Árabes não é um mero sonho de intelectuais utópicos: é a concretização da vontade do povo árabe, do povo por si, livremente organizado, agindo como um todo, sem uma força inspiradora que lhes insufle a vontade a não ser o ideal da liberdade.
E este movimento que irrompe em todo o Mundo Árabe deve fazer pensar os Europeus: deve fazer pensar uma certa direita xenófoba que emerge cada vez mais na Europa: na Holanda, por exemplo, os radicais de Geert Wilders, um anti-islamista, partilham o poder com o centro-direita. Espalham a sua mensagem populista entre o povo e, aqui e além, vai penetrando. Um pouco por toda a Europa, o discurso anti-islamista vai prosperando, negligenciando as consequências que, no futuro, daí poderão advir.
Pois bem: o povo árabe demonstra agora o seu verdadeiro carácter. Não se tratam de islamistas radicais, de meros títeres de meia dúzia de extremistas religiosos: a sua voz permaneceu calada todo este tempo; mas porque havia um regime ditatorial, opressor, autoritário que esmagava essa voz e o povo remetia-se ao medo e ao silêncio. Os dirigentes destes regimes não educavam o povo, não o cultivavam; apontavam-lhe apenas um caminho: a religião. Na ausência de outras forças inspiradoras, a religião foi durante muito tempo o ideal que conferiu sentido à vida do povo árabe. Não mais: o pensamento do povo árabe não se dirige ao radicalismo religioso, à corrupção, dirige-se sim à aspiração da liberdade, da dignidade do homem, da democracia. E o povo não deixará mais que outras pessoas se interponham entre si e a sua vontade e que falem em seu nome.
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